segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Não é boato: Minas Gerais está indo à falência

Vittorio Medioli
O Tempo


Ícones da economia mineira como Vale, Samarco, Açominas (hoje Gerdau) e Acesita (hoje ArcelorMittal), as construtoras Mendes Júnior e Andrade Gutierrez apresentam quedas de receitas que nunca foram imaginadas em suas longas trajetórias. Defrontam-se com quadros sombrios no curto prazo. A Fiat (agora FCA) amarga 50% de carros vendidos a menos que em 2012. Se nesta altura as coisas são preocupantes, no andar de baixo, no cinturão de fornecedores e prestadores de serviços, os ventos já levam empresas embora como folhas secas no inverno.

A produção industrial de Minas precipitou em 12% até dezembro de 2015, um desastre que ainda se acelera. Em janeiro deste ano, o setor automotivo registrou um afundamento de 39,8% sobre janeiro de 2015, que foi um dos piores da história.

O Estado de Minas Gerais voltou a ter níveis de produção como os da década de 90, apesar de a população ter crescido 20% desde aquela gloriosa década.

As sirenes já tocavam em 2014 durante a campanha presidencial, entretanto, no lugar que caberia a uma figura de ampla visão, a reeleita Dilma Rousseff deu as rédeas a Joaquim Levy, saudado pela imprensa especializada e pelo próprio PSDB como “um dos nossos”. Na realidade, um fracasso sem precedente que poderia ser considerado o cavalo de Troia que fez ruir a cidade petista. Ele está para o Brasil assim como o tsunami foi para a Tailândia ou a guerra de 1964 para o Vietnã.

PERDEU O RUMO

Maior desgraça seria impossível. A economia nacional perdeu o rumo e aniquilou a competitividade. As contas públicas se esgarçaram.

Levy, enquanto tentava aumentar impostos para arrecadar mais R$ 50 bilhões, elevou os juros pagando R$ 501 bilhões a banqueiros. Para arrecadar R$ 50 bi a mais, aumentou o serviço da dívida em R$ 180 bilhões. Perdeu 5,6% de arrecadação. Um aprendiz faria melhor.

E Dilma pretende ainda a CPMF, o mais regressivo dos impostos, um golpe a ser pago pela economia popular e com mais desempregados. O que falta ao Brasil é cortar pela metade os cargos e os gastos do poder público e também o número de cargos de nomeação ampla. Implantar austeridade e respeito com o que se tira do contribuinte.

As culpas não são todas de Levy, mas ele se prestou a fazer apenas o interesse dos especuladores. Concedeu aos bancos os maiores lucros de todos os tempos, enquanto o Brasil se desgraçava e afundava. Isso, como criticado pelas melhores inteligências econômicas do planeta, devasta a economia. Neste momento dá-se ênfase ao crescimento econômico como solução para fugir da queda de arrecadação e da geração de desequilíbrios sociais. No Brasil, se asfixia exatamente a produção, que é como aumentar água na garganta de alguém que está se afogando.

CATÁSTROFE EM MINAS

A crise em Minas decretou 200 mil desempregados em 2015, e esse número catastrófico poderá se repetir já no primeiro trimestre de 2016 com mais uma quebra: a Usiminas. Considerada a estrela da siderurgia brasileira, a empresa de Ipatinga, engasgada com dívidas e prejuízos bilionários, está para fechar as portas.

A deterioração da histórica siderúrgica de Minas determinou-se não apenas pela conjuntura adversa e nem pela briga entre sócios – de um lado, os nipônicos da Nippon Steel, e, do outro, os ítalo-argentinos da Ternium.

A Usiminas vinha se reestruturando com a gestão dos “argentinos”. As ações na Bovespa chegaram a seu melhor momento, R$ 14, e a credibilidade protegia a empresa. Entretanto, o acordo entre acionistas foi ruidosamente implodido pelos nipônicos, com acusações que até hoje não passam da inaptidão. O grupo Ternium, até pela falta de articulação política no Brasil, perdeu a queda de braço; os diretores saíram e, de lá pra cá, a empresa entrou em parafuso com ações não valendo um insignificante 5% do que já valeram há dois anos.

Joaquim Levy de fora e um grupo desastroso de dentro reduziram a geração de caixa em 18 vezes, até esvaziá-la; o saldo de liquidez hoje não cobre um dia de necessidades. A insolvência se dará a qualquer momento. Os bancos exigem um aporte de R$ 4 bilhões de capital dos acionistas para diminuir a exposição e ainda querem avaliar um plano de recuperação que não existe.

USIMINAS AFUNDANDO

Como um barco que quebrou o leme, perdeu as velas e bateu num rochedo, a Usiminas está afundando. Os japoneses, conhecidos pela frieza e orgulho, parecem dispostos ao haraquiri antes de recuarem de suas posições.

Na Cidade Administrativa, na última sexta, o nervosismo estava no ápice. A Usiminas se perdeu e, por fim, perdeu também a credibilidade e o crédito. Sua avaliação internacional precipitou para CCC1. Quer dizer: empresa falida.

Que os japoneses percam aqui alguns bilhões, para eles pode não fazer diferença, mas para Minas será uma catástrofe de desemprego e perda de renda. O Vale do Aço, vermelho de lama da Samarco, pode se transformar num vale das lágrimas da Usiminas.


Agora o governo de Fernando Pimentel, que se queixa de ter encontrado as contas do Estado arrasadas e com R$ 7 bilhões de dívidas inadministráveis, mantidas “fantasiadas” ao longo do governo tucano, será testado. A falência da Usiminas vai exigir muito dele para evitar a perda de milhares de empregos e garantir uma arrecadação fundamental para o erário mineiro.

Tribuna da Internet