sábado, 31 de outubro de 2015

Fim da linha para Joaquim Levy?

Luiz Tito
O Tempo

A crise de tudo que estamos vivenciando subiu no telhado. Mais do mais, ela é especialmente grave porque o país perdeu o seu eixo. Em qualquer crise, em qualquer momento e em qualquer nação ou tribo, o que sempre se sobressai é a figura de um líder ou de uma ideia, de uma instituição, um suporte, um norte, cunhados ou eleitos pelas circunstâncias ou pela sociedade e identificados como referência de mudança, de reconstrução, para se avançar.

No caso da atualidade brasileira, o xadrez é outro. Vivemos uma enorme crise política com a presidente da República nas cordas, lutando contra o nocaute e sempre salva pelo gongo. Dilma, ainda que tardiamente, precisa conter a enxurrada de gastos, alimentada pela irresponsabilidade, pela corrupção, pela histórica falta de critério e austeridade da gestão pública sempre presentes como nota tônica nos projetos de governos, no seu inclusive.

O ajuste fiscal é a única solução ainda possível mas ele não interessa a grupos com mando ou influência política, a partidos da oposição ou mesmo da situação, a setores do empresariado, do sindicalismo e do próprio governo. Aprová-lo requer a liberação de emendas parlamentares, a concessão de cargos e favores imorais, segurar (ou tentar) o Judiciário para que coloque ou não na cadeia A, ou B, ou E, de Eduardo. Requer a dança das cadeiras, a troca de ministérios, de verbas do orçamento, tudo que, se feito para se aprovar o ajuste, significará nada porque as mudanças ou o tempo vão comer o próprio ajuste.

CONCORDATA E FALÊNCIA

Não há investimentos em nenhuma atividade econômica, por falta, especialmente, de segurança jurídica. Todas as nossas instituições estão sobrevivendo em regime de concordata ou mesmo de falência. Com toda essa indigência de ideias e de recursos, o único assunto que se discute é se Eduardo Cunha fica na Presidência da Câmara, embora contra si já se tenham colecionado centenas de provas de sua cara presente, sorrindo, em quase todas as janelas da corrupção ou outros malfeitos de tudo que é bras nesse Brasil. Nada anda, nada muda, nada se constrói.

Além desse pouco, políticos, federações e outros iluminados parecem mais preocupados se Levy, que apesar de banqueiro é quem sabe ler cartas geográficas, nas quais, indo e vindo, se pode chegar a algum lugar, vai ficar ou não na tentativa de fazer chegar a um porto seguro essa nau sem rumo. Só uma situação caminha e se avoluma: a que reflete a miséria, o desespero, a absoluta falta de alternativas da população. Se assim continuarmos, a violência irá para as ruas porque não haverá mais caminhos. E aí tudo será tarde demais.

Tribuna da Internet

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Por que a Rússia, e não o Ocidente, defende os cristãos na Síria?

Gustavo Chacra
Estadão

Já escrevi no passado, mas volto a escrever hoje. Nos EUA, alguns políticos, como os pré-candidatos republicanos Ted Cruz e Marco Rubio, dizem estar preocupados com os cristãos no Oriente Médio. Não duvido da intenção deles. Acho que é genuína. Mas, talvez por ignorância, eles costumam sempre se posicionar contra os lados que defendem os cristãos.

Noto que, muitas vezes, estes lados não são necessariamente os “bonzinhos”. Na Guerra da Síria, por exemplo, todos os lados, sem exceção, são ruins. Mas o fato é que os cristãos sírios, em sua maioria, se sentem protegidos pelo regime de Bashar al Assad, pelo Irã, pelo Hezbollah e, acima de tudo, pela Rússia.

Não que eles gostem do líder sírio, do regime de Teerã e do grupo xiita libanês. Alguns gostam, outros, não. Mas se sentem protegidos por eles diante da ameaça de grupos rebeldes opositores ultra radicais islâmicos, seguindo a ideologia wahabbita do islamismo sunita. Sabem também que, entre os grupos armados da oposição, todos são extremistas, não apenas o ISIS, também conhecido como Grupo Estado Islâmico ou Daesh.

CRISTÃOS ORTODOXOS

Rubio, Cruz e outros políticos dos EUA, e também algumas igrejas evangélicas americanas, se posicionam justamente contra quem defende os cristãos – ou diretamente contra as milícias cristãs pró-regime. Pode até ser legítimo, caso, por exemplo, pensem na segurança de Israel. O Hezbollah e o Irã são inimigos mortais dos israelenses e possuem dezenas de milhares de mísseis no sul do Líbano apontados para Tel Aviv e Haifa. Também vale o argumento caso queiram se posicionar contra um regime que cometeu crimes contra a humanidade, segundo a ONU, como o de Assad. Mas não vale caso eles digam que querem defender os cristãos.

A Rússia entende melhor o cenário na Síria. Entrou no conflito por uma série de motivos que eu delineei em outro post. Entre eles, para defender os cristãos. É importante notar que a maior parte dos cristãos sírios são ortodoxos, com minorias melquitas, maronitas e assírias. Estes cristãos não se identificam com os evangélicos do Ocidente. Mas se identificam e muito com a Rússia, maior nação cristã ortodoxa do mundo.

O Patriarca russo defende a intervenção de Putin na Síria dizendo que isso é fundamental para defender os cristãos. Ao longo do conflito, o maior líder cristão da Rússia também declarou uma série de vezes apoio ao regime de Bashar al Assad por proteger os cristãos. Outros patriarcas cristãos do mundo árabe realizaram reunião ecumênica recentemente em Damasco para apoiar o líder sírio – Damasco é sede de quatro patriarcados cristãos.

OCIDENTAIS NÃO ENTENDEM…

Ao longo destes meus anos cobrindo o conflito, sempre fiquei surpreso como muitas vezes o Ocidente não entende o cristianismo oriental. A França até entendia os ocidentalizados e francófonos cristãos maronitas de um Líbano que deixou de existir em 1975. Hoje, nem os franceses.

Já os russos, por incrível que pareça, são os que melhor leem a situação dos cristãos. Nos EUA e mesmo no Brasil, infelizmente, pessoas que talvez sejam bem intencionadas entendem completamente errado a situação dos cristãos. Por exemplo, Ted Cruz ter sido vaiado por cristãos destes lugares quando defendeu Israel em palestra. O senador pelo Texas achava que os cristãos sírios fossem defensores dos israelenses. Coitado. Nunca havia conversado com um cristão de Damasco antes.

Lembrando, sempre, que o mais importante é defender seres humanos, sejam eles cristãos, muçulmanos, judeus ou ateus.

Tribuna da Internet

Por uma terceira polícia

Mauro Santayana

A propósito do incidente ocorrido na porta de uma delegacia da Zona Leste de São Paulo, a imprensa chama a atenção para o “agravamento da rixa” entre policiais civis e militares de São Paulo. A questão por trás do fato não é essa, mas sim o que se seguiu a um primeiro gesto, emblemático, de um delegado de polícia, no sentido de fazer valer a lei e combater a tortura, que é crime hediondo, dando voz de prisão, em flagrante, a um sargento da PM, acusado de dar uma série de choques em um suspeito de roubo dentro da viatura a caminho da delegacia, e a reação de um bando de PMs, em sua defesa, que foi, na verdade, a defesa da parte mais visível de um gigantesco iceberg de cultura da violência e do genocídio, caracterizado pela onipotência dos agentes de segurança no Brasil, que se acham no direito de tratar, como a um animal de caça ou de sua propriedade, qualquer pessoa  que venha a cair sob sua custódia, em uma situação de “trabalho”.

Chama a atenção, também, o fato de que, na Câmara dos Deputados, circulem projetos destinados a dar à PM poder de investigação, e que, por iniciativa do Secretário de Segurança de SP, Alexandre de Moraes, PMs estejam sendo dispensados de aguardar, em casos mais simples, a conclusão de Boletins de Ocorrência por parte de delegados.

Ora, o que o Brasil precisa não é de uma legislação que divida ainda mais as diferentes  polícias, dando mais poder a cada uma delas, mas de uma nova polícia, unificada, judiciária, com a presença de um juiz em cada delegacia, para que se proceda à audiência de custódia, no momento do encaminhamento  do preso pelos agentes responsáveis pela prisão, com o rígido cumprimento do exame de corpo de delito.

NOVA FILOSOFIA

Como é simplesmente impossível, diante de fatos como esse, unificar as polícias já existentes em todos os estados, deveria ser criada, por decreto, essa nova polícia, responsável pelo policiamento ostensivo – nos primeiros anos de carreira – e depois, pela investigação, a partir da estruturação de um novo sistema acadêmico, com uma nova filosofia, baseada, fundamentalmente, no mais estrito cumprimento da lei, e suspender a realização de concursos para a Polícia Civil e Militar, até que estas viessem a se extinguir naturalmente, em uma geração, sendo progressivamente substituídas em suas atribuições, por essa nova força.

No intervalo,  poder-se-ia avançar na federalização dos crimes de tortura, sejam esses cometidos por policiais ou por bandidos, a cargo da Polícia Federal, e, se isso não for possível, na criação de delegacias específicas para a investigação desses delitos, com a presença – aí, sim, mista – de membros das corregedorias da Polícia Civil e da Militar, em todos os estados.

Sejamos claros. O que ocorreu em São Paulo não foi uma “rixa”. Foi uma tentativa, combatida pelo mais reles corporativismo, de se fazer cumprir a Lei e a Constituição. Um corporativismo cada vez mais desatado e incontrolável, que ameaça a sociedade e o Estado de Direito como um todo e que deveria ser enfrentado de frente, com coragem e com mão firme, e não da forma covarde, escorregadia e ambígua, demonstrada, na entrevista que se seguiu ao “incidente”, pelas autoridades do Estado.

Tribuna da Internet

Zero Hora diz que Dilma se formou em Economia em 1977

Moisés Mendes
Zero Hora

Foi o ano do Pacote de Abril, quando a ditadura fechou o Congresso para inventar os senadores biônicos. O ano da lei do divórcio, da morte de Elvis Presley. E Gilberto Gil cantava Refavela. 1977 foi o ano da formatura da turma de Dilma Rousseff na Faculdade de Economia da UFRGS.

Dilma tinha 29 anos. Não está na fotografia da cerimônia de 16 de julho, no Salão de Atos, porque preferiu receber o diploma 13 dias depois na sala da Reitoria. No grupo de 18 formandos, era uma das quatro mulheres. ZH localizou a maioria dos colegas da agora presidente eleita. Na lembrança de quase todos, ressurge uma moça estudiosa, mas discreta, ainda traumatizada por quase três anos de cárcere.

Dilma já havia estudado Economia na Universidade Federal de Minas Gerais, a partir de 1967. A faculdade foi abandonada quando passou a militar em organizações clandestinas. Na UFRGS, foi aprovada no vestibular de março de 1974 ao lado do amigo Calino Pacheco Filho. Antes, frequentaram juntos o lendário curso pré-vestibular IPV, na Avenida Salgado Filho.

Pacheco e Dilma participaram juntos da resistência política, quando ela aderiu à organização Var-Palmares. Conheceram-se em 1969. Um ano depois, os dois estavam presos como subversivos. Ele foi libertado em janeiro de 1972. Ela, no final daquele ano. Em 1973, Dilma veio para Porto Alegre, para ficar ao lado do companheiro, Carlos Araújo, encarcerado na Ilha do Presídio, sob a acusação de participar da luta armada.

DE OUTRA TURMA

— Ela sempre estudou muito. Lembro-me que estudávamos juntos na casa do pai de Araújo, o advogado Afrânio Araújo.

Pacheco, aos 62 anos, conta que estudou algumas matérias com Dilma, mas não fazia parte da mesma turma na UFRGS. Juntos, enfrentaram outro drama, em setembro de 1977, como funcionários da Fundação de Economia e Estatística (FEE). Foram demitidos por fazer parte de uma lista de comunistas, elaborada pelo então ministro do Exército, Sylvio Frota.

Luiz Miranda, 63 anos, já era professor na UFRGS quando Dilma começou a frequentar a Economia, mas lamenta não ter sido seu professor. Conta que tentou estudar O Capital, de Karl Marx, com seus alunos. Considerado atrevido demais por abordar o teórico do socialismo, em 1974 foi transferido para a área de Ciências Sociais:

— Me tornei um cara incômodo.

ECONOMIA CONSERVADORA

Miranda não acredita que Dilma tenha frequentado um curso muito crítico em relação ao que se passava no país:

— A Economia da UFRGS era conservadora. Era uma economia positivista, sem nenhuma chance para o debate.

Tanto, segundo ele, que a reflexão mais profunda parava nas lições de Formação Econômica do Brasil, obra clássica de Celso Furtado:

— Furtado entrava marginalmente. Dilma não teve muito a aprender com uma visão mais progressista, mesmo que ela já conhecesse Marx.

FALA O PROFESSOR

Hoje prefeito de Uruguaiana pelo PSDB, Sanchotene Felice, 75 anos, foi professor de Dilma. Concorda que a aluna era atenta. Lembra-se bem que tinha conhecimento da passagem da estudante pela prisão:

— Sabíamos que ela vinha de um período político difícil, mas era competente, estudiosa.

Só não concorda que a Economia fosse esquemática, sem estímulos à reflexão crítica:

— Uma das minhas referências bibliográficas era Florestan Fernandes (sociólogo, pensador de esquerda). Também estudávamos Celso Furtado e o francês François Perroux.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – O jornalista José Nêumane Pinto errou feio. Dilma Rousseff realmente se formou em Economia na UFRGS e não em Ciências Sociais, como Nêumane informou equivocadamente no Estadão. Na prática, Dilma hoje demonstra nada saber de Economia, por isso julguei que Nêumane estivesse certo e até mexi num excelente texto de Flávio José Bortolotto, mas já retifiquei assim que o comentarista Antonio Carlos Fallavena me mandou a matéria da ZH. Desculpe a nossa falha, amigo Bortolotto, e vamos em frente. (C.N.)

Tribuna da Internet

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Estado esmaga sociedade, e não apenas pelo custo

Deu em O Globo

O Brasil sempre aparece mal colocado em rankings que avaliam a capacidade de países abrigarem empresas, estimularem seu crescimento e o empreendedorismo em geral. No mais conhecido deles, o “Doing Business”, do Banco Mundial, o ambiente de negócios do país estava, na última versão do relatório, apenas em 120º lugar. Uma discrepância diante do tamanho da economia brasileira, uma das dez maiores do mundo. Esses levantamentos, feitos junto a empresários e executivos, avaliam diversos aspectos que afetam a vida das empresas e de suas populações, como carga tributária, qualidade das instituições etc. E um dos problemas que mais pesam negativamente para o Brasil é a espessa burocracia que inferniza a vida de pessoas físicas e jurídicas.

No caso das empresas, ela aflige acionistas e administradores não apenas com o pagamento de inúmeros impostos, taxas e similares, mas com o enorme trabalho que é manejar guias de recolhimento, mantê-las em dia e devidamente arquivadas, até porque sempre o ônus da prova cabe ao contribuinte.

IMPOSTOS A VALER

Um dado ilustrativo: segundo o “Doing Business”, empresas de São Paulo consomem, em média, 2.600 horas por ano para recolher impostos, contra apenas 365 horas na América Latina como um todo. Dados como este não surgem por acaso. Há por trás de cada via-crúcis burocrática um enorme aparato estatal, de tempos em tempos cevado com mais verbas bilionárias, mais cargos. E nisso os últimos 12 anos de hegemonia do PT em Brasília foram pródigos.

Basta constatar o avanço do contingente de servidores no Executivo federal. Até 2013, eram 1.952 mil, ou 13,3% mais que os 1.722 mil servidores lotados na máquina do Executivo, em 2002, último ano de FH no Planalto, incluindo os aposentados.

Os sinais do inchaço da máquina com Lula e Dilma, a partir de 2003, são mais visíveis na distribuição de cargos ditos de confiança. Eles eram aproximadamente 66 mil em 2002 e chegaram a 100.313 em julho deste ano, um crescimento robusto de 52%.

SALÁRIO DE R$ 152 MIL

Por trás dos números há o apadrinhamento político e ideológico. É um termômetro fiel do aparelhamento, mesmo com servidores concursados, pois não se pode achar que inexistam militantes petistas entre eles, e que estes não tenham prioridade no recebimento de “adicionais por cargo”.

Não falta espaço na máquina burocrática. Só esses cargos, designados por indecifráveis siglas, são 41. Entre eles, o mais ambicionado é o DAS (Direção e Assessoramento Superior), o destaque nesta sopa de letras. Mas também é possível, se bem apadrinhado, a pessoa acumular adicionais até chegar a, por exemplo, R$ 152.220,97, caso da remuneração total de um funcionário da estatal Eletronorte, mostrado em reportagem do Globo.

40% DO PIB

Os defensores do mastodôntico Estado brasileiro costumam argumentar que a folha dos servidores se mantém estável no nível de 4% do PIB. Mas a questão, aqui, é menos este número isolado e mais analisá-lo “por dentro”, saber se os servidores estão alocados da melhor forma para atender a população, se os salários pagos são compatíveis com a produtividade do funcionário. Ou se a máquina se move por si mesma, impulsionada pela lógica da burocracia, por seus interesses específicos e de aliados políticos de ocasião. Um milhão de funcionários ativos do Executivo receberão este ano mais de R$ 100 bilhões, ou três Bolsas Família, um aumento real (acima da inflação) superior a 55%, desde 2002. Além de tudo, este monstruoso aparato gera mais burocracia. Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento, a máquina produz 520 novos regulamentos por dia.

E tudo somado, o Estado consome 40% do PIB, e ainda precisa pedir dinheiro emprestado. É muito, principalmente quando se avaliam estes índices e cifras por meio da qualidade dos serviços prestados à população. Uma exorbitância, também se analisarmos pela ótica de quem padece com a burocracia pública.

OS PONTOS-CHAVE

1 – Neste período em que o PT está no poder, aumentou muito o número de comissionados e assessores

2 – O crescimento é constante no número de servidores, assim como no tamanho da folha, e acima da inflação

3 – Há tantas possibilidades de adicionais que em uma estatal pode-se ganhar um salário de R$ 152 mil

4 – O tamanho da máquina pública deve ser comparado com a qualidade do serviço prestado à população

5 – O gigantismo da máquina pública contribui para uma burocracia que atrapalha pessoas físicas e jurídicas

(editorial enviado pelo comentarista Wilson Baptista Jr.)

Tribuna da Internet

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Recessão causa mais de um milhão de demissões em um ano

Wagner Pires

A recessão induzida pelo devastador relaxamento da política fiscal e pelo represamento dos preços administrados perpetrados por Dilma e Mantega para falsear a realidade econômico-financeira do país e garantir a reeleição de Dilma continua deteriorando o mercado de trabalho.

Segundo informa o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério do Trabalho e Emprego, foram fechados 657.761 postos de trabalho formal de janeiro a setembro de 2015. Só em setembro último o Caged computou o fechamento de 95.602 vagas.

Computados os últimos doze meses o saldo entre admissões e desligamentos, negativo, ultrapassou um milhão de postos de trabalho formal -1.238.628. Lembrando que no Caged são computados apenas os trabalhos com registro em carteira. Isto é, não computa os empregos informais.

SETOR SECUNDÁRIO

O setor mais prejudicado é justamente o secundário, isto é, o da indústria para a qual – relativamente aos últimos doze meses – ocorreu o fechamento de 955.995 postos de trabalho. Este setor abriga, de longe, os melhores e mais bem remunerados empregos, além de ser o que mais agrega valor proporcional ao produto interno brasileiro. É nítido os efeitos da recessão e da desindustrialização neste mercado de trabalho específico.

A construção civil, em especial, fechou mais 426.746 postos de trabalho computados os últimos doze meses.

A construção civil é responsável pela absorção do maior contingente de trabalhadores com a menor formação e especialização do mercado de trabalho. É ela, também, que responde pela maior fatia de investimento (ou formação bruta de capital) na economia: 53%. Portanto, o encolhimento do setor de construção civil realimenta a recessão, na medida em que retraindo a indústria da construção civil, retrai-se o nível de investimento que é uma das variáveis do crescimento do PIB.

QUEDA NO COMÉRCIO

O comércio, que até julho vinha segurando as estatísticas negativas, na medida em que apresentava números, ainda positivos, de agosto em diante, também, passou a apresentar resultados negativos para o mercado de trabalho específico. A mesma coisa para o restante do setor de serviços. O setor de serviços corresponde a 68% da economia e foi o último setor a reverberar a recessão. A tendência é a crise no mercado de trabalho se acentuar na medida em que cresce o reflexo da recessão no maior dos setores de nossa economia.

Tribuna da Internet

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Planalto entrou em clima de salve-se quem puder

Vicente Nunes
Correio Braziliense

A sensação que se tem na Esplanada é de que se instalou nos gabinetes de Brasília o salve-se quem puder. Não há mais nenhuma preocupação com os rumos da economia. A prioridade, tanto no comando do Palácio do Planalto quanto no Legislativo, é garantir o mandato. O que vier depois é lucro. Para a população, no entanto, está se entrando no pior dos mundos, um tempo de incertezas que vai agravar a recessão, ampliar o desemprego, elevar a inflação e obrigar o Banco Central a manter os juros nas alturas por um prazo mais longo do que o desejado.

A crise política que está devastando a economia vai ampliar o atoleiro no qual o país se meteu. Com o governo totalmente voltado para evitar o impeachment da presidente Dilma Rousseff e o Congresso em pé de guerra em relação ao tema, são remotas as chances de o ajuste fiscal ser aprovado neste ano. Desiludida, a equipe econômica já admite que o Brasil poderá ter três anos de deficit nas contas públicas — 2014, 2015 e 2016 —, e o rebaixamento por mais uma agência de classificação de risco — provavelmente, a Moody’s — virá mais cedo do que se imaginava.

IMPEACHMENT

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de intervir no rito do processo de impeachment de Dilma na Câmara deu ânimo ao governo, sobretudo por indicar um rumo que vai além das vontades do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Mas, apesar da lucidez que impôs ao caso, o STF colocou o debate sobre o afastamento da presidente da República na ordem do dia. Agora, não há mais dúvidas de que a petista pode, sim, perder o mandato. Não se trata mais apenas de um desejo da oposição ou de vingança de Cunha.

Mas, que fique claro: quanto mais demorar a decisão sobre o impeachment, maior será o estrago na economia. Entre os empresários, a ordem é suspender qualquer transação que implique riscos demasiados. A justificativa é de que, qualquer que seja o desfecho, o resultado será turbulento. Mantida no Planalto, Dilma será um fantasma, não terá condições de aprovar nada que possa resultar em um ajuste efetivo das contas públicas. No máximo, conseguirá pôr em prática remendos que vão manter a desconfiança e adiar a retomada do crescimento. Caso a presidente seja afastada do poder, não se sabe quem será o sucessor, nem se ele terá força suficiente para construir apoio no Congresso e reverter o pessimismo que maltrata a economia.

Tribuna da Internet

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Equipe de presos derrota Harvard numa competição intelectual

Eduardo Aquino
O Tempo

Emocionante, surpreendente, inacreditável. Não consigo encontrar palavras que possa descrever o fenômeno que tomou as manchetes do mundo inteiro: numa competição de altíssimo nível que consistia em debater uma tese proposta por grupo dos maiores acadêmicos americanos, a então campeã mundial (alunos da melhor universidade do mundo – Harvard) enfrentou um grupo de presidiários do estado de Nova York, a maioria sequer com ensino médio completo e… perdeu!!!

E olha que a tese que deveria ser defendida pelo grupo dos presos era contraditória em relação à vida deles mesmos: “Por que o sistema de ensino americano não deveria aceitar filhos de imigrantes ilegais”.

COMPLEXOS DEBATES

A competição exige complexos debates baseados em dados lógicos, científicos, complexos. A banca julgadora exigente e rigorosa era constituída por doutores e PhDs. Meses e meses de dedicação, suor e lágrimas. Mas o grande detalhe: aos presos é proibido qualquer acesso a eletrônicos. Nada de smartphones, computadores. Portanto, zero de internet, Google, YouTube e afins.

Aos presidiários, uma biblioteca com milhares de livros, papel, caneta, uma incrível força de vontade, garra, inspiração e o grande diferencial do mundo real e analógico em relação ao mundo digital: estímulo, prazer e recompensa que só o conhecimento proporcionam!

Do lado da elite estudantil de Harvard, todo o conteúdo de todas as plataformas possíveis, iPads, supercomputadores, internet de altíssima velocidade, equipe de professores, o Dr. Google e seu infinito espaço-tempo de facilidades, aulas à distância em arquivos incontáveis disponíveis no YouTube, enfim, o maravilhoso universo do tudo o tempo todo.

DEU ZEBRA

E, no fim, deu zebra! A biblioteca real de livros, os cadernos e escritos, o entusiasmo e força de superação dos pobres presidiários venceu a equipe dos filhos de ricos, nativos da tela, viciados em tecnologia, a arrogância da informação preguiçosa e descartável do Google, a falta de curiosidade, de tempo ou o jeito correto para estudar e aprender. Elegantemente, a equipe de Harvard parabenizou os vencedores, como se reconhecesse que informações e conteúdos pré-fabricados que povoam a internet nas redes sociais, aplicativos, buscadores, sites, blogs e tudo o mais, se desfazem como cinza ao vento, quando o supercomputador divino chamado cérebro, aliado a energia intelectiva, afetiva, e força de vontade da mente humana e somada à capacidade de sonhar, são invencíveis frente a qualquer desafio.

Quanto a mim, registro a emoção de quem, contra todas as correntes, tem afirmado neste espaço que um novo tempo se aproxima, em que a inteligência artificial entrará em colapso e o humanismo terá que ser resgatado. Sabedoria valerá muito mais que esse lixão de informações que poluem o universo internáutico.

Tribuna da Internet

Afundando nos erros piorando cada vez mais

Vicente Nunes
Correio Braziliense

A decisão da agência de classificação de risco Fitch de cortar a nota do Brasil não teve o impacto devastador do anúncio feito pela Standard & Poor’s (S&P), que retirou o selo de bom pagador do país, mas mostrou um quadro desolador da economia brasileira. O que se vê nas justificativas da Fitch para o rebaixamento é uma nação à deriva. Não há nenhum sinal de melhora à vista. Se algo pode acontecer, é para pior.

O Brasil de Dilma Rousseff está quebrado. A opção da presidente de seguir o modelo econômico defendido pelo PT, que foi derrotado várias vezes antes de Lula assumir a defesa da estabilidade, promoveu um estrago tão grande, que, para juntar os cacos, levará anos. O mais assustador é que não há nenhum projeto efetivo para tirar o país do atoleiro, apenas promessas inconsistentes, como a de estabilizar a dívida pública, que caminha firmemente para os 70% do Produto Interno Bruto (PIB).

A falta de capacidade do governo de retomar o controle da situação é explícita. Em vez de organizar a base política para aprovar projetos importantes no Congresso a fim de dar uma direção, ainda que mínima, aos agentes econômicos, o Palácio do Planalto se atropela em negociações vergonhosas com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, para livrá-lo da cassação e impedir o impeachment de Dilma.

FORA DA REALIDADE

O descompromisso com a economia real é tamanho, que parte do governo preferiu comemorar a reação dos mercados diante do rebaixamento do país pela Fitch do que mostrar preocupação e medidas concretas para o resgate da confiança. Esse grupo atribuiu a queda do dólar e a alta da bolsa a um sinal de que os investidores já não dão tanta importância às manifestações das agências de risco. Trata-se de uma visão equivocada.

Na verdade, os mercados estão precificando o possível afastamento de Dilma. Para algumas casas bancárias, são de 80% as chances de o governo da petista ser interrompido. Além disso, a situação do Brasil é tão ruim que, neste momento, os investidores estão preferindo se apegar a fatores externos para guiar os negócios. O dólar e a bolsa de valores estão oscilando de acordo com os sinais emitidos pelo Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, de que a alta de juros na maior economia do planeta ficará para 2016. Isso mostra, porém, uma vulnerabilidade maior do país. Se algo de ruim acontecer lá fora, o impacto por aqui será brutal.

TAPA-BURACOS

A conta do descaso do governo só aumenta. O Tesouro Nacional, responsável por administrar a dívida do país, está sendo obrigado a pagar juros cada vez maiores para se financiar no mercado. A cada leilão semanal de títulos, as taxas batem recorde. Com isso, a situação fiscal só piora, pois é necessário mais dinheiro para honrar os compromissos com os credores. Como não há recursos suficientes, o Tesouro é obrigado a emitir mais papéis, empurrando o total de débitos para níveis alarmantes. A Fitch prevê que a dívida bruta chegue aos 70% do PIB no fim de 2016. Os analistas projetam 80% até 2018.

Sem um ajuste fiscal consistente, não há como interromper essa trajetória explosiva. Os arremedos propostos pelos ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, dão apenas um alívio de curto prazo. Mas nem mesmo esses tapa-buracos saíram do papel. Quase 80% deles dependem de aprovação do Congresso, que não tem outra pauta que não seja o impeachment de Dilma.

Tribuna da Internet

domingo, 18 de outubro de 2015

Dilma faz um governo de direita. Vai defender?

Douglas Belchior

Gente, por favor. Dilma faz um governo marcadamente de direita. Preferiu, num contexto economicamente pior que o de seu antecessor, aliar-se e render-se à direita histórica ao invés de se unir às forças progressistas que, inclusive, garantiram sua última vitória nas urnas. Esse governo promove retrocessos absurdos – tanto quanto ou mais que o tão falado ‘congresso mais reacionário da história’ – e endossa essa mesma política nos estados.

Apoio à leis criminalizantes, aliança com agronegócio, dependência de oligarquias regionais, política econômica neoliberal e imposição de um ajuste fiscal que beneficia os ricos e pune os pobres, privatizações, apoio a políticas de segurança pública de promoção do encarceramento e do genocídio negro, retirada de direitos trabalhistas, retrocesso nas políticas de direitos humanos… É um governo indefensável.

E não me venham dizer que “falar mal do PT ajuda a direita”, afinal, falar da direita, que são canalhas, seria chover no molhado. O grupo que prometeu ser uma coisa e foi outra é o que governa o país há 4 mandatos. Um grupo que, embora eleito em nome da classe, jamais enfrentou os grandes interesses dos algozes seculares do povo brasileiro. Ao contrário, preferiu a tática da conciliação, como se nunca houvera aberto um livro de história para saber o quão impossível seria.

AVANÇOS SOCIAIS

Alguns dirão: é a defesa aos avanços sociais dos últimos anos. Responderia: não se trata da negação daquilo que alguns consideram “avanço”, mas sim do que devia ter sido feito, em forma e conteúdo, e não se fez. Das brigas e disputas políticas e ideológicas que não se fizeram. Do enfrentamento aos interesses da classe dominante, que não se fez. E que sequer foram tentadas. E o porquê de não terem sido tentadas, mesmo com o clamor permanente dos movimentos sociais.

Essa crítica em nada tem a ver com defender impeachment ou “golpe”. E cá entre nós, não acho provável nenhum dos dois – até porque faltam elementos objetivos para tal – afinal, derrubar um governo que garante os interesses dos ricos e a opressão dos pobres tão bem quanto o governo Dilma, para que, né?!

Mas vivemos no Brasil, onde os absurdos são comuns. Então também não duvido. E num contexto de disputa “político ideológica” entre PSDB/PMDB versus PT, eu leio assim: de um lado a direita histórica, escravocrata, fascista, racista e elitista, logo, inimigos históricos da classe trabalhadora. De outro os capatazes, ex-escravos, a serviço das vontades do senhor, logo, traidores da classe trabalhadora. A “esquerda” não está, a meu ver, em meio a essa disputa.

POLITICAMENTE EQUIVOCADO

Quando digo isso, deixemos explícito, falo dos projetos políticos e da direção de cada um dos lados, e não do povo iludido ou politicamente equivocado – na minha opinião – que as partes reúnem.

É deprimente ver gente séria, com trajetória de luta e compromisso se rebaixando em último nível para defender o indefensável. Triste, muito triste.

Sim, é preciso juntar os cacos de um vaso que nós mesmos quebramos. Não há de se negar ou demonizar o PT ou os grupos e movimentos apoiadores do governo, claro que não, até porque “os partidos são as pessoas”, e tem muita gente séria e comprometida nesses espaços.

Mas é preciso superar, construir o novo com novos atores e, caso os atores de sempre queiram colaborar, que reconheçam e limpem sua sujeira, que lavem seus pratos cuspidos e peguem a fila lá de trás. O protagonismo não deve estar com aqueles que nos conduziram à beira deste precipício. Estes, por dignidade, deveriam perceber isso.

(artigo enviado pelo comentarista Mário Assis Causanilhas. O autor, Douglas Belchior, é professor de História da rede pública de São Paulo)

Tribuna da Internet

sábado, 17 de outubro de 2015

O mito da hospitalidade e os refugiados de hoje

Leonardo Boff
O Tempo

Os milhares de refugiados que estão fugindo da guerra na Síria e do Norte da África e buscam simplesmente a paz nos países europeus nos fazem lembrar um dos mais belos mitos da cultura grega: o de Báucis e Filêmon, transmitido por Ovídio em suas “Metamorfoses”.

Certa vez, Júpiter, criador do céu e da terra, e seu filho Hermes, princípio de toda comunicação, resolveram disfarçar-se de pobres e vir ao reino dos mortais para ver como ia a criação que haviam posto em marcha. Ambos se desfizeram de sua glória. Pareciam realmente pobres e andarilhos. Pediam ajuda a uns e a outros, e ninguém lhes estendia a mão. Depois de tanto peregrinar e de se sentirem alijados por todos, o que mais queriam era encontrar alguém que lhes desse uma mínima hospitalidade.

Até que um dia chegaram à Frígia, província das mais longínquas e inóspitas do Império Romano. Ali vivia um casal muito pobre, Filêmon (em grego, “aquele capaz de amar”) e Báucis (“delicada e terna”). Sobre uma pequena elevação construíram sua choupana, rústica, porém muito limpa. Foi lá que, ainda jovens, uniram seus corações. Viviam em grande paz e harmonia.

POBRES MORTAIS

Eis que chegaram Júpiter e Hermes, disfarçados de pobres mortais. Qual não foi a sua surpresa quando o bom velhinho Filêmon, sorridente, apareceu à porta e, sem muito reparar, foi logo dizendo: “Forasteiros, vocês devem estar muito cansados e com fome. Venham, entrem na casa. É pobre, mas está aberta a hospedá-los”. Báucis logo se apressou em lhes oferecer dois tamboretes de madeira para se sentarem. Antes que os deuses manifestassem qualquer desejo, o casal começou a reanimar o fogo para aquecer a água e aliviar os pés dos dois hóspedes. Filêmon foi à horta atrás da choupana e colheu algumas folhas e legumes, enquanto Báucis tirava da vara o último pedaço de toucinho. De repente, tudo estava sobre a mesa em pratos quentes.

“Queridos hóspedes, vamos comer, pois vocês merecem se alimentar depois de tantas canseiras. Perdoem a simplicidade e a pobreza da cozinha”.

A PRÓPRIA CAMA…

Os imortais comeram à saciedade. Muito comovidos ficaram quando os dois velhinhos ofereceram a própria cama para que eles dormissem.
Quando Júpiter e Hermes estavam se preparando para dormir, eis que sobreveio grande e inesperada tempestade. Raios e trovões ribombavam pelo vale afora. Ocorreu uma inundação, vitimando pessoas e animais. Báucis e Filêmon se desculparam aos imortais e, apressados, preparavam-se para ajudar os flagelados, mas Júpiter freou a devastadora tempestade. Foi então que aconteceu a grande revelação. Júpiter e Hermes mostraram toda a sua glória.

DE JOELHOS

O casal caiu em si. Os dois puseram-se de joelhos, inclinando a cabeça até o chão, para venerar os deuses presentes. Júpiter, depois, bondosamente, disse: “Façam um pedido, que eu, em agradecimento, vou atender”. Como se tivessem previamente combinado, disseram unissonamente: “O nosso desejo é servir a Deus nesse templo por todo o tempo que nos resta de vida”.

Hermes acrescentou: “Eu também quero que façam um pedido para eu o realizar”. E eles, novamente, como se tivessem combinado, sussurraram conjuntamente: “Depois de tão longo amor e de tanta concórdia, gostaríamos de morrer juntos”.

UNIDOS PARA SEMPRE

Seus votos foram ouvidos e cumpridos. Filêmon foi transformado num enorme carvalho, e Báucis, numa frondosa tília. Em cima, as copas e os galhos se entrelaçaram. E assim, abraçados, ficaram unidos para sempre.

Quem passar por aquela região da Frígia, atualmente a Turquia, ainda hoje ouvirá essa fantástica história. Os mais velhos repetem sempre a lição: quem acolhe um pobre faminto hospeda anonimamente Deus.

Tribuna da Internet

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

No dia do professor, uma lição fundamental vinda da Finlândia

Claudia WallinDiário do Centro do Mundo

Soltaram as bestas do Apocalipse, dirão os arautos do fim do mundo: nas escolas finlandesas, o filho do empresário e o filho do lixeiro estudam lado a lado, em um eficiente e igualitário sistema educacional que tornou-se um dos mais celebrados modelos de excelência em educação pública do mundo atual.

É o chamado milagre finlandês, iniciado na década de 70 e produzido em sua maior exuberância a partir dos anos 90. Em um espaço de 30 anos, a Finlândia transformou um sistema educacional medíocre, elitista e ineficaz, que amargava resultados escolares comparáveis a países como o Peru e a Malásia, em uma incubadora de talentos que alçou o país para o topo dos rankings mundiais de desempenho estudantil, e alavancou o nascimento de uma economia sofisticada e altamente industrializada onde antes jazia uma sociedade substancialmente agrária.

Trata-se, à primeira vista, de um enigma digno da Esfinge de Tebas: os finlandeses estão fazendo exatamente o contrário do que o resto do mundo faz na eterna busca por melhores resultados escolares – e está dando certo. O aparentemente ensandecido receituário finlandês inclui reduzir o número de horas de aula, e limitar testes e provas escolares a um mínimo tolerável.

FÓRMULA DO MILAGRE

Atônitas delegações de educadores internacionais vasculham o paradoxal modelo finlandês em busca da fórmula do milagre insondável. E ouvem, dos finlandeses, uma constatação capaz de produzir mais batimentos cardíacos do que o medonho encontro com um tubarão no mar: a educação de alta qualidade na Finlândia não é resultado apenas de políticas educacionais, eles dizem, mas também sociais.

“O Estado de Bem-Estar social finlandês desempenha um papel crucial para o sucesso do modelo, ao garantir a todas as crianças oportunidades e condições iguais para um bom aprendizado”, diz o educador Pasi Sahlberg, um dos idealizadores da reforma das políticas educativas da Finlândia nos anos 90.

Sahlberg fala do que vejo nas instalações da Escola Viikki, um dos centros educacionais de ensino médio e fundamental da capital finlandesa. No amplo refeitório, refeições fartas e saudáveis são servidas diariamente aos estudantes. Serviços de atendimento médico e odontológico cuidam, gratuitamente, da saúde dos 940 estudantes. Todo o material escolar é também gratuito. Equipes de pedagogos e psicólogos acompanham cuidadosamente o desenvolvimento de cada criança, identificando na primeira hora problemas como a dislexia de um aluno e fornecendo apoio imediato. Saudáveis e bem alimentadas, as crianças estão mais preparadas para aprender neste país singular, onde mensalidades escolares não existem.

IGUALDADE E JUSTIÇA

Pasi Sahlberg fala ainda do impacto fundamental do modelo de igualdade e justiça social criado gradualmente pelos finlandeses a partir do pós-guerra, a exemplo dos vizinhos escandinavos: saúde, educação e moradia para todos, e uma vasta e solidária rede de proteção aos cidadãos.

“A desigualdade social, a pobreza infantil e ausência de serviços básicos têm um forte impacto negativo no desempenho do sistema educacional de um país”, pontua Sahlberg.

Como que tomados pelo espírito dos mais destemperados analistas econômicos do Brasil, os críticos do novo sistema previram o caos: disseram que não seria possível ter as mesmas expectativas em relação a crianças de diferentes circunstâncias sociais. Argumentaram que o futuro da Finlândia como nação industrial estaria sob risco, uma vez que o nível educacional teria que ser ajustado para baixo a fim de acomodar os alunos menos favorecidos. Erraram, evidentemente.

VALORIZAÇÃO DO PROFESSOR

O vital passo seguinte foi uma valorização sem precedentes do professor. A Finlândia lançou programas de formação de excelência para o magistério nas universidades do país, criou notáveis condições de trabalho e ampla autonomia decisória nas escolas, e paga bem seus professores. Mas o mais fundamental, diz Pasi Sahlberg, foi a criação de uma nova noção de dignidade profissional:
“Os professores adquiriram um alto grau de respeito e confiança em nossa sociedade. E os finlandeses continuam a considerar o magistério como uma carreira nobre, orientada principalmente por propósitos morais”, destaca Pasi Sahlberg, ex-diretor-geral no ministério finlandês de Educação e Cultura e atual professor visitante de Práticas Educacionais na Universidade de Harvard.

(artigo enviado pelo comentarista Antonio Rocha)

Tribuna da Internet

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Comandante do Exército já vê risco de crise social no país

Rodrigo Vizeu
Folha

O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, disse ver risco de a atual crise virar uma “crise social” que afetaria a estabilidade do país, o que, segundo ele, diria respeito às Forças Armadas. “Estamos vivendo situação extremamente difícil, crítica, uma crise de natureza política, econômica, ética muito séria e com preocupação que, se ela prosseguir, poderá se transformar numa crise social com efeitos negativos sobre a estabilidade”, afirmou.

O militar prosseguiu: “E aí, nesse contexto, nós nos preocupamos, porque passa a nos dizer respeito diretamente”.

VIDEOCONFERÊNCIA

Villas Bôas deu as declarações em inédita videoconferência para 2.000 oficiais temporários da reserva, os R2, que se prepararam durante o serviço militar, mas não seguiram carreira.

A conversa, com transmissão para oito comandos pelo país e cujos trechos circulam na internet, foi aberta a perguntas e teve a presença, por exemplo, do ex-governador Roberto Magalhães (DEM-PE), saudado pelo general.

O militar, que foi escolhido para o comando do Exército pela presidente Dilma Rousseff no início deste ano e já afastou intervenção militar em outras declarações, disse não ver uma crise institucional e que as instituições funcionam, dando como exemplo a reprovação das contas da petista pelo Tribunal de Contas da União.

“Dispensa a sociedade de ser tutelada. Não são necessários atalhos nos caminhos para chegar ao bom termo”.

DEFESA DA PÁTRIA

Questionado pela Folha sobre o significado de eventual crise social dizer respeito ao Exército, a instituição citou artigo da Constituição que afirma que as Forças Armadas “destinam-se à defesa da pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”, sob autoridade presidencial.

“Foi com o pensamento de legalidade, de estabilidade e de legitimidade que o comandante do Exército se referiu”, disse em nota.

Segundo o Exército, que tem desenvolvido projeto recente de reaproximação com reservistas, a única intenção [do evento] foi manter o contato com ex-companheiros”.

O presidente do conselho de R2, Sérgio Monteiro, terminou assim nota publicada após a palestra: “Os tenentes estão de volta, prontos! Dê-nos a missão!”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Como se dizia antigamente, é aí que mora o perigo. (C.N.)

Tribuna da Internet

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Quase 60 milhões de brasileiros tem dívidas em atraso, diz SERASA

Marli Moreira
Agência Brasil

A lista de devedores pessoas físicas somou, em agosto, 57,2 milhões e o volume financeiro ficou em R$ 246 bilhões, informou a Serasa. Já os atrasos nos pagamentos de empresas totalizaram 4 milhões de casos, que alcançaram R$ 91 bilhões. Ou seja, a metade das empresas brasileiras não somente está endividada, como também não está conseguindo pagar o que deve. Quase a metade (46%) das empresas com dívidas em atraso é da área do comércio (setores de bebidas, vestuário, veículos e peças, eletrônicos, entre outros). Também há expressiva parcela (44%) concentrada no setor de serviços (bares, restaurantes, salões de beleza e turismo, entre outros) e 9% na área industrial.

Os dados são de um estudo feito pela Serasa Experian.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Notem a gravidade da crise que o governo Dilma Rousseff está aprontando. Dos 200 milhões de brasileiros, temos de diminuir as crianças e adolescentes que não trabalham nem têm cartão de crédito, os incapazes e os excluídos do consumo, que não conseguem comprar nada a prestação. Com essa necessária redução, a estatística da Serasa passa a ser assustadora, e a tendência é piorar, enquanto durar a estagflação (recessão com inflação), que este governo cultiva com a maior dedicação. E ainda existe quem seja contra o impeachment. (C.N.)

Tribuna da Internet

Quem mais sente a crise: a cigarra e a formiga?

Vittorio Medioli
O Tempo

Nota-se que os países mais prósperos, estáveis, as potências econômicas, se sustentam na produção, no trabalho e na tecnologia. Embora não sejam exemplos de santidade, sabem que o ambiente precisa estar permeado de credibilidade e confiança nas instituições, fundamentais para garantir a legalidade e a proteção das atividades. Os marcos regulatórios são condições “sine qua non”. Ninguém investe, empreende ou se dá ao risco maluco de ficar à mercê do acaso. As relações fluem na legalidade, e com isso se multiplicam as oportunidades.

A fraqueza do Brasil se encontra exatamente na falta de garantias, no excesso de burocracia e numa desregrada sede de impostos, e ainda pior, pessimamente aplicados.

Por parte das elites brasileiras falta valorizar as regras do jogo. A corrupção, a infidelidade e as trapaças têm suas raízes no modelo colonial. Subverte-se a ordem natural, e trava-se o fluir das relações, complica-se quem pretende apenas trabalhar, inibe-se o surgimento de empregos, dificulta-se a vida de todos, enfraquece-se, assim, o conjunto nacional, da ex-colônia que continua a agir como tal.

COLONIZAÇÃO

A cultura da Coroa portuguesa – colonizadora no pior dos sentidos – instalou no Brasil a exploração sistêmica de tudo e de todos, a ela é devida uma cota sem qualquer compromisso de retorno. O Brasil era sangrado pela Coroa e o é mais ainda pelo Estado republicano. Está na história como o último país do planeta que aboliu a escravatura. Mesmo assim manteve o viés escravagista nas relações sociais e o ampliou na gana de cobrar. Não se desintoxicou.

Tirava-se da natureza e vendia-se matéria-prima (não elaborada) nos séculos passados, e continua sendo essa a prática mais comum. Raros e insuficientes são os grupos econômicos nacionais que desenvolveram tecnologia e competitividade. Também as multinacionais preferem outras fronteiras para industrializar e inundar o mundo.

A produção da indústria na década de 60 representava 17% do PIB, secou em 2014 para 8%, demonstrando que não existe uma tendência nem uma política definida pelo interesse a transformar, acrescentar valores e aproveitar a farta mão de obra local.

RELAÇÃO DE PESO

Vendem-se montanhas de recursos minerais em valor médio de US$ 50 por tonelada e importam-se smartphones por US$ 5 milhões a tonelada. Em termos de peso, a relação é de 1 para 100 mil. Existe preocupação com essa situação? Nenhuma. Despende-se uma fortuna para manter inativa a nossa mão de obra com esmolas que não geram oportunidades, cultura, emancipação.
Enche-se um navio com 100 mil toneladas para pagar algumas caixas cheias de matéria-prima brasileira elaborada no exterior. A elite política e pensante se lixa disso.

Transcorridos 515 anos do descobrimento, os brasis mantêm a tradição do colonizador. Não existe uma aspiração definida de desenvolvimento ou de proteção às atividades produtivas. Apenas ganhar com o menor esforço. Os valores estratégicos de soberania de uma nação nem sequer são lembrados. O Estado brasileiro é um assassino da competitividade econômica, sabe cobrar tributos, gera complicações, defende a prática de cobrar em excesso. Trata quem trabalha como um idiota, perde seus melhores quadros para o exterior e castra seu futuro. Sem preocupação com a sustentabilidade. O sonho mais comum é criar gargalos para cobrar pedágios. Dessa forma, nada anda.

POUCO COM DEUS

Quando aqui cheguei, há 40 anos, me incomodava a frase frequente, não generalizada, de “quem trabalha não tem tempo para ganhar dinheiro”. Como? Achava mesquinho citar isso. Na escola me ensinaram desde a infância que “o trabalho dignifica o homem”, que é “melhor pouco com Deus que muito com o diabo”.

Ouvia dos mais velhos em casa que o estudo, a dedicação e a persistência eram fundamentais para qualquer sólida realização, condenavam-se as transgressões, que eram taxadas de vergonhosas. Diziam-me que não existia um sucesso estável fora da legalidade. Assustou-me, assim, a insolente forma de contar vantagens de cânticos à esperteza.

Enfrenta-se agora a queda de 3% do PIB nacional, mas o estado de Santa Catarina, uma ilha de mittel Europe (Europa do meio) ainda consegue crescer, em 2015, ao ritmo de 1,5%. Provavelmente, o estado mais respeitoso com valores dignos.

Vale lembrar que o exército romano não ganhava batalhas pelo porte físico de seus soldados, mas pela inteligência de seus generais (conhecimento e disciplina) e pela qualidade dos armamentos (tecnologia). Mais sente a crise, neste momento, a cigarra que a formiga.

Tribuna da Internet