terça-feira, 30 de junho de 2015

O DESENCANTO DE CERTA JUVENTUDE "NEM-NEM"

Sandra Starling

O Tempo
 
Em minhas andanças dos últimos tempos, tenho ficado angustiada com o que observo estar acontecendo entre jovens de classe média. 

Pertenci a uma geração em que as meninas não faziam curso superior, quando muito estudavam pedagogia, e se preparavam para ser mães de família. 

Fui exceção à regra porque sempre adorei estudar e sempre trabalhei fora. (Até hoje estudo muito e ainda sofro pesadamente por já estar aposentada. Gostaria de fazer ainda uma porção de coisas. Mas ninguém quer dar um bom emprego a alguém de mais de 70 anos).

Pouco depois, isso mudou, e todos, rapazes e moças, demandavam os cursos superiores e empregos bons.

 É claro que estou me referindo aos de classe média: os pobres ficavam retidos nos cursos elementares ou eram obrigados a aceitar o emprego que aparecesse, sem qualquer qualificação mais sofisticada. 

E os ricos? Bem, os ricos sempre têm direito a escolher.

 Agora vejo crescer um fenômeno desconcertante e que não se restringe a este ou àquele país do mundo.

OS DOIS LADOS

De um lado, o desespero dos que querem estudar e que, em busca de seu diploma de curso superior, aceitam bolsas que vão ter de pagar depois de formados.

 Dia desses, encontrei uma fluminense nessa situação: a jovem, já mãe de uma filha, casada, está terminando sua tese de doutoramento ainda pagando o curso superior que conseguiu fazer a duras penas.

 Escusado dizer que ela ainda acumula todos os seus esforços com um emprego que lhe demanda muita atenção. 

Mas ela ainda tem sorte, porque a maioria dos jovens pobres entre 18 e 25 anos são os que mais sofrem com o desemprego que se abate sobre as sociedades, dominadas pela loucura do capital financeiro e dos governantes que a ele servem. 

Então, você encontra legiões de desesperados buscando qualquer “bico” para ganhar qualquer coisa e sobreviver.

Doutro lado, um grupo grande de jovens de classe média que nem querem estudar, nem querem trabalhar. 

São denominados juventude “nem-nem”. 

Têm todas as condições para ir a boas universidades e não conseguem se adaptar a nenhuma rotina de estudo.

 Têm condições de obter um razoável emprego e optam por vagar por aí, sem eira nem beira.

NEM ESTUDAM NEM TRABALHAM

Conheci uma jovem assim em Berlim. 

 Encantadora, fala mais de uma língua, se vira, como dizem eles, por diversos lugares. 

Já morou na Argentina, passou pelo Brasil, frequentou a universidade em Göttingen, na Alemanha, e com pouco tempo largou-a e foi bater pernas no Laos, na Tailândia e no Vietnã. 

Agora, faz trabalhos eventuais como garçonete em Berlim.

Estou também às voltas com um jovem que está do mesmo jeito, matriculado numa boa universidade nos Estados Unidos e que não quer fazer coisa alguma.

 Enquanto a mãe dá duro para sustentá-lo e ao irmão, ele fica no lero-lero. 

E o avô pagando caro os cursos em que ele toma bomba sistematicamente.

Conversei muito, recentemente, com os dois, em separado. 

E fiquei chocada com o desencanto de ambos: não têm nenhum ideal, não desejam coisa alguma, nada os move. 

O que pode explicar esse desencanto?

Tribuna da Internet

APERTEM OS CINTOS, PIB PODE CAIR ATÉ 2,2% ESTE ANO

Vicente Nunes

Correio Braziliense
 
Na avaliação de Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da TOV Corretora, veremos, neste ano, ao menos três trimestres consecutivos de queda do Produto Interno Bruto (PIB), algo sem precedentes em pelo menos um quarto de século.

 Se os cálculos dele estiverem corretos, a contração da atividade será de 2,2% em 2015, podendo cair mais 0,5% em 2016. 

Ele ressalta que o governo criou um ambiente tão hostil na economia, que, desde o primeiro trimestre de 2013, os investimentos produtivos só caem.

“Assisti, nas últimas semanas, à apresentação de pelo menos 40 empresas com ações negociadas em bolsa de valores. Somente duas disseram que não cortariam investimentos”, afirma.

 No entender dele, não é apenas o setor privado que está paralisado.

 Todo o setor público — União, estados e municípios — está à míngua, com receitas em queda, tendo que interromper obras. 

O Brasil simplesmente parou.

 “É por isso que o desemprego está em disparada. Não será surpresa se as taxas chegarem ao fim do ano em dois dígitos”, emenda.

LADEIRA ABAIXO

Para Silveira, por mais que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, diga que o ajuste fiscal não está ajudando a afundar a economia, a incapacidade do governo de gastar empurra, sim, o PIB ladeira abaixo. 

“Hoje, simplesmente não existe o gastador de última instância. Os empresários não investem, o governo está cortando gastos e as famílias, reduzindo o consumo”, assinala.

Portanto, quando Levy diz que o país está vivendo uma “ressaca”, e que ela passará, está jogando para a plateia. 

O Brasil está doente e a doença foi provocada nos quatro primeiros anos do governo Dilma. 

Curar o país levará muito mais tempo do que se livrar de uma simples ressaca.

Tribuna da Internet

CORTES DO GOVERNO ATINGEM ALUGUÉIS DE DIPLOMATAS NO EXTERIOR

João Valadares

Correio Braziliense
 
O ajuste fiscal da presidente Dilma Rousseff (PT), que prevê corte de gastos do governo e elevação de impostos para aumentar a receita, atingiu os servidores do Itamaraty, incluindo diplomatas que trabalham em postos no exterior classificados como A e B.

 A tesoura ocorre no subsídio da chamada Residência Funcional (RF).

 O Itamaraty gasta por ano US$ 64,54 milhões com auxílio-moradia e paga uma média de US$ 2,9 mil por contrato. 

Pela nova regra, dependendo do valor do aluguel, os servidores do Itamaraty que cumprem missão em cidades com melhor qualidade de vida vão ter de desembolsar até 30% do valor total.

A decisão, publicada em 8 de junho, já atinge aqueles que vão renovar os contratos agora.

 A chiadeira é grande, principalmente daqueles que têm filhos e desempenham papel de representação. 

Nesses casos, alegam que o imóvel precisa ter um bom padrão. 

Pela regra antiga, a pasta cobria 90% até o limite para cada posto. 

Era um incentivo escolher uma residência com um preço perto do teto estabelecido, uma vez que o funcionário arcaria com 10% do salário de qualquer maneira.

NOVO CÁLCULO

Agora, os cálculos mudam em razão do valor global da locação. 

O Itamaraty só se compromete em reembolsar integralmente a quantia paga se o servidor escolher morar numa residência cujo valor corresponda a até 70% do limite estabelecido por categoria funcional em cada posto.

O aluguel que se situar numa faixa acima de 70% e até 80% do teto, o funcionário terá que arcar com 10% do valor.

 Quando o contrato estiver acima de 80% e até 90% do limite, o desembolso do funcionário será de 20%. 

Aqueles que escolherem morar em locais com cifras acima de 90% do teto, o Itamaraty só se compromete com o pagamento de 70% do aluguel.

“Não queremos luxo. O fato é que estamos em missão diplomática. Eu tenho filho e não posso alugar um quarto e sala. Os preços aqui são exorbitantes. Fiz uma programação e já vou ser atingido agora”, afirmou um diplomata brasileiro que mora em Nova York.

###

NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– Vejam que país surrealista. Paga auxílio moradia a todos os magistrados, mesmo os que têm casa própria na comarca, mas fica barganhando o aluguel dos diplomatas que o representam no exterior, depois de o governo Lula ter criado uma série de embaixadas totalmente desnecessárias. (C.N.)

Tribuna da Internet

LULA DESTRÓI O FRÁGIL RELACIONAMENTO ENTRE O PT E O GOVERNO

Carlos Newton
 
De repente, o ex-presidente Luiz Inácio da Silva está de volta à política, numa perfomance avassaladora. 

No desespero para evitar o aprofundamento das investigações da operação Lava Jato, Lula mostra que está disposto a tudo e não respeita ninguém, vai atropelando quem estiver pela frente.

Enquanto a presidente Dilma Rousseff corta um dobrado nos Estados Unidos, tentando convencer o governo e os investidores a darem uma chance ao Brasil, Lula assume o governo paralelo em Brasília, convoca o marqueteiro João Santana, que está trabalhando na campanha presidencial da Argentina, e determina a ele que o próximo programa do PT na televisão se transforme numa reação do partido à Lava Jato.

Depois, se reuniu com a direção petista e com as bancadas no Congresso, para determinar como será o comportamento do PT daqui para frente.

É como se o governo e o partido subitamente passassem a ser varridos por um tsunami político, sob alegação de que não se pode mais suportar o massacre das investigações sobre corrupção.

O DITADOR SOLITÁRIO

Lula tem temperamento ditatorial, não ouve ninguém, seu apreço à democracia é uma peça de ficção. Desde a criação do PT, jamais permitiu que surgisse uma liderança que pudesse lhe fazer sombra, o partido é dele e estamos conversados.

Na reunião de ontem, exigiu que deputados e senadores sejam contundentes na defesa do governo e do partido, subindo à tribuna ou dando entrevistas contra as “arbitrariedades” do juiz Sérgio Moro, que tem mantido na cadeia empresários e representantes do PT, como o ex-tesoureiro João Vaccari Neto, para forçá-los à delação premiada, na versão lulática.

Antes da reunião, já tinha mandado o PT convocar três ministros de Dilma – José Eduardo Cardozo, da Justiça, Miguel Rossetto, da Secretaria-Geral da Presidência, e Rubens Barbosa, do Planejamento.

SONHAR NÃO É PROIBIDO

Lula pretende que o partido obrigue Cardozo a interferir na Polícia Federal, para que as investigações poupem o PT e levantem a corrupção dos partidos de oposição, especialmente o PSDB. 

Quer exigir de Rossetto uma grande pressão dos movimentos sociais a favor do governo e do PT. 

E pretende que Barbosa amacie o ajuste fiscal, para atende as centrais sindicais, como se fosse obra fácil.

Na sua ignorância sesquipedal, Lula desconhece que Cardozo não manda na Polícia Federal e também não sabe que desde o início as investigações não são feitas apenas pela PF, mas pela força-tarefa, que inclui a Procuradoria da República, regional Paraná. 

Além disso, até agora não entendeu que é a força-tarefa que pede as prisões, o juiz Sérgio Moro apenas despacha favoravelmente.

Lula também não percebe que Rossetto e Barbosa sonham em atender os movimentos sociais e as centrais sindicais, mas não têm encontrado receptividade, em função da crise política, econômica e moral do governo. 

De que adianta pedir o que eles já tentam fazer e não conseguem?

NINGUÉM ENFRENTA LULA

O pior é que, no PT e no governo, ninguém tem coragem de enfrentar Lula. 

Nem mesmo a presidente Dilma Rousseff, que logo atendeu a conclamação dele e comprou uma briga com a Justiça, ao afirmar ontem que não respeita delator. 

Tentar desmoralizar a Justiça não é papel de chefe de governo, especialmente numa crise tão delicada. 

Dilma se precipitou.

Por fim, não se sabe as reais consequências desta tresloucada estratégia made in Instituto Lula, mas pode-se dizer, sem medo de errar, que o primeiro resultado será destruir o frágil relacionamento que ainda existia entre o PT o governo.

Tribuna da Internet

segunda-feira, 29 de junho de 2015

RICARDO PESSOA, DA UTC ENGENHARIA, ARRASA EDINHO SILVA E EXPLODE O ESQUEMA DO PT

Pedro do CouttoArte - Capa lista do delator

O primeiro capítulo da delação premiada do empresário Ricardo Pessoa, focalizado em monumental reportagem de Robson Bonin, decretou praticamente a demissão do ministro Edinho Silva e detonou publicamente o esquema de corrupção montado pelo PT. 

A reportagem encontra-se numa sequência de páginas da Revista Veja que circulou sábado e está nas bancas. 

Quando me referi ao primeiro capítulo foi por considerar que a delação premiada vai prosseguir e será dividida em várias etapas.

 Porque ninguém detentor de tantos segredos, como Ricardo Pessoa, vai divulgar o que sabe de uma só vez.

A importância da matéria publicada é tão grande que a revista Veja a colocou em seu site na Internet, sexta-feira, possibilitando assim que O Globo, a Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo também a publicassem no sábado. 

Uma bomba, como se diz no jornalismo, tão forte que levou a presidente Dilma a retardar seu voo para os EUA, a fim de buscar esclarecimentos por parte de alguns acusados de receber sombrias doações por parte do Clube das Empreiteiras, presidido pelo dono da UTC Engenharia.

Ficou péssima a imagem de Edinho Silva, porque ao procurar Ricardo Pessoa, segundo este dirigiu ameaça frontal ao empresário, condicionando a continuidade dos seus contratos com a Petrobrás a recursos financeiros destinados ao universo da legenda partidária, mas cujo destino real não parece ter sido somente este.

LEGAIS E ILEGAIS

Há doações e doações.

 É preciso separar as legais daquelas ilegais.

 E estas aconteceram, tanto assim que os que as receberam procuraram ocultar as provas dos fatos, mas esqueceram-se das imagens gravadas pelos aparelhos instalados nas salas e provavelmente também em restaurantes onde encontros aconteceram.

Caso, por exemplo, de João Vaccari Neto, que picotava as importâncias exigidas escritas em pedaços de papel para evitar gravações sonoras. 

Rabiscava os papéis e os picotava, jogando-os em latas de lixo diversas. 

Não adiantou o esforço de blindagem, as câmeras da UTC captaram e arquivaram suas imagens que conduzem seu autor ao campo da ilegalidade praticada e de sua confissão explícita.

As explicações fornecidas por Edinho Silva, Aloizio Mercadante e José Eduardo Cardoso (reportagem de Cristiane Jungblat, O Globo de domingo) não convencem a pessoa alguma no que diz respeito a sua inocência. 

 Principalmente a versão de Edinho Silva, que não nega o fato, preferindo enveredar pelo caminho do que ele chamou de vazamento seletivo voltado para a luta política.

LUTA POLÍTICA

Qual luta política? 

Em primeiro lugar, não se trata desse tipo de embate, mas sim de um processo de sórdida corrupção, praticada a base da vantagem direta feita sob a capa de ameaça explícita. 

O caso de Edinho Silva é muito mais grave que o de Aloizio Mercadante, pois este foi apontado como tendo recebido do Clube das Empreiteiras uma doação de 500 mil reais.

 Mas o caso de Edinho Silva é muitas vezes mais amplo do que este.

E o que dizer de João Vaccari Neto aplaudido de pé no encontro do PT em Salvador? 

O ex-senador Gim Argelo, num torpe episódio é acusado por Pessoa de ter recebido 5 milhões de reais para sepultar a primeira CPI da Petrobrás no Congresso Nacional.

 Além disso, Ricardo Pessoa aponta José Dirceu como personagem de falsa consultoria, fórmula usada para encobrir propinas por sua influência no governo, embora já se encontrasse condenado pelo Supremo Tribunal Federal.

COMPERJ

O episódio da construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, orçado em 2006 em 6,1 bilhões de dólares, já passa hoje de 30 bilhões de dólares e ainda não foi concluído ao longo de nove anos. 

Nesse Complexo Industrial a UTC integrava o grupo construtor ao lado da Odebrecht e da Andrade Gutierrez. 

Ricardo Pessoa revelou que os subornos iniciais chegaram a 15 milhões de reais, tendo ele sido encarregado de pagar a parte destinada ao PT, nela não incluídas parcelas posteriores destinadas a outros partidos e seus representantes. 

Quer dizer: um assalto avassalador, com partidos e políticos investidos no papel de assaltantes.

E assim conclui-se a primeira parte da história da delação premiada do dono da UTC, solução aprovada pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal. 

Produziu fortes reflexos no governo Dilma Rousseff e certamente, produzirá outros talvez ainda mais intensos. 

Afinal de contas, a queda inevitável do ministro Edinho Silva deverá estar entre eles.

Pode não ser demitido pela presidente da República, porém deverá demitir-se, já que sua presença no Executivo tornará o Palácio do Planalto cada vez mais vulnerável aos ataques da oposição, que não é liderada pelo PSDB ou por ninguém em especial mas sim pela rejeição destacada na reação da própria população brasileira de forma maciça como as pesquisas do Datafolha estão apontando. 

Se Dilma Rousseff já se encontrava mal no último levantamento, agora sua posição só pode ser pior, e agravada, se for o caso, pela presença no ministério de um personagem tão indesejado quanto indesejável como o titular da Comunicação Social.

Tribuna da Internet

domingo, 28 de junho de 2015

CONSULTORES ALERTAM JOAQUIM LEVY SOBRE OBJETIVOS INALCANÇÁVEIS

Pedro do Coutto
 
Ao longo de um encontro em Brasília com dezesseis consultores econômicos de bancos e de setores de produção, reportagem de Geralda Doca e Aliane Oliveira, O Globo, edição de sexta-feira, o ministro Joaquim Levy deparou-se com questionamentos a respeito da duração e o caráter da crise que atinge o país. Sob o ângulo político, o efeito de discordância projeta-se sensivelmente na área do governo, envolvendo-o numa sombra de dúvida.

O titular da Fazenda ouviu igualmente opiniões de que os objetivos que traçou para tentar superar as dificuldades são inalcançáveis. 

O tom de reunião, assim, transformou-se surpreendentemente em manifestação de pessimismo, com o qual certamente Joaquim Levy não contava.

 As maiores contestações partiram de Cláudio Adilson Gonçalves, da MCM Associados, Carlos Tadeu de Freitas, da Confederação Nacional do Comércio, e Flávio Castelo Branco, da Confederação Nacional da Indústria. 

O ajuste fiscal pretendido é inalcançável na opinião de Gonçalves. Houve uma convergência de opiniões nesse sentido.

Reforçada, aliás, diante do déficit de 8 bilhões de reais entre receita e despesa registrado no mês de maio, preocupação que se estendeu ao Secretário do Tesouro Nacional, Marcelo Saintive, ao afirmar – neste ponto a matéria está assinada por Marta Beck e Gabriela Valente – que o governo estuda novas medidas e ainda pode contar com receitas extraordinárias para perseguir o esforço fiscal. 

Não revelou quais são essas receitas, mas frisou que, evidentemente, o quadro é difícil, porém acreditamos não ser este o momento ideal para a revisão da meta.

SÓ NO PAPEL…

A teoria projetada pelo ministro da Fazenda parece funcionar apenas no papel e nos computadores da esplanada de Brasília – panorama este, aliás, tipicamente brasileiro. 

Enseja, a meu ver, a ideia de criar-se um museu das ideias perdidas.

Inclusive, Marcelo Saintive destacou existir um grau muito grande de incerteza na economia e – prosseguiu – precisamos olhar passo a passo como vai ser a performance da receita. 

Tudo isso é necessário para fazer uma avaliação correta. 

Como se observa, a perspectiva do secretário do Tesouro não se ajusta plenamente à revelada por Joaquim Levy, para quem os riscos de novos gastos afeta muito a confiança dos investidores.

Como se vê, o ministro da Fazenda adotou um rumo genérico nas suas declarações. 

Escapou, ou pelo menos tentou escapar de afirmações mais concretas. 

Afinal de contas, ele concorda ou discorda de Marcelo Saintive? 

Está ou não preocupado com o desempenho da arrecadação no final de contas?

COISAS BACANAS

Sobre o conteúdo do encontro com os consultores, Joaquim Levy classificou de ótimo. 

Ouvi coisas bacanas – enfatizou.

 Porém, a preocupação geral e dominante que as repórteres identificaram foi quando a economia brasileira voltará a crescer?

 Já que o decréscimo está configurado na retração do mercado de trabalho, numa terceira reportagem, também de O Globo, esta de Luciane e Fábio Teixeira. 

Eles, com base em dados do IBGE, assinalam que em maio o desemprego subiu para 6,7% e a renda proporcionada pelo trabalho cai 5 pontos.

Tais fatores, claro, influem diretamente no consumo e portanto na produção, além de acrescentarem mais pontos negativos na popularidade e aprovação do governo Dilma Rousseff. 

A impressão que os episódios ocorridos nos últimos dias deixam é a de que o Poder Executivo não está executando porque lhe está faltando tanto um rumo concretamente definido quanto a implantação de mais realismo e menos fantasia teórica.

Tribuna da Internet

NINGUÉM VAI INVESTIR NO BRASIL, DIZ O PRESIDENTE DA MERCEDES

Raquel Landim
  Folha

Contrariando o discurso morno de dirigentes de multinacionais, o alemão Phillipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz no Brasil, não mede palavras para falar de sua desilusão com o país e com o governo Dilma.

 “O país perdeu a previsibilidade com as mudanças nas premissas da política econômica. Voltamos uns 20 anos no tempo”, disse Schiemer à Folha. “O PSDB vota contra suas crenças e o PT também. Você acha que alguém vai se arriscar a investir?”.

O pessimismo do executivo – que já está em sua terceira temporada no Brasil– é explicado pela queda de mais de 40% na venda de caminhões e pelo fim dos subsídios do governo para o setor automotivo.

“É a pior crise dos últimos anos: volume caindo, preço estável e custos aumentando. Estou sendo espremido de todos os lados”, disse Schiemer, que cortou 500 vagas no mês passado e diz que tem mais 2 mil funcionários sem trabalho na fábrica.

O executivo admite que a Mercedes-Benz atualmente vê o Brasil com mais “desconfiança” e faz uma crítica indireta à presidente Dilma, que defende que o país foi afetado pela crise global. 

“Não sei onde enxergam crise lá fora. O que temos aqui é um problema caseiro”.

O sr. disse aos funcionários em um evento que a Mercedes-Benz vive sua pior crise no Brasil. É verdade?

Sem dúvida, estamos na pior crise dos últimos 20 anos.

 Temos vários problemas.

 O primeiro é a queda de mercado. 

De janeiro a maio, as vendas de caminhões caíram 44%, enquanto as de ônibus cederam 27%.

 É uma queda no mesmo patamar do mercado, mas muito expressiva.

 As empresas acreditaram no Brasil e a capacidade instalada excede muito a demanda.

 Não conseguimos aumentar preços, porque a concorrência é intensa. 

Por outro lado, a mentalidade inflacionária do Brasil é muito forte e os custos sobem quase automaticamente. 

Hoje tenho o pior cenário possível: volume caindo, preço estável e custos aumentando. 

Estou sendo espremido de todos os lados. A saída para isso é muito difícil.

Funcionários acamparam na porta da fábrica. O sr. se sente culpado?

Pessoalmente não é nada agradável. 

Tenho que pensar que sou responsável não por 500 pessoas, mas por 11 mil.

 Tenho a consciência tranquila porque tratamos o assunto com transparência. 

Desde o ano passado, demos inúmeras chances para aceitar um PDV (plano de desligamento voluntário).

Por que a venda de caminhões despencou no Brasil?

O mercado está muito alinhado com o ritmo da economia porque o transporte de bens no Brasil é feito por caminhão. 

Mas, se a economia não cresce e existe um clima de desconfiança, os empresários param de investir. 

E a primeira coisa que cortam é o caminhão novo. 

Além disso, o governo cortou os subsídios que mantinham os juros baixos e a maior parte dos caminhões é adquirida com financiamento. 

A redução dos subsídios para a indústria faz parte do ajuste fiscal, mas tem um efeito no mercado.

O sr. disse que existe um clima de desconfiança.

 Por quê?

O país perdeu a previsibilidade. 

Nos últimos anos, tivemos muitas mudanças nas premissas da política econômica e ninguém tem segurança do que vai acontecer.

 Há 10 anos, a inflação estava baixa, as contas públicas equilibradas e nós sabíamos o que viria pela frente. 

Há 20 anos, não tínhamos nada disso. 

Acredito que voltamos uns 20 anos no tempo.

 Também não há confiança porque o quadro político é muito complicado.

 O PSDB vota contra suas crenças e o PT também. Você acha que alguém vai investir nesse cenário? É melhor ficar parado.

(entrevista enviada pelo comentarista Guilherme Almeida)

Tribuna da Internet

VISÃO DO MERCADO: "RUIM COM JOAQUIM LEVY, PIOR SEM ELE"


Vicente Nunes


Correio Braziliense

Mesmo que o ministro Joaquim Levy minimize a gravidade da situação, o mercado financeiro vai se apegar ao discurso dele com todas as forças.

 A visão é de que, ruim com o ministro, pior sem ele. 

Ao se manter no cargo, num governo fraco politicamente, Levy funciona como a garantia que haverá o mínimo de racionalidade na política econômica.

 Essa dependência do mercado é tamanha, que a maior parte dos analistas aceita, sem traumas, a redução da meta de superávit primário deste ano para algo entre 0,6% e 0,7% do PIB, metade do 1,2% prometido pelo ministro.

O que importa, na visão dos economistas privados, é que Dilma não volte a se cercar de pessoas com pensamento semelhante ao de Guido Mantega e Arno Augustin, que, nos cargos de ministro da Fazenda e de Secretário do Tesouro Nacional, respectivamente, recorreram a maquiagens e a truques fiscais para mostrar uma saúde que as contas públicas não tinham.

 Essas manobras, por sinal, são a maior ameaça ao mandato de Dilma, segundo os estudos de analistas de peso. 

Se ela tiver as contas de 2014 rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), a oposição terá um forte argumento para pedir o impeachment.

O LAMAÇAL AVANÇA…

Em meio à tempestade, a presidente tem procurado mostrar equilíbrio na condução do governo neste segundo mandato. 

Mas sabe que viverá um inferno. 

Não há só uma notícia boa no horizonte, por mais que o Palácio do Planalto tente criá-la. 

Não bastassem o desastre econômico e as sovas que o Congresso lhe tem imposto, há o risco de o lamaçal oriundo da corrupção na Petrobras engolfar de vez o governo.

A prisão de Marcelo Odebrecht, presidente da maior construtora do país, por meio da Operação Lava-Jato, tornou-se uma espada apontada para o coração da presidente petista. 

Se ele resolver abrir a boca, Brasília vai ruir. 

Dilma tem a exata noção do tamanho do risco que corre. Mas, nesse caso, só lhe resta contar com a sorte, o que é muito pouco.

Tribuna da Internet

sábado, 27 de junho de 2015

O CONTO DO LIVRE COMÉRCIO, EM QUE SEMPRE CAÍMOS

Mauro Santayana

(Hoje em Dia)
 
Se há um “conto do vigário” recorrente, no qual temos caído, sempre, historicamente, ele é o do “livre” comércio. 

A tradição de negociar com os de fora em condição de inferioridade, como se fosse tremenda vantagem, é uma marca cultural brasileira, que deve ter se inaugurado quando, na areia, contemplando as primeiras caravelas, os nativos destas terras entregaram aos portugueses confessáveis e inconfessáveis riquezas, em troca de espelhinhos e miçangas.

A presidente Dilma Roussef retornou, há poucos dias, da Cúpula entre a CELAC – Comunidade dos Estados da América Latina e do Caribe, e a União Europeia, realizada na semana passada, em Bruxelas.

Na Bélgica, ela tinha também a expectativa de fazer avançar as negociações em torno do acordo de comércio entre o Mercosul e a União Europeia, mas voltou de mãos abanando.

Na linha do “faça o que eu digo, mas não o que eu faço”, os europeus, como fazem há anos, depois de acusar o Mercosul e o Brasil de protecionismo e de estar atrasando as negociações, pediram para transferir a próxima reunião para outubro.

ABRIR O MERCOSUL

Muito mais fechados do que querem fazer parecer em jornais brasileiros que divulgam – e muitas vezes defendem, abertamente – suas posições, os europeus não buscam um acordo equilibrado e tem suas próprias dificuldades para chegar a um consenso.

O que a UE quer é abrir o mercado do Mercosul, com um PIB de 3 trilhões de dólares (2,3 trilhões do Brasil) às suas exportações de máquinas e serviços, sem levantar suas barreiras às exportações do Mercosul, mesmo que estas em sua maioria sejam de commodities agrícolas de baixo valor agregado.

Ao contrário da nossa, a agricultura europeia é altamente subsidiada, não apenas em seus principais países, mas também em pequenas nações que entraram para a UE e a OTAN recentemente, em troca de seu afastamento da órbita russa.

UMA BALELA

O “livre” comércio de europeus e norte-americanos é uma balela.

Uns e outros defendem seus interesses, tanto é que o propalado acordo transcontinental entre a Europa e os Estados Unidos está enfrentando cada vez mais resistências dos dois lados do Atlântico.

E fazem o mesmo com relação ao Brasil, como pode ser visto, com dois exemplos, entre muitos outros:
Para vender aos EUA aviões – que já contam com muitas peças Made in USA – a Embraer teve que, primeiro, montar uma fábrica na Flórida, e associar-se de forma minoritária com uma empresa norte-americana.

E, agora, o empreendedor brasileiro-norte-americano David Nelleman, da AZUL, teve de associar-se também minoritariamente ao português Humberto Pedrosa para disputar e ganhar a privatização da TAP – Transportes Aéreos Portugueses (nascidos em outro continente não podem controlar companhias de aviação europeias).

Enquanto isso, por aqui, esquemas acionários mirabolantes permitem, de fato, o controle externo de companhias aéreas nacionais, e parlamentares defendem, ferrenhamente, no Congresso, o fim das restrições à venda de terras para empresas e cidadãos estrangeiros.

Tribuna da Internet

COORDENADOR DO CARTEL FEZ DEPOIMENTO DEMOLIDOR

Deu na VejaArte - Capa lista do delator

O engenheiro Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, tem contratos bilionários com o governo, é apontado como o chefe do clube dos empreiteiros que se organizaram para saquear a Petrobras e cliente das palestras do ex-presidente Lula. 

Desde a sua prisão, em novembro passado, ele ameaça contar com riqueza de detalhes como petistas e governistas graúdos se beneficiaram do maior esquema de corrupção da história do país.
Nos últimos meses, Pessoa pressionou os detentores do poder – por meio de bilhetes escritos a mão – a ajudá-lo a sair da cadeia e livrá-lo de uma condenação pesada. 

Ao mesmo tempo, começou a negociar com as autoridades um acordo de delação premiada. o empresário se recusava a revelar o muito que testemunhou graças ao acesso privilegiado aos gabinetes mais importantes de Brasília.

O Ministério Público queria extrair dele todos os segredos da engrenagem criminosa que desviou pelo menos 6 bilhões de reais dos cofres públicos. Essa negociação arrastada e difícil acabou na semana passada, quando o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), homologou o acordo de colaboração entre o empresário e os procuradores.

CONTÉUDO EXPLOSIVO

Veja teve acesso aos termos desse acerto.

 O conteúdo é demolidor. 

As confissões do empreiteiro deram origem a 40 anexos recheados de planilhas e documentos que registram o caminho do dinheiro sujo. 

Em cinco dias de depoimentos prestados em Brasília, Pessoa descreveu como financiou campanhas à margem da lei e distribuiu propinas. Ele disse que usou dinheiro do petrolão para bancar despesas de 18 figuras coroadas da República.

Foi com a verba desviada da estatal que a UTC doou dinheiro para as campanhas de Lula em 2006 e de Dilma em 2014. 

Foi com ela também que garantiu o repasse de 3,2 milhões de reais a José Dirceu, uma ajudinha providencial para que o mensaleiro pagasse suas despesas pessoais. 

A UTC ascendeu ao panteão das grandes empreiteiras nacionais nos governos do PT. Ao Ministério Público, Pessoa fez questão de registrar que essa caminhada foi pavimentada com propinas. Altas somas.

A LISTA DOS FAVORECIDOS


Campanha de Dilma em 2014 7,5 milhões de reais
Campanha de Lula em 2006 2,4 milhões de reais
Ministro Edinho Silva (PT) *
Ministro Aloizio Mercadante (PT) 250.000 reais
Senador Fernando Collor (PTB) 20 milhões de reais
Senador Edison Lobão (PMDB) 1 milhão de reais
Senador Gim Argello (PTB) 5 milhões de reais
Senador Ciro Nogueira (PP) 2 milhões de reais
Senador Aloysio Nunes (PSDB) 200.000 reais
Senador Benedito de Lira (PP) 400.000 reais
Deputado José de Fillipi (PT) 750.000 reais
Deputado Arthur Lira (PP) 1 milhão de reais
Deputado Júlio Delgado (PSB) 150.000 reais
Deputado Dudu da Fonte (PP) 300.000 reais
Prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) 2,6 milhões de reais
O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto 15 milhões de reais
O ex-ministro José Dirceu 3,2 milhões de reais
O ex-presidente da Transpetro Sergio Machado 1 milhão de reais  

* Como tesoureiro, arrecadou dinheiro para a campanha de Dilma de 2014

###

NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A quantia que mais desperta atenção são os R$ 20 milhões atribuídos ao senador Collor. Que vantagem teria levado a empreiteira UTC a oferecer tamanha propina ao parlamentar? Talvez a explicação esteja no corpo da matéria, ao qual não tivemos acesso, porque não temos assinatura da Veja. Quem souber, por favor informe. (C.N).