Julia Affonso, Ricardo Brandt, Mateus Coutinho e Fausto Macedo
Estadão
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Na denúncia ao Supremo, em que acusa ex-presidente de tramar contra a
Lava Jato por meio da ‘compra do silêncio’ de Nestor Cerveró,
procurador-geral aponta documentos cedidos por senador. O senador
Delcídio Amaral (ex-PT-MS) entregou à Procuradoria-Geral da República
uma série de documentos que, segundo ele, comprovam seu encontro com o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tramar contra a Operação
Lava Jato. Lula foi denunciado pelo procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF) por obstrução à
Justiça.
O procurador também pediu a inclusão do petista no inquérito-mãe que
investiga dezenas de políticos por suspeita de envolvimento com o
esquema de corrupção na Petrobrás.
COMPRAR O SILÊNCIO
Delcídio relatou ao Ministério Público Federal que foi chamado por
Lula, em meados de maio de 2015, em São Paulo, para ‘tratar da
necessidade de se evitar que Nestor Cerveró fizesse acordo de
colaboração premiada’.
Segundo o senador, Lula o teria incumbido de ‘viabilizar a compra do
silêncio de Nestor’ para proteger o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo
do ex-presidente.
“OUTROS ELEMENTOS”
Janot anotou em manifestação ao STF. “A respeito desse fato, há
diversos outros elementos, tais como e-mail com comprovante de
agendamento da reunião entre Lula e Delcídio no Instituto Lula, no dia 8
de maio de 2015; comprovantes de deslocamento efetivo do senador para
São Paulo compatível com esta data; outros documentos que atestam
diversas outras reuniões entre Lula e Delcídio no período coincidente às
negociatas envolvendo o silêncio de Nestor Cerveró, além de registros
de diversas conversas telefônicas mantidas entre Lula e (o pecuarista)
José Carlos Bumlai e entre este e Delcídio”, afirma o procurador-geral
da República.
“Todos esses elementos estão encartados no aditamento de denúncia dos autos 4170”.
PAGARAM 250 MIL
Delcídio afirmou que o filho de Bumlai, Mauricio Bumlai, pagou R$ 250
mil à família de Cerveró, ‘por interferência de Lula’. De acordo com o
senador, Lula ‘pediu expressamente’ a Delcídio que ajudasse Bumlai,
amigo do petista.
O ex-líder do governo contou em delação premiada. “O Lula tinha
especial preocupação com a situação de José Carlos Bumlai porque eles
ficaram muito próximos durante a primeira campanha de Lula à Presidência
da Republica e depois disso, Bumlai se tornou o grande conselheiro de
Lula, com forte influência em diversos negócios do governo, além de ter
sido avalista de um empréstimo milionário obtido pelo PT junto ao Banco
Schahin e de ter ajudado a construir, estruturar e organizar o Instituto
Lula, entre outros.
GRAVAÇÕES
O procurador-geral da República ainda levou em consideração, no
pedido de aditamento à denúncia contra Delcídio, as gravações captadas
por Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró. Em novembro de 2015, foi
entregue por Bernardo Cerveró à Procuradoria-Geral da Republica um áudio
‘revelador da grande trama criminosa envolvendo a obstrução da presente
investigação, por meio da compra do silêncio de Nestor Cerveró’.
“A partir daí as investigações ganharam novos contornos e se
constatou que Luiz Inácio Lula da Silva, José Carlos Bumlai e Mauricio
Bumlai atuaram na compra do silêncio de Nestor Cerveró para proteger
outros interesses, além daqueles inerentes a Delcídio e a André Esteves,
dando ensejo ao aditamento da denúncia anteriormente oferecida nos
Autos 4170/STF”, afirma Janot.
FATOS ILÍCITOS
“Os depoimentos de Nestor Cerveró deixam evidente que a intenção dos
articuladores do silêncio de Nestor era esconder fatos ilícitos
envolvendo Luiz Inácio Lula da Silva, José Carlos Bumlai, André Esteves,
Delcídio Amaral, além de outras pessoas que possivelmente também
integram a organização criminosa objeto deste inquérito”.
O Instituto Lula defende o ex-presidente, dizendo que “a peça
apresentada pelo Procurador-Geral da República indica apenas suposições e
hipóteses sem qualquer valor de prova. Trata-se de uma antecipação de
juízo, ofensiva e inaceitável, com base unicamente na palavra de um
criminoso”.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Muito importante a reportagem enviada pelo comentarista Virgilio Tamberlini. Mostra por que recordar é viver. Até pouco tempo atrás, o “criminoso” a que se refere o Instituto Lula era simplesmente líder do governo no Senado da República. Ou seja, representava o governo federal e fala em nome dele, criminosamente. (C.N.)
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