segunda-feira, 31 de agosto de 2015

PETRÔNIO E DILMA, UMA DIFERENÇA ABISSAL


Sebastião Nery

No dia 7 de maio de 1977, Brasília era um cemitério cívico coveirado pelo general Geisel, que dias antes editara o Pacote de Abril, fechara o Congresso, rasgara a Constituição da Junta Militar e passara a legislar como um Nero em sua Roma tropical. Como sempre fiz ao descer na capital, liguei para Petrônio Portela, presidente do Senado.

– Ótimo. Vamos conversar. Passe amanhã cedo lá em casa.

Fui. Gravador sobre o sofá, quatro horas de uma interminável, direta, vibrante conversa. De quando em quando, ele punha o dedo no stop, desligava e dizia coisas dos bastidores, impublicáveis, apenas para meu conhecimento. Lembro da defesa calorosa do nome do General Figueiredo (era maio de 77, dois anos antes da escolha, e ele ainda não sabia o que Geisel pensava) e uma análise crua, dura sobre o “despenhadeiro” (expressão dele) que seria a chegada do general Sylvio Frota ao Planalto.

Saí de lá, no dia seguinte o “Correio Braziliense” e a “Última Hora” do Rio publicavam páginas inteiras com toda a conversa, sob uma manchete que Oliveira Bastos plantou na primeira página:

“Petrônio, o Bedel do Sistema: porque não aceito a Presidência”.

PRESIDÊNCIA

– “Como? Eu, presidente da República agora em 1978? Mas, para que você não imagine que esteja a fugir de responder frontalmente a uma pergunta saindo pela via oblíqua, eu lhe diria tranquilamente: – acho que se desclassifica para o posto todo aquele que não tiver plena consciência da realidade brasileira e não souber da sua valia ou desvalia para o exercício do cargo maior da República. Eu tenho.

Sei que não teria agora as condições políticas indispensáveis ao exercício do cargo. Seria obrigado, na Presidência, a mostrar sempre os meus trunfos E o presidente da República é um homem que, quando senta na cadeira presidencial, já deve ostentar perante a Nação os seus títulos, os seus atributos, os seus trunfos. E marquei pontos na vida política porque sou um realista. Impõem-se títulos que não ostento”.

É uma pena que Dilma não tenha conversado com Petrônio.

HONESTIDADE

Petrônio falava e o gravador gravava:

– "Eu diria que outro fator fundamental na minha vida pública é a honestidade com que marco minha vida em qualquer plano. Não mistifico, não adultero, não falseio, sou sempre autêntico, autêntico sem aspas, e tenho para mim que isto tem praticamente dissolvido muitas coisas que contra mim se tenta improcedentemente.

No Senado, onde de fato fiz uma carreira como poucos, jamais se arrolou contra mim gesto menos nobre, uma atitude que me abastardasse, ou me desconceituasse perante os meus companheiros. Isso me confere uma certa autoridade, da qual faço uso em qualquer posto que ocupe".

“DILMENTIRA”

Em hipótese alguma Dilma poderia dizer isso, falar como Petrônio falava. Ninguém acredita nela e por isso ninguém a respeita. Quem se tornou a “Dilmentira” perdeu as condições para ser acreditada quando fala. A Dilma das pedaladas é a Dilma das enganações. A Dilma dos números proclamados na campanha é a Dilma dos números desmentidos dias depois.

Na campanha a Dilma mentiu tanto insistentemente, tão desfaçatezmente, que não consegue mais falar em público porque se embrulha nas próprias frases, tropeça na própria alma, está condenada a carregar o João Santana a tiracolo, como uma bolsa, uma Louis Vuitton da mentira, para ler apenas o que ele escreve. Sem João Santana ela engasga.

E o azar dela é que o João Santana está na Argentina. Mentindo lá.

PIAUÍ

Petrônio falava e o gravador documentava:

– “E quanto ao fato de ser do Piauí, considero um privilégio, porque tenho a impressão de que foi daquela ambiência do lar que tive, da ranzinzice de meu pai, da marginalização do meu povo, que aprendi a ser duro, resistente, tenaz, munindo-me do instrumental indispensável a algumas vitórias que considero etapas normais da vida de quem luta”.

Em um país tão generosamente grande, onde felizmente todos somos de tantos Estados diferentes (eu sou um múltiplo baiano-mineiro-carioca), ela se perde e perde o afeto de suas gentes que não se identificam com ela. Não pode mais entrar em um restaurante em Minas ou no Rio Grande, com medo de ser vaiada. Tentou misturar-se com os bois de Barretos. Foi pior.

Deus te perdoe teus muitos pecados, Dilma. Sobretudo os da mentira.

LIVRO

(A íntegra da conversa com Petrônio está em meu livro “Ninguém Me Contou Eu Vi – O Brasil de Getúlio a Dilma” (Editora Geração).

É uma homenagem ao saudoso amigo, que sábado (12-9) faria 90 anos.

Tribuna da Internet

sábado, 29 de agosto de 2015

ANGELA MERKEL, UM EXEMPLO PARA O BRASIL

Marcus Vinicius Motta

Outro dia eu li uma excelente reportagem da New Yorker sobre a chanceler alemã Angela Merkel, onde o jornalista buscava entender as razões para o seu sucesso – chega a ser chamada de “mutti” (mãe) pelos alemães – num país que tomou aversão por cultos à personalidade.

Desde a sua juventude até o atual período como comandante da nação, uma característica é sempre presente: a monotonia. Sim, Angela Merkel é uma mulher comum, uma pessoa “sem graça”, no entanto é justamente isso que faz seu sucesso, porque as pessoas podem saber o que esperar dela e a enxergam como uma delas.

Em 1991 o fotógrafo Herlinde Koelbl começou uma série de fotografias chamada “Traços do Poder” onde retratava políticos alemães e observava como mudavam ao longo de uma década. O fotógrafo conta que homens como o ex-chanceler Gerhard Schröder ou o ex-ministro das relações exteriores Joschka Fischer pareciam cada vez mais tomados pela vaidade, enquanto Merkel, com seus modos desajeitados, não passava nenhuma idéia de vaidade, mas de um poder crescente que vinha de dentro.

EFICIÊNCIA

A vaidade é subjetiva enquanto a ausência desta é objetiva, daí que Merkel é tão eficiente enquanto outros políticos parecem se perder nas liturgias e rapapés do poder.

Essa normalidade é vista em vários outros países – ainda que exista a vaidade, que é de cada pessoa – como no caso de deputados suecos que moram numa espécie de república tal qual a de estudantes e lavam e passam a própria roupa.
Certa vez vi uma reportagem de um jornal britânico analisando uma foto do primeiro-ministro David Cameron lavando a louça na cozinha. A reportagem não se espantava com o fato do primeiro-ministro lavar a própria louça, já que Tony Blair fazia o mesmo e Margaret Thatcher cozinhava para o marido, mas observava uma tábua de cortar carne com a expressão “calma, querida” num canto.

A própria Angela Merkel mora no mesmo apartamento de sempre com o marido e a única mudança que houve em relação ao seu tempo fora do poder é a presença de um guarda na porta do prédio. Eles compram entradas para assistir ópera com o próprio cartão de crédito e entram no teatro junto com todos, sem nenhum esquema especial.

ENQUANTO ISSO, NO BRASIL…

Daí partimos para o Brasil, onde um simples governador de estado possui jatinhos, helicópteros, ajudantes de ordem e comitivas com batedores de moto que param o trânsito para que ele passe. Pessoas que vivem em palácios, como se ainda fosse alguma corte real. Empregadas, arrumadeiras, garçons, equipes de cozinheiros, serviço de quarto, motoristas, inúmeros seguranças, esquemas especiais para entrar ou sair de algum lugar.

Essa é a diferença: a normalidade do poder, a noção de que um servidor público é apenas um servidor público, seja um escriturário ou o presidente/primeiro-ministro da nação. Eles continuam sendo homens e mulheres, maridos e esposas, pagadores de impostos, trabalhadores e cidadãos.
Cidadania é isso.

Tribuna da Internet

"ÉPOCA" CONFIRMA QUE LULA FAZIA LOBBY PARA A ODEBRECHT NO EXTERIOR

Thiago BronzattoÉpoca

No dia 31 de maio de 2011, meses após deixar o Palácio do Planalto, o petista Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou em Cuba pela primeira vez como ex-presidente, ao lado de José Dirceu. O presidente Raúl Castro, autoridade máxima da ditadura cubana desde que seu irmão Fidel vergara-se à velhice, recebeu Lula efusivamente. O ex-presidente estava entre companheiros.

Em seus dois mandatos, Lula, com ajuda de Dirceu, fizera de tudo para aproximar o Brasil de Cuba – um esforço diplomático e, sobretudo, comercial. Com dinheiro público do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES, o Brasil passara a investir centenas de milhões de dólares nas obras do Porto de Mariel, tocadas pela Odebrecht.

Um mês antes da visita, Lula começara a receber dinheiro da empreiteira para dar palestras – e apenas palestras, segundo mantém até hoje.

INTERMEDIÁRIO

Naquele dia, porém, Lula pousava em Havana não somente como ex-presidente. Pousava como lobista informal da Odebrecht. Pousava como o único homem que detinha aquilo que a empreiteira brasileira mais precisava naquele momento: acesso privilegiado tanto ao governo de sua sucessora, a presidente Dilma Rousseff, quanto no governo dos irmãos Castro. Somente o uso desse acesso poderia assegurar os lucrativos negócios da Odebrecht em Cuba. Para que o dinheiro do BNDES continuasse irrigando as obras da empreiteira, era preciso mover as canetas certas no Brasil e em Cuba.

A visita de Lula aos irmãos Castro, naquele dia 31 de maio de 2011, é de conhecimento público. O que eles conversaram, não – e, se dependesse do governo de Dilma Rousseff, permaneceria em sigilo até 2029.

TELEGRAMAS SECRETOS

Nas últimas semanas, contudo, Época investigou os bastidores da atuação de Lula como lobista da Odebrecht em Havana, o país em que a empreiteira faturou US$ 898 milhões, o correspondente a 98% dos financiamentos do BNDES em Cuba.

A reportagem obteve telegramas secretos do Itamaraty, cujos diplomatas acompanhavam boa parte das conversas reservadas do ex-presidente em Havana, e documentos confidenciais do governo brasileiro, em que burocratas descrevem as condições camaradas dos empréstimos do BNDES às obras da Odebrecht em Cuba.

A papelada, e entrevistas reservadas com fontes envolvidas, confirma que, sim, Lula intermediou negócios para a Odebrecht em Cuba. E demonstra, em detalhes, como Lula fez isso: usava até o nome da presidente Dilma. Chegava a discutir, em reuniões com executivos da Odebrecht e Raúl Castro, minúcias dos projetos da empreiteira em Cuba, como os tipos de garantia que poderiam ser aceitas pelo BNDES para investir nas obras.

TUDO ERA SECRETO

Parte expressiva dos documentos obtidos com exclusividade por Época foi classificada como secreta pelo governo Dilma. Isso significa que só viriam a público em 15 anos. A maioria deles, porém, foi entregue ao Ministério Público Federal, em inquéritos em que se apuram irregularidades nos financiamentos do BNDES às obras em Mariel. Num outro inquérito, revelado por Época em abril, Lula é investigado pelos procuradores pela suspeita de ter praticado o crime de tráfico de influência internacional (Artigos 332 e 337 do Código Penal), ao usar seu prestígio para unir BNDES, governos amigos na América Latina e na África e projetos de interesse da Odebrecht. Sempre que Lula se encontrava com um presidente amigo, a Odebrecht obtinha mais dinheiro do BNDES para obras contratadas pelo governo visitado pelo petista.

COINCIDÊNCIA?

O MPF investiga se a sincronia de pagamentos é coincidência – ou obra da influência de Lula.

Na ocasião, por meio do presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, o ex-presidente negou que suas viagens fossem lobby em favor da Odebrecht e que prestasse consultoria à empresa. Segundo Lula, suas palestras tinham como objetivo “cooperar para o desenvolvimento da África e apoiar a integração latino-americana”.

Tribuna da Internet

terça-feira, 25 de agosto de 2015

CRISE DA CHINA LEVA EQUIPE ECONÔMICA AO DESESPERO

Vicente Nunes
Correio Braziliense

A crise detonada pela China, que arrasou os mercados na segunda-feira, mostrou que o que está ruim no Brasil poder ficar pior. Técnicos confiáveis do governo já admitem que a esperada desaceleração da economia mundial agravará a recessão do país, com a queda do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano se aproximando dos 3% e o desemprego caminhando mais rapidamente para os 10%. O quadro desastroso se completará com a alta da inadimplência, movimento que tenderá a ficar mais forte a partir de setembro.

Tanto no Banco Central quanto no Ministério da Fazenda, o clima ontem foi de apreensão. Auxiliares de Alexandre Tombini e de Joaquim Levy lamentavam o fato de o Brasil estar tão frágil num momento em que o mundo caminha para tempos turbulentos.

Para eles, mesmo que o consenso não seja de um tombo espetacular da China, o fato de a segunda economia do planeta estar rateando já será suficiente para ampliar a onda de desconfiança que provoca estragos nas economias emergentes.

BRASIL SEM RUMO

Como bem definiu um dos técnicos do governo, além de não fazer o dever de casa na economia, o Brasil irradia para os investidores a imagem de um país sem rumo. A cada dia, a presidente Dilma Rousseff destrói o pouco que lhe resta. Agora, acabou de abrir mão de Michel Temer da articulação política. O vice-presidente, de alguma forma, vinha dando sobrevida à petista ao manter o PMDB minimamente unido para garantir a governabilidade.

Na avaliação dos investidores, se, com Temer segurando as rédeas dos peemedebistas, já estava difícil para o governo aprovar, no Congresso, medidas que pudessem garantir o cumprimento das metas fiscais deste ano e de 2016, tornou-se quase impossível isso acontecer sem o compromisso de apoio de uma parcela importante do partido. É por isso que os analistas atribuem a maior parte do desastre brasileiro aos problemas internos — todos, ressalte-se, oriundos do Palácio do Planalto.

LEVY DE SAÍDA?

A capacidade do governo de criar ruídos é tamanha, que, não bastasse abrir mão da articulação política de Temer, o Palácio estimulou ruídos sobre uma possível saída de Levy do Ministério da Fazenda. A boataria foi tão forte que implodiu os sinais de recuperação que a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) esboçou no meio do dia. O ministro teve que passar pelo vexame de dizer que está firme no cargo, quando todos sabem que ele está cada vez mais isolado e colecionando uma série de derrotas em projetos considerados vitais para a arrumação das contas públicas.

“Não há dúvidas de que os problemas enfrentados pela China provocam turbulências e podem ter consequências para a economia. Mas a fragilidade do Brasil se deve a problemas criados no país. A economia está mal e a crise política aumenta a vulnerabilidade”, afirma Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo Investimentos. “Infelizmente, o Brasil não fez o dever de casa para sair do grupo dos piores. E isso se torna um problema maior quando o mundo não vai bem”, acrescenta.

Tribuna da Internet

TODAS AS CRISES AO MESMO TEMPO

Luiz TitoO Tempo

Durou pouco o alívio de Dilma Rousseff, como o que ocorreu na semana passada quando foi presenteada pela denúncia de que o ainda presidente da Câmara, Eduardo Cunha, está envolvido no festival de propinas da Petrobrás. Denunciado pelo MPF de haver recebido sucessivas contribuições em dinheiro como suspeita de suborno para facilitar negociações ocorridas na estatal, precisamente investigadas pela PF e pelo MPF, o presidente da Câmara foi alvejado com um tiro que o fez sair da trincheira por ele construída para desestabilizar o governo Dilma.

Pelo menos momentaneamente. Eduardo Cunha, que tem fôlego de sete gatos (sem trocadilhos), reagiu como todos os envolvidos sempre reagem, negando conhecer os demais acusados e eventuais delatores. Nesse teatro, ele ainda recebeu a solidariedade de seus pares no PMDB e no Legislativo. Em São Paulo, foi homenageado pelo grupo liderado pelo presidente da Força Sindical, o deputado Paulinho da Força, em bem organizada manifestação popular que entoou o grito já gasto de “Eduardo Cunha, herói do povo brasileiro”. Meu Deus, onde chegamos.

POUCOS INIMIGOS

Poucos acreditam em Eduardo Cunha, mas ninguém duvida de como é trabalhoso tê-lo como inimigo, no comando de uma Câmara que é um ajuntamento e de uma oposição errante, sem projetos para mudar o país.

Ainda que por pouco tempo, como se prevê e desejam, ele pode remontar um cenário indesejado pelo PT, que é a inclusão na agenda da Câmara do processo de impeachment da presidente. É quase o clamor das ruas, motivado pelo desemprego, pela inflação, pela notória redução da atividade econômica e o agravamento desse conjunto de tropeços.

A desidratação do poder político do Palácio do Planalto retira da presidente ferramentas importantes com cujo auxílio poderia resistir ao turbilhão de dificuldades que sua equipe econômica e seus ainda parceiros políticos tentam ajudá-la a contornar. Em suma, os estoques de resistência e de reação estão no nível morto. Salva a presidente, ainda, a estabilidade institucional que lhe dá a Constituição e que marca o impeachment como uma afronta a lei.

SEM AGENDA

As ruas acusam o governo de ser incompetente, incapaz de produzir soluções, de não oferecer alternativas para a recessão que se alastra e nos pune, mas também não geram, com os protestos que empreendem, agendas transformadoras. Fora Dilma para milhares. Fica Dilma para outros milhares, em menor dimensão, mas fora o ajuste fiscal.

Mais escolas, mais saúde, mais segurança, mais mobilidade, mas menos impostos, menos tarifas, menos juros, menos inflação. A conta não fecha. De tanto prometer e não entregar, de tanto propor e não realizar, o governo está no cume do desgaste possível. E infelizmente não sinaliza com melhoras. E quando sinaliza, não convence.

Tribuna da Internet

sábado, 22 de agosto de 2015

ELA SE JULGANDO AMADA, DANÇAVA AO SOM DOS BANDOLINS

O cantor e compositor carioca Oswaldo Viveiros Montenegro conta que fez a música “Bandolins” para a cunhada do amigo Zé Alexandre, na época uma bailarina. A moça tinha um namorado também bailarino, mas o casal teve que se separar devido a um convite do namorado para morar na França. Por ser menor, a família da bailarina não permitiu que ela também fosse. Oswaldo diz que, na música, tentou retratar a moça dançando sozinha. A música “Bandolins” foi gravada no LP Oswaldo Montenegro, em 1980, pela WEA, logo se transformando em um grande sucesso, alavancando, definitivamente, a carreira do então desconhecido cantor e compositor.

BANDOLINS
Oswaldo Montenegro
Como fosse um par que nessa valsa triste
Se desenvolvesse ao som dos bandolins
E como não e por que não dizer
Que o mundo respirava mais se ela apertava assim
Seu colo e como se não fosse um tempo
Em que já fosse impróprio se dançar assim
Ela teimou e enfrentou o mundo
Se rodopiando ao som dos bandolins
Como fosse um lar, seu corpo a valsa triste iluminava
E a noite caminhava assim
E como um par o vento e a madrugada iluminavam
A fada do meu botequim
Valsando como valsa uma criança
Que entra na roda, a noite tá no fim
Ela valsando só na madrugada
Se julgando amada ao som dos bandolins

                (Colaboração enviada por Paulo Peres – Site Poemas & Canções)
Tribuna da Internet

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

"AJUSTE FISCAL JÁ NASCE TORTO", DIZ PAULO RABELLO DE CASTRO

Marta Vieira
Estado de Minas

Formados na mesma escola de pensamento econômico, a de Chicago, que teve o prêmio Nobel de Economia Milton Friedman como mentor, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e o economista Paulo Rabello de Castro não se reconhecem na defesa do ajuste das contas públicas.

Crítico contumaz do descontrole fiscal em todas as esferas de governo no Brasil, Paulo Rabello não vê qualquer sentido na proposta que o ministro tenta aprovar no Congresso Nacional, e a considera o retrato de uma inflação de impostos. “Ela nasce torta, fruto de uma visão de contabilidade, quando o Brasil precisa é de uma agenda completa e articulada para a retomada do crescimento, que começa com a volta do controle das contas públicas”, afirma o economista.

Nas últimas duas semanas, o economista tem se dedicado à construção de uma série de sugestões para o país retomar a capacidade de crescer, que serão apresentadas pela recém-criada Associação Brasileira de Cidadania Pela Democracia (ABCD), com sede em Belo Horizonte. Nas projeções da empresa de consultoria que leva o sobrenome de Paulo Rabello, a RC Consultores, o país está às vésperas do ápice da crise, entre setembro e outubro, sob o risco de cair num cenário de “absoluta desconfiança”. Essa é também, na visão dele, a percepção dos brasileiros que vão aderir às manifestações de rua neste domingo.

Desalinho histórico

“Há semelhanças do Brasil de hoje com o país do Plano Cruzado (em 1986), que, à época, nós dissemos que não tinha condições de funcionar porque começou errado, com um congelamento geral de preços. Tudo o que começa sem ser sustentável no tempo, a não ser que seja uma paulada, um ajustamento de arrumação como foi a URV do Plano Real (em 1994), não funciona. O truque da URV foi, justamente, a sua transitoriedade. Em 1986 havia um dever de casa fiscal a ser feito, que, tal como hoje, diz respeito, ao controle do estado, à redefinição do seu tamanho e ao seu modo de intervir. Naquele momento, nós tínhamos estatais para tudo quanto é lado, déficit de empresas estatais mais do que hoje, subsídios para segmentos considerados coitadinhos e uma disfuncionalidade cambial decorrente da fragilidade financeira do Brasil. Não temos uma inflação galopante como naquele tempo, mas temos algo que galopa, a carga tributária. Falando em planos econômicos, vamos nos lembrar de que o Plano Real transformou a hiperinflação monetária em hiperinflação tributária”.

Emergência e crescimento

“Do jeito que estamos não vamos crescer mesmo. Estimamos para este ano uma queda de 2% a 3% e 2016 é uma grande incógnita, mas, no ritmo atual, vamos ter de crescimento zero a uma retração de 1%. Vamos chegar entre setembro e outubro no ápice da crise com o risco de uma absoluta desconfiança. Por isso, a nossa proposta é uma lei emergencial para o crescimento e o orçamento, que chamamos de Leco. Temos de fazer uma política fiscal de estabilidade e equilíbrio, não para sermos bons gestores apenas, mas para propiciar que as forças produtivas da nação se libertem do governo. Na medida em que por tantos anos não fizemos o dever de casa, eu me proporia a uma agenda de crescimento gradual, mas com vistas a estar em 2018, pelo menos, numa velocidade média de crescimento de 5% ao ano. O custo da atual política monetária e cambial é altíssimo. Nos últimos 12 meses até maio, o setor público desembolsou nada menos de R$ 408,8 bilhões em juros da dívida. Comparado ao período do governo Lula, a cifra significa um salto superior a R$ 250 bilhões nos últimos cinco anos na conta dos juros. Isso equivale a mais de oito Copas do Mundo por ano”.

Programa estrutural

“O lado emergencial da nossa Leco consistiria em um ano de aperto, mas seguido de um programa estrutural de melhoria da gestão, que vai atacar, por exemplo, a maneira de o SUS (Sistema Único de Saúde) trabalhar. Gasta-se a mesma coisa, mas atende-se 20% a mais de pessoas, com mais eficiência. Na conta da emergência, ficariam cortes de R$ 110 bilhões distribuídos entre 2016 e 2017, que, basicamente, se limitam a não fazer o repasse inflacionário para as verbas que hoje comandam, obrigatoriamente, aumentos ao arrepio e em ofensa à situação do povo brasileiro. Um Poder Judiciário que hoje envia para a Câmara ou as assembléias legislativas pedido de recomposição da inflação passada fere o preceito constitucional de solidariedade e, portanto, merece rejeição”.

Pura contabilidade

“O ajuste fiscal já parte torto. Não vou citar a figura do ministro porque o respeito muito. Ele vem, inclusive, da mesma escola que eu, tem muita boa vontade, está ali no sacrifício, mas está errando. O que se pretende fazer é o que se fez nos anos 90, mas que não se aplica mais hoje, quando o Brasil continua com uma alta carga de impostos, depois de uma hiperinflação tributária. Naquele momento do Plano Real criou-se um lema hoje repetido por Joaquim Levy:  Onde houver despesa pública cobrirei com uma receita correspondente. Não importa a forma. Aí começa a escalada tributária. A inflação de impostos nasce dessa frase. É uma forma de ajuste fiscal arcaico pelo lado da receita. Ela (a proposta) nasce torta, fruto de uma visão de contabilidade, quando o Brasil precisa é de uma agenda transformadora e articulada para a retomada do crescimento, que começa com a volta do controle das contas públicas”.

Recado das ruas

“Que tal olharmos o ajuste fiscal necessário pelo lado da despesa, depois de uma década de esbanjamento das contas públicas? Essa é a mudança filosófica e ideológica que a sociedade brasileira quer. Quer que ao governo caiba solidariamente uma atitude compatível com o sacrifício que a sociedade tem feito há 30 anos para sustentar o estado brasileiro. As pessoas percebem essa necessidade de uma agenda completa. A presidente Dilma Rousseff não pode é continuar o discurso da mandioca e, como ela não tem programa, então que copie a agenda que é do povo.

(entrevista enviada pelo comentarista Wilson Baptista Jr.)

Tribuna da Internet

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

O AMOR IMAGINÁRIO QUE PODE TRAZER FELICIDADE

A professora gaúcha graduada em educação física e poeta Simone Borba Pinheiro revela como pode se sentir feliz, mesmo que esta sensação venha através de um “Amor Imaginário”.

AMOR IMAGINÁRIO
Simone Pinheiro

É maravilhoso, quando manhã,
encontro seu sorriso sereno à meu lado,
e com seus beijos exploradores, me delicio,
e o amor se faz,ao cantar dos pássaros.

E assim, nosso dia começa:
Com o café na cama, à seguir,
recheado de muito amor.

Quando você, para o trabalho sai,
com um ardente beijo, nos despedimos,
e é como se o mundo, nesse momento, parasse,
pois apaixonados estamos, cegos de amor,
como no primeiro dia em que nos vimos,
naquele baile em que você,
Para dançar me convidou, alegremente.

Vivo hoje esse amor assim, intensamente
pois, à Deus pertence, o amanhã.

E ao final da tarde,quando para casa você volta,
trazendo nas mãos um bouquet de rosas,
vermelhas e perfumadas para mim,
não tenho dúvidas de que, esse amor,
apesar de ser imaginário, me faz feliz!…
               
(Colaboração enviada por Paulo Peres – site Poemas & Canções)

Tribuna da Internet

terça-feira, 18 de agosto de 2015

SAM SMITH - I'm Not The Only One


16/08 E A QUESTÃO DA LEGITIMIDADE



Percival Puggina
Nosso jornalismo, há muitas décadas, foi tomado de assalto pelos que chamo “pedagogos da opinião pública”. Por sua visibilidade, do alto de suas posições nos meios de comunicação, sentem-se como mestres em salas de aula, praticando contra a opinião pública o mesmo abuso mental que tantos professores praticam com os alunos, mediante influência e poder. Uns e outros, pedagogos da opinião pública e professores militantes, operavam antes de o PT nascer e prepararam dedicadamente seu caminho ao poder. Era na base do nós e eles. Simples assim: a esquerda era o bem e, fora dela, nada haveria que prestasse.
Algumas coisas sobre si mesmos eles já compreenderam, ao longo dos últimos meses. Seu prestígio despencou junto com o daqueles a quem emprestavam ou vendiam apoio. Seus discípulos já lhes viram as costas. São formadores de opinião que não formam opinião alguma e cujas manifestações exigem enorme esforço mental. Não é fácil parecer que não fazem exatamente aquilo que estão fazendo, mas “pegaria mal” se fizessem.
Exemplifico. Os pedagogos da opinião pública não são contra as passeatas. Mas ensinam que “Impeachment-já!” recusa o ritmo constitucional que aponta para a sequência crime, acusação, julgamento e (só então) impeachment. Entenderam? Segundo eles, os manifestantes deveriam sair às ruas, Brasil afora, levando faixas mais ou menos assim: “Impeachment, se possível, quando possível!”. Quem carregaria uma peça dessas?
MENOS ÓDIO
Animados com uma candura e uma doçura que exige um canavial inteiro propõem “menos ódio” nas manifestações. Engraçado, não é mesmo? Que fim levou a boa e velha indignação pela qual tanto cobravam quando serviam ao PT oposicionista? Agora, a justa indignação virou ódio? Sentimento maligno, politicamente hediondo, pimenta que arde no olho?
Eles nos ensinam, também, que o “Fora Dilma!” é frase autoritária. Diagnosticam que ela fere a legitimidade do mandato da presidente. Como pode alguém dizer “Fora Dilma!”, seis meses depois de a presidente ter sido eleita com maioria de votos?
É a pedagogia da conformidade bovina. Se for assim e para isso, a gente fica em casa assistindo um filmezinho, que é exatamente o desejo por trás dessa pedagogia para boi no cercado.
LEGITIMIDADE
Falemos, então em legitimidade, jornalista pedagogo militante. De que legitimidade falas quando te referes ao atual mandato da presidente? Da legitimidade alcançada com votos atraídos pelo festival de mentiras, mistificações e falsidades que se derramou pelo país em 2014? Da legitimidade via votos comprados com bilhões de nosso dinheiro? Da legitimidade alcançada com ameaças de que um festival de desgraças se abateria sobre o país em caso de vitória da oposição (para logo após adotar aquelas mesmas medidas contra as quais verberava)? Da legitimidade via urnas eletrônicas? Via Smartmatic? Via apuração sigilosa? Da legitimidade de quem agora não arregimenta mais do que 7% dos eleitores?
O povo não estaria nas ruas se não se sentisse enganado, ultrajado e furtado! Aprendam isso e aprendam a ouvir o povo, em vez de apenas falar-lhe. Aproveitem do caráter, este sim pedagógico, das manifestações dos últimos meses. E com o que ainda lhes reste de consciência, arrependam-se do que ajudaram a produzir no país. O preço desse constrangedor serviço está sendo pago com corrupção em proporções jamais vistas, com recessão, inflação, desemprego, carestia, perda de credibilidade nacional e humilhação perante as demais nações. Está de bom tamanho?
Tribuna da Internet

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

AMEAÇA DO PRESIDENTE DA CUT É GRAVÍSSIMA E ENVOLVE DILMA

Jorge Béja


Ontem, quinta-feira, 13.08.2015, no salão nobre do Palácio do Planalto, presente a presidente Dilma Roussef, seu staff governamental e cerca de mil integrantes de movimentos sociais ligadíssimos ao governo, Vagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT),alertou estar preparado com “armas” e um “exército” para impedir qualquer tentativa de tirar Dilma do poder. “Somos defensores da unidade nacional, da construção de um projeto de desenvolvimento para todos e para todas. E isso implica, neste momento, ir para as ruas entrincheirados, com armas nas mãos, se tentarem derrubar a presidenta”, bradou Freitas.

O fato é gravíssimo. Mais ainda por ter ocorrido dentro do Palácio do Planalto. E o que é pior: na presença da presidente da República e demais autoridades, que se calaram, numa demonstração de apoio e concordância com a ameaça de Vagner Freitas. 

Todos deveriam sair presos do salão e conduzidos à Polícia Federal. Inclusive Dilma e seu staff. Afinal, dentro da sede do governo federal foi noticiada, oficial e publicamente, a existência de milícia armada, esquadrão, organização paramilitar com o propósito de “barrar” qualquer tentativa da abertura de processo de impeachment contra Dilma Rousseff. 

E o que se ouviu foram aplausos e mais aplausos. Alí estava a maior e mais alta autoridade do país, que deveria ter ordenado a imediata detenção do tal presidente. Estavam presentes também outras altas autoridades governamentais. E nada foi feito. Nenhuma providência foi tomada.

TUDO DENTRO DA LEI

Se for aberto processo de impeachment contra Dilma, tudo ocorrerá dentro da lei. E se a decisão final for pelo afastamento da presidente, também dentro da lei tudo se dará. Não será um “golpe”, mas a aplicação do devido processo legal, conforme previsto na Constituição, da igual maneira como aconteceu com Collor de Mello. 

Daí porque a notícia-ameaça de Vagner não poderia passar em brancas nuvens, sem que as autoridades presentes se omitissem, melhor dizendo, prevaricassem, quando tinham o imperioso dever de dar voz de prisão ao presidente da CUT para que a Polícia Federal o ouvisse em inquérito policial e investigasse o que existe de verdade naquela ameaça. 

Quem são os milicianos? Onde se encontram? Onde se reúnem? Quais as armas que possuem? Onde adquiriram? Onde se encontram?

No dia 27 de setembro de 2012, 191º da Independência e 124º da República, ela, Dilma Rousseff, junto com José Eduardo Cardoso e Maria do Rosário Nunes, assinaram a Lei 12.720, cujo artigo 4º acresceu ao artigo 288 do Código Penal a letra “A”, passando a constar o seguinte:

“Código Penal

Artigo 288 – Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes: 

Pena – reclusão de 1 a 3 anos. Parágrafo Único – A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou bando é armado.

Letra A – Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrao com a finalidade de praticar qualquer crime previsto neste Código. Pena – reclusão de 4 a 8 anos”.

Tribuna da Internet

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

COM GOVERNO FRACO OS SERVIDORES AVANÇAM SOBRE OS COFRES

Vicente Nunes
Correio Braziliense

Com o governo enfraquecido politicamente, todos querem avançar sobre os cofres públicos. E os servidores não fizeram por menos ao pressionar o Congresso para aprovar uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que transforma os reajustes de salários em uma farra — algumas carreiras mais que dobrarão o valor dos contracheques se os parlamentares endossarem a ganância.
O que mais assusta é que os abusos estão sendo defendidos por grupos articulados da elite do funcionalismo, gente que deveria estar dando exemplo diante das dificuldades que o país está passando. Enquanto a grande maioria dos trabalhadores está com os empregos ameaçados por causa da grave crise, os servidores beneficiados pela PEC 433, que vincula seus rendimentos aos ganhos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), se garantem na estabilidade.
SERVIÇO DECENTE?
Numa hipótese remotíssima, seria até aceitável pensar em reajustes de mais de 100% para os servidores — advogados da União, analistas do Banco Central, delegados da Polícia Federal, auditores da Receita Federal, fiscais agropecuários — se eles prestassem um serviço decente à população. Mas não é o caso. A qualidade é péssima. Nada funciona. E a máquina está infiltrada pela corrupção.
Se estivessem na iniciativa privada, submetidos à meritocracia, muitos desses servidores que tendem a se beneficiar da PEC 443 estariam demitidos e engrossando a fila de desempregados que eles podem ajudar a aumentar caso insistam em reajustes abusivos de salários. As contas públicas não suportam mais exageros. O Estado já é grande demais e suga, por ano, quase 40% das riquezas produzidas pelo país. Bom senso é bom e todo mundo gosta.
Tribuna da Internet

LÍDER EMPRESARIAL DENUNCIA "DESINDUSTRIALIZAÇÃO SILENCIOSA"

Claudia Rolli
Folha

Depois de perder 25 mil empregos no primeiro semestre e sem previsão de novas encomendas para o ano, as indústrias de máquinas devem fechar ainda mais vagas até 2015 acabar, quando esse número pode dobrar. A previsão é do engenheiro Carlos Pastoriza, presidente da Abimaq, associação que representa 1.535 empresas filiadas, que foi para a rua nesta quinta-feira, acompanhado de trabalhadores representados por três centrais sindicais, em uma manifestação em defesa da indústria e do emprego.
Além da crise econômica, ele diz que o setor de máquinas e a indústria de transformação sofrem os efeitos de uma desindustrialização “silenciosa”. Sem resolver os juros “pornográficos”, o sistema tributário complexo, “com o viés de facilitar a importação”, e um patamar de câmbio adequado, Pastoriza acredita que o país não terá condições de sair da crise.
Confira os principais pontos da entrevista dele.
DIFICULDADES DO SETOR
“O setor de máquinas é o que mais sofre na indústria de transformação porque máquina é investimento para quem compra. E a primeira coisa que empresário faz, em época de insegurança e crise, é cortar investimento. Este é o terceiro ano consecutivo de queda real de produção e faturamento. Somados, significa um tombo de 30%, um terço disso só neste ano. Até segmentos que vão relativamente bem, como o de maquinário agrícola, cancelaram pedidos e vão esperar. Na hora que se faz isso, a crise se materializa: sai da cabeça do empresário e vai para o mundo real. Afora a falta de investimento privado e público, que afeta o setor industrial, há oito anos convivemos com o chamado ‘tripé do mal’.”
TRIPÉ DO MAL
“Temos juros pornográficos, os mais altos do planeta, que afetam os custos e, portanto a competitividade, do produto. Nosso sistema tributário, além de complexo, é perverso, burro e irracional, porque penaliza mais quem fabrica no Brasil do quem importa de lá de fora. Ele não permite que uma fabricante de máquinas se credite de insumos indiretos, por exemplo. Uma peça que vai na máquina gera um crédito que posso compensar [na hora de pagar imposto], mas não posso debitar a cândida que uso para lavar o chão da fábrica. Juntos esses resíduos tributáveis que não compensáveis têm impacto de 7% no preço de uma máquina fabricada aqui. Só pelo fato de fabricar aqui pago mais caro que meu concorrente importado, só com esses resíduos. O terceiro ponto é o câmbio desequilibrado. O custo Brasil chegou a bater em 43% dois anos atrás. Mesmo com a alta do dólar, ainda é 25% mais caro produzir a máquina aqui, se compararmos mesma tecnologia e maquinário, com o que se faz na Alemanha ou nos EUA. O falecido ministro Mario Henrique Simonsen dizia: juro alto aleija uma empresa, mas o câmbio alto mata. A indústria está sendo aleijada e morta há pelo menos oito anos”.
DESINDUSTRIALIZAÇÃO MASCARADA
“O Brasil passa por uma desindustrialização silenciosa, mascarada. Não vemos o fechamento em massa das fábricas, mas as indústrias silenciosamente deixam de ser fabricantes para virarem montadoras e, em seguida, importadoras. Fazem isso de uma forma maquiada. Por exemplo, o eletrônico vem acabado da China, a empresa tira a placa do produto xingue-lingue e coloca a de fabricado no Brasil, com uma marca conhecida. Perde o consumidor, perde o trabalhador, perde o país. A empresa faz isso porque quebraria se continuasse produzindo aqui. Isso está disseminado em vários segmentos, de eletrônicos, linha branca, brinquedos, instrumentos musicais a outros. Enquanto isso ocorre, o emprego vai sendo dizimado na indústria. Além desse movimento, a criação de vagas no Brasil ocorreu nos últimos anos em setores de baixo valor agregado, como o de serviços, comércio, que não geraram riqueza ao país. Sofremos as consequências disso tudo”.
Tribuna da Internet