terça-feira, 31 de maio de 2016

É preciso projetar o que virá depois do capitalismo. Porque algo virá depois!

Moacir Pimentel

Só mesmo na Tribuna da Internet há interesse de discutir “O Capital no Sèculo XXI”, em meio a esse tiroteio caboclo. O economista francês Thomas Piketty é um fato novo, porque, apesar de detalhar o caminho da desigualdade de renda ao longo de várias centenas de anos nas mais de 700 páginas, sua densa obra conseguiu ser um sucesso… de vendas! Tem mais. O novo Tocqueville foi capaz de tal façanha apesar de ser o portador de más notícias ou de uma teoria deprimente: a de que a meritocracia do capitalismo é uma grande mentira e que esse sistema econômico será incapaz de cumprir suas promessas.

Isso tudo porque o crescimento econômico será sempre menor do que os lucros do dinheiro que é investido. Desnecessário enfatizar que nos beneficiamos apenas de crescimento econômico e não dos lucros do dinheiro alheio investido em acumulação apenas para os ricos.

As consequências da equação são claras, mas o cerne do livro é mais profundo: não é só contra a desigualdade de riqueza e renda que estamos lutando, mas contra a desigualdade de oportunidades.

TRABALHO E CAPITAL

Na essência, o que Piketty está dizendo é que o trabalho duro não conduz, “nem aqui nem na China”, à riqueza. E que, principalmente e muito ao contrário, só a riqueza conduz de forma confiável para a riqueza.

A classe média, segundo a tese pickettyana, joga na loteria econômica para melhorar sua sorte na vida, enquanto os ricos já nascem com um destino certo.Portanto, era uma vez o sonho americano, já bem abalado depois de Dick Cheney, Guantánamo e da Bolha!

Mais uma vez a Tribuna da Internet resume e acerta ao fazer um aparte no sentido de que “o Piketty não diz que os pobres estão mais pobres, ele apenas registra que a desigualdade sempre aumenta e que os ricos estão mais ricos”.

DESIGUALDADE

O propósito de Piketty não é de salientar que existe desigualdade, ou que ela está crescendo. Tal verdade já foi repetida ad nauseum por todos, do Obama ao Papa Francisco. O que Piketty afirma é que estamos realmente condenados a desigualdade e que, portanto, há que se questionar a moralidade do capitalismo.

A controvérsia quanto às teorias de Piketty mora, porém, noutro capítulo do livro.No qual ele sugere que se tente mudar a alavancagem inevitável da desigualdade de renda, através de um imposto sobre a riqueza – não sobre o rendimento da classe média – sobre o dinheiro que é investido e reinvestido e acumulado forma crescente. Pense em um barulho!

O livro de Piketty é uma novidade porque está provocando uma “conversa” nos EUA e por todo o vasto mundo, que já deveria ter rolado, seriamente, há muito tempo atrás.

DUAS MANEIRAS DE MUDAR

Temos que considerar que, apesar das gritantes diferenças entre o Velho Mundo e o Novo Mundo, entre as realidades africanas, asiáticas e emergentes, existem apenas duas maneiras de mudar uma sociedade: a partir da parte inferior ou a partir do topo da pirâmide.

O famoso Occupy Wall Street tentou mudanças pela primeira via e pavimentou a estrada com o populismo. Thomas Piketty está tentando o segundo caminho: ele agitou as cabeças pensantes, as classes pundit, os think tanks que produzem e difundem conhecimento sobre assuntos estratégicos, com vistas a influenciar transformações sociais, políticas, econômicas ou científicas, sobretudo em assuntos sobre os quais pessoas comuns não encontram facilmente base para análises de forma objetiva.

NO PÓS-MARX

Piketty mexeu fortemente com os acadêmicos americanos como aconteceu com pensadores estrangeiros como Marx e mais recentemente como Hannah Arendt e Jürgen Habermas na segunda metade do século 20. É bom lembrar que, enquanto na década de 1960 a ciência política tinha apenas cinco especialidades, o número hoje aumentou para mais de uma centena.E que não existia a web.

Hoje, os especialistas desempenham um papel cada vez maior na divulgação de ideias e pontos de vista de uma forma acessível ao público. Estou falando de gente que lida com as grandes questões em linguagem mais acessível, mais popular, nos noticiários noturnos em redes de notícias a cabo, por exemplo.

Não é à toa, portanto , que Piketty possua o maior número de leitores em Nova York e Washington, nem é surpresa que, neste contexto, Bernie Sanders – já quase sem chances na real – continue no topo de todas as pesquisas eleitorais americanas, com mais de 10 pontos de vantagem sobre o Trump.

LER MULGAN

De todo jeito, antes de lermos Piketty, talvez fosse melhor- quem sabe? – ler da lavra de Geoff Mulgan a obra, “O Gafanhoto e a Abelha”. A base de todo o livro é a dualidade do capitalismo. Sua faceta Janus, sua hipocrisia, seus dois lados, um yin e o outro yang, de predador e de criador, de disseminar riqueza sem perder a capacidade de, simultaneamente, concentrá-la.

É preciso olhar para o capitalismo com distanciamento, para então projetar o que virá depois. Porque algo virá depois!

Que me desculpem os pessimistas, mas… é assim que caminha a humanidade.

Tribuna da Internet

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Ministro da Defesa revela como os militares monitoram os movimentos sociais

Luiz Maklouf Carvalho

Estadão


O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse, em entrevista ao Estadão, que um dos maiores problemas do governo do presidente em exercício Michel Temer para tirar o Brasil da crise “é que parte do Congresso é de réus”. Também deputado federal licenciado (PPS-PE), o ministro complementou: “Se há inteligência no Congresso, e eu acho que há, todos sabem que chegou ao fundo do poço”. Apontou, como solução, que a Operação Lava Jato vá às últimas consequências, sem interferências.

A Lava Jato não se incluirá em nenhum pacto político – e nem pode, e nem deve”, afirmou.“Político que enriquece na política só tem um jeito: roubou. Eu estou dizendo isso aqui, gravado”. Sua declaração de bens comprova: R$ 47.600,00 e um carro (do qual ainda falta pagar R$ 16 mil). “É todo o meu patrimônio”, afirmou. ”E não adianta procurar laranjas, porque não vão achar”.

O governo Michel Temer está completando 15 dias. Que avaliação o sr. faz?

A minha geração tem experiência de duas transições fruto do impeachment. Uma foi a do Itamar (Franco, presidente da República em 1993 e 1994), da qual participei. Essa é a segunda. O Itamar assumiu com estabilidade política e sem questionamentos do impeachment do Collor (Fernando, ex-presidente, de 1990 a 1992). Hoje, com a transição em andamento, o presidente Temer tem que conquistar a estabilidade política, que não está dada. E o impeachment da presidente Dilma vai ser um processo de resistência e alongado.

E como entra a Operação Lava Jato nessa equação?

É a outra diferença em relação ao Itamar. Lá não tinha a Lava Jato, e então o pacto político podia incluir todas as variáveis. Agora, não. Tem uma variável independente, chamada Lava Jato, que não se inclui em nenhum pacto político, e nem deve, e nem pode. Só que ela tem o efeito de provocar, na política, turbulências e ondas de choque que tem que ser administradas. É por isso que a tarefa do presidente Michel Temer é muito maior do que foi a do Itamar, no sentido de desdobramento, de esforço e de necessidade de aglutinação.

E como é que se governa com um Congresso em que uma parte é de réus?

Não inibindo a Lava Jato, essencialmente. Se há inteligência no Congresso, e eu acho que há, todos sabem que chegou ao fundo do poço. Todos sabem. E essa baixa representatividade, esses descolamento que existe, ele é um convite a salvadores da pátria, a profetas, a descaminhos. É só olhar a história dos países vizinhos, e mesma a nossa história. As lições estão todas lá.

O sr. tem informações sobre o que ainda pode vir à tona?

Não tenho como saber. O que eu acho é que virá, e por isso ela precisa ser garantida, inclusive contra a política, para prosseguir e passar a política a limpo. Não irá adiante se a parcela regeneradora do Congresso não apoiar.

Qual é a sua opinião sobre as gravações em que o senador Romero Jucá propõe uma articulação para “estancar a sangria” da Lava Jato?

Vou dar uma resposta genérica, não dirigida ao ministro Jucá, porque eu não quero prejulgá-lo. É muito simples: não cabe sufocar, inibir, atrapalhar, desviar, paralisar, evitar o andamento da Lava Jato.

O presidente Temer optou por colocar no Ministério políticos investigados pela Lava Jato – mesmo sendo muito provável que isso traria problemas e desgastes. O sr. usaria esse critério se estivesse no lugar dele?

Eu não sou o presidente e não vou raciocinar com hipóteses. O presidente lida com realidades: a necessidade da estabilidade, a urgência de aprovar medidas dentro do Congresso que aí está. Não é outro Congresso. É este. Ele tem que lidar com esse fio da navalha. E ainda há o fato de conviver com o processo de julgamento da presidente afastada, em andamento no Senado, que é um polo para desestabilizar o governo e reverter a situação.

Desestabilizar?

Claro, o objetivo é exatamente este. Eu me indignei muito quando a presidente iniciou esse discurso de que o processo de impeachment é golpe.

Por quê?

Ora, se a presidente diz que tem um golpe em curso, ela tem por dever, por ter jurado isso na posse, tomar as providências. Não pode ficar falando isso retoricamente. Se há um golpe, se estão ameaçadas as instituições democráticas, que ela jurou defender, e a Constituição, como é que ela pode falar em golpe e não agir? Ela nunca age, nunca agiu.

Agir em que sentido?

Ela pode ir ao Ministério Público e denunciar o golpe e dizer quem são os golpistas, identificar. Porque, a considerar isso, golpistas seriam o Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal. Por que ela não faz essa denúncia? Porque desmoraliza o discurso.

Ela não tem o direito de entender que foi um golpe?

Direito ela tem. Mas se diz que é um golpe, e não age, é apenas retórica, é irresponsável ou está prevaricando, porque é atribuição dela defender as instituições democráticas.

A presidente Dilma volta ou não volta. Qual é a sua expectativa?

A minha expectativa é, sobretudo, que isso se decida rapidamente. Nem tão rápido que rápido que não permita todos os direitos e o contraditório da presidente, nem tão devagar que eternize as condicionalidades do governo. O fundamental é que se tome uma decisão, seja ela qual for. Politicamente, a minha impressão, primeiro, é de que é dificílimo que o retorno venha a acontecer e, segundo, que um eventual retorno não venha a ser bom para o País. Mas o Senado é soberano e caberá a ele decidir.

Os militares, agora sob o seu comando, estão monitorando os movimentos sociais – como dito pelo senador Romero Jucá em uma das gravações grampeadas?

As Forças têm serviço de inteligência. Fazem esse monitoramento desde sempre – não só este governo, mas nos governos Dilma, Lula, Fernando Henrique, Itamar, Collor. Por definição, é exatamente monitorar a conjuntura, a situação nacional, para informar os chefes militares e o ministro da Defesa. Não há nenhuma diferença entre o que está sendo feito hoje e o que o governo Lula ou o governo Dilma faziam em relação ao MST. Não mudou nada. Monitorar não é bisbilhotar, interferir, grampear, nada disso.

Defina monitorar. 

Fazer um acompanhamento, através da imprensa, através de informações que você possa ter. Tem unidades espalhadas por todo o País. ‘Olha vamos ter uma manifestação aqui’, seja o que for, você acompanha.

Digamos que é uma forma mais técnica de bisbilhotagem.

Não. Bisbilhotar jamais. É contra a Constituição. É interferir em direitos e garantias que não podem de forma nenhuma ser alcançados ou feridos. Hoje, nas Forças, não há a menor resistência em compreender e aceitar o papel dos movimentos sociais, de reivindicar, de protestar. Não tem nenhum problema em relação a isso.

Como é que os militares acompanharam e estão acompanhando essa transição?

Os militares foram impecáveis, não cometeram qualquer deslize. A posição que eu sempre ouvi deles foi: ‘não apoiamos nenhuma aventura’.

Estavam preparados para a possibilidade de aventuras?

Por definição eles estão sempre preparados. Desde que convocados por um dos três Poderes, como manda a Constituição. Como eu ouvi dos comandantes e continuo ouvindo: fora da Constituição nada, zero.

Como é que o presidente o escolheu para o Ministério da Defesa?

Ao que eu sei, ele enviou um emissário aos comandantes militares, que sugeriram o meu nome. Em paralelo, o (Eliseu) Padilha (hoje ministro da Casa Civil) foi conversar com o (Nelson) Jobim, ex-ministro da Defesa. ‘Olha, tem um cara que já foi ministro, e é muito respeitado pelos militares, que é o Jungmann’. Depois o presidente ligou, pediu que eu fosse ao Jaburu e me convidou. Eu disse a ele: ‘Não cabe reivindicar nada, para não constrangê-lo e para que o sr. faça o melhor governo que possa fazer; agora, por responsabilidade, não cabe recusar, então eu aceito’.

Tribuna da Internet

terça-feira, 24 de maio de 2016

Com tapa na mesa, Temer diz que sabe governar e corrigir seus erros

Gustavo Uribe e Marina Dias

Folha


O presidente interino, Michel Temer, fez nesta terça-feira (24) um discurso exaltado em que afirmou que sabe governar, não é “coitadinho” e já “tratou com bandidos” quando foi secretário de Segurança Pública de São Paulo. “Tenho ouvido: ‘Temer está muito frágil, coitadinho, não sabe governar’. Conversa! Fui Secretário de Segurança duas vezes em São Paulo e tratava com bandidos”, afirmou batendo com uma das mãos sobre a mesa. “Então eu sei o que fazer no governo”, completou.

De perfil calmo e bastante discreto, Temer surpreendeu os parlamentares da base aliada que se reuniram com ele no Palácio do Planalto para discutir medidas econômicas e a votação no Congresso da nova meta fiscal.

Para responder as críticas que seu governo tem sofrido da oposição, de que comete erros e recuos constantes, o presidente interino disse que sua equipe não tem que ter compromisso com erros. E explicou: “Quando houver equívoco, tem que rever a posição. Se fizer [o equívoco], consertá-lo-ei”.

“BANDIDOS”

Após reunião com Temer, o ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) foi questionado por jornalistas se Temer se referia à classe política ou aos movimentos sociais quando fez referência aos “bandidos” que tratou em sua gestão como secretário de segurança, na década de 1980 e 1990.

Segundo Geddel, Temer se referia “à pressão que enfrentou no período” e, portanto, “não cabe novas ilações”.

“Ele [Temer] já enfrentou problemas e tem estofo para aguentar qualquer tipo de pressão com diálogo e firmeza, sem violência. Ele está absolutamente preparado para enfrentar as pressões que o cargo impõe”, disse o ministro.

SÓ CORRIGINDO…

Desde que tomou posse, na sexta-feira (13), Temer tem sofrido críticas por declarações de ministros que precisou rever, como por exemplo a do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, que propôs uma nova forma de escolha para procurador-geral da República. Temer desautorizou o aliado.

Além disso, ele foi criticado por ter extinguido e depois recriado o Ministério da Cultura, por não ter nomeado nenhuma mulher para seu ministério, entre outras coisas.

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  NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Certos jornalistas realmente são capciosos. É claro que Temer, ao falar de sua experiência na Secretaria de Segurança, estava se referindo a criminosos comuns e não a políticos corruptos. Querer misturar as coisas é um bocado de exagero, como se dizia outrora. (C.N.)

Tribuna da Internet

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Governador Pimentel segue exemplo de Dilma e está prestes a ser afastado

Frederico Vasconcelos

Folha


O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), deverá receber até esta terça-feira (dia 17) notificação da Justiça Federal para apresentar defesa sobre a denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e falsidade de documento particular. Trata-se de desdobramento da Operação Acrônimo, que investiga suposto esquema de financiamento ilegal de campanhas políticas do PT.

O Superior Tribunal de Justiça deu início à ação penal e enviou para a Justiça Federal em Belo Horizonte a Carta de Ordem para determinar a notificação.

15 DIAS PARA SE DEFENDER

Depois de notificado, o governador terá 15 dias para apresentar a defesa e juntar documentos que serão remetidos ao relator, ministro Herman Benjamin, do STJ.

O relator, então, deverá marcar o dia da sessão da Corte Especial para receber ou rejeitar a denúncia oferecida pelo PGR.

Na última quarta-feira (11), Benjamin levantou o segredo de justiça do processo, permitindo consulta aos autos pelo sítio eletrônico, inclusive nominal, e física. Manteve restrita a consulta aos autos apartados e às mídias eletrônicas, elementos nos quais há informações constitucionalmente protegidas, às partes e a seus procuradores habilitados.

Também deverão ser notificados em Minas Gerais, além do governador, o atual presidente da Cemig, Mauro Borges, e Otílio Prado, ex-sócio de Pimentel.

R$ 2 MILHÕES EM PROPINAS

Segundo a Procuradoria, o esquema rendeu R$ 2 milhões em propina a Pimentel, que na condição de governador, já em 2015, continuou atuando e se comprometeu a fazer gestões para beneficiar a Caoa, empresa acusada de participação nas irregularidades.

Também foram denunciados o dono da Caoa, Carlos Alberto de Oliveira Andrade, o presidente e sócio da empresa, Antônio dos Santos Maciel Neto, o empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto –conhecido por Bené e considerado operador do governador no esquema–, o ex-ministro do Desenvolvimento Mauro Borges Lemos, Pimentel Otílio Prado, ex-sócio da Pimentel, e Fábio Mello, um funcionário de Bené.
A denúncia é assinada pela vice-procuradora-geral da República, Ela Wiecko.

Em nota, o advogado Eugênio Pacelli, que defende Pimentel, afirmou que já submeteu ao STJ “uma questão de ordem com relação às inúmeras ilegalidades praticadas durante a investigação”.


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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Ficou faltando a reportagem anunciar o mais importante: se a defesa não for aceita e Pimentel se tornar réu de processo no STJ, vai seguir o mesmo caminho de sua grande amiga Dilma Rousseff e será automaticamente afastado do governo de Minas Gerais. Conforme revelamos aqui na Tribuna da Internet há duas semanas, o vice-governador Antônio Andrade (PMDB) já mandou fazer o terno de posse. Ex-deputado federal e ex-prefeito de Patos de Minas, Andrade é o Temer em versão mineira. (C.N.)

Tribuna da Internet

sábado, 14 de maio de 2016

Brasil pode se tornar um país ingovernável

Carlos Chagas

Durou pouco a temporada de euforia do novo governo diante dos desafios para recuperar o crescimento econômico e reduzir o desemprego.  Na sua primeira entrevista depois de empossado, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, sustentou a obrigação de ser dita a verdade diante das dificuldades e empecilhos que levaram a economia nacional ao fundo do poço.
A consequência, que ele apenas sugeriu, será o aumento de encargos à sociedade. A partir de segunda-feira começarão a ser definidas as medidas de contenção de gastos públicos e de consequentes sacrifícios à população.
A opção pelo mercado não deixa dúvidas: para o país voltar a crescer e assim criar empregos, só facilitando a atividade empresarial e ao mesmo tempo penalizando a massa assalariada. A receita é milenar e bate de frente com as políticas sociais.
Logo virão os efeitos, para os quais o PT e penduricalhos já se preparam, apesar das promessas do novo presidente Michel Temer. Não haverá como deixar de atingir iniciativas assistencialistas, dos múltiplos planos e programas implantados há treze anos.
UM NÓ IMPOSSÍVEL
Eis o nó impossível de desatar, objetivo maior dos responsáveis pelo afastamento de Dilma, que de seu turno nada percebeu e nada conseguiu fazer para impedir o retorno ao neoliberalismo.
Vale aguardar as primeiras medidas de arrocho social e as inevitáveis reações da maioria. Nada de recuperação da popularidade de Madame, mas a rejeição da volta ao favorecimento das elites será explosiva.
Mais do que sonhos e fantasias, é o que nos espera. Logo a classe média estará se aproximando das massas e, pelo lado oposto, tornando o país ingovernável. A menos, é claro, que Henrique Meirelles tenha virado Mandrake.
Tribuna da Internet

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Era do PT chega ao fim, com Dilma afastada do governo por 55 votos a 22

Carlos Newton
Não houve surpresa e o Planalto ficou longe de conseguir os 30 votos que pretendia, para sonhar com uma reversão do afastamento da presidente Dilma Rousseff na votação definitiva daqui a alguns meses. Por 55 votos a 22, o Senado decidiu aprovar a abertura do processo de impeachment, afastando-a do cargo por 180 dias, em sessão que começou às 10 horas na manhã de quarta-feira e somente realizou a votação às 6h33m desta quinta-feira.
A decisão precisava do voto de 40 senadores dos 78 senadores presentes, pois dois parlamentares faltaram à sessão, Delcídio Amaral foi cassado na terça-feira, e seu suplente ainda não assumiu o mandato.
O afastamento tem prazo máximo de 180 dias, mas a previsão é que antes disso o Senado julgue a presidente Dilma pelas pedaladas fiscais e créditos orçamentários sem autorização .
TEMER ASSUME
Com a aprovação pelo Senado, o vice Michel Temer (PMDB) assume assim que for notificado da decisão. Sem necessidade de cerimônia de posse. Dilma é a segunda presidente afastada para ser julgada politicamente pela acusação de crime de responsabilidade desde a redemocratização, repetindo Fernando Collor em 1992.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) se absteve e houve apenas 22 votos a favor. Collor votou a favor do impeachment.
Para voltar ao poder ao final do processo, Dilma Rousseff precisará manter os 22 votos e reverter mais 6 votos contrários. É missão praticamente impossível, a Era do PT acaba de ser encerrada, após 13 anos e quatro meses de poder.

Tribuna da Internet

sábado, 7 de maio de 2016

Eleição de prefeito muçulmano em Londres traz esperanças de um mundo melhor

Deu em O Globo


No discurso de vitória do trabalhista Sadiq Khan para a eleição municipal de Londres, na qual o primeiro prefeito muçulmano da capital britânica, um candidato de extrema-direita virou as costas para ele durante o discurso, em sinal de repúdio ao político. Com 44% dos votos, Khan derrotou o conservador Zac Goldsmith, filho de um bilionário, que ficou com 35%.

— Londres escolheu a esperança sobre o medo, e a união sobre a divisão — declarou ele, pouco após sua vitória ser oficializada, no início da madrugada de sábado.

Enquanto Khan falava, acompanhado dos candidatos derrotados na disputa, Paul Golding, do partido Britain First (Bretanha Primeiro), virou as costas. Autodeclarado de inspiração neofascista, o candidato de extrema-direita, que não chegou a 1% dos votos, havia dito ao se candidatar que era contra os muçulmanos na política. Ligado a movimentos ilegais de cunho nazista, o partido já foi acusado de abrigar atacantes a mesquitas e criminosos de ódio em sua curta história de cinco anos.

MODERNO E PROGRESSISTA

A vitória de Sadiq Khan, de 45 anos, confirmou as pesquisas de opinião, que apontavam uma vantagem de 12% sobre Goldsmith. No total, 5,6 milhões de londrinos foram convocados a votar. Goldsmith e o primeiro-ministro David Cameron insistiram em apresentar Khan como alguém com vínculos com extremistas muçulmanos, uma estratégia que pode se voltar contra os conservadores.

— Khan é claramente um muçulmano moderno e progressista. Se os seus oponentes se aventurarem muito neste terreno, correm o risco de enfrentar uma reação enérgica — disse Tony Travers, professor da London School of Economics.

Em entrevista à AFP, Khan denunciou a campanha “divisiva e desesperada” dos conservadores.

— Sou londrino, sou britânico, sou de fé islâmica e tenho orgulho de ser muçulmano. Sou de origem asiática, paquistanesa. Sou um pai, sou um marido, sou sofrido torcedor do Liverpool há muito tempo. Sou todas estas coisas — disse. — Mas o melhor desta cidade é que você pode ser um londrino de qualquer confissão ou de nenhuma, e aqui fazemos algo mais que tolerar: nos respeitamos, recebemos com os braços abertos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Jemima Goldsmith, irmã do candidato conservador derrotado, parabenizou o rival e disse que Khan é “um grande exemplo para os jovens muçulmanos”. Exatamente, é isso que deve ser destacado. O exemplo de Khan nos abre esperança de um mundo melhor, em que os povos se respeitem e se relacionem sem influência das ideologias e das religiões. Somos todos iguais, embora pareçamos diferentes. (C.N.)

Tribuna da Internet

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Perplexa, a esquerda ainda tenta sair dos escombros do Muro de Berlim

Cristovam Buarque


Durante o regime militar havia uma “esquerda de luta” e uma “esquerda festiva”. A primeira fez parte dos movimentos que levaram à conquista da democracia; a última foi decisiva na realização das revoluções estética e comportamental, que ocorreram naqueles anos. Hoje, estão atuantes uma “esquerda nostálgica”, enquanto uma “esquerda perplexa” tenta sair dos escombros provocados pela queda do Muro de Berlim, pela amplitude da globalização, a profundidade da revolução científica, o poder e a universalização dos novos instrumentos de tecnologia da informação; além de tentar se recuperar do constrangimento com a degradação ética e a incompetência dos últimos governos.

Diferente da “esquerda festiva”, que fez revoluções na estética e nos costumes, a “esquerda nostálgica” não contribui para a transformação estrutural da sociedade e da economia; louva o passado, se agarra ao presente e comemora pequenas conquistas assistenciais. Prisioneira de seus dogmas, com preguiça para pensar o novo, com medo do patrulhamento entre seus membros, viciada em recursos financeiros e empregos públicos, a “esquerda nostálgica” parece não perceber o que acontece ao redor. Independentemente das transformações no mundo, no país, nos bairros.

ESQUERDA NOSTÁLGICA

A esquerda nostálgica continua orientada aos mesmos propósitos elaborados nos séculos XIX e XX, mantém a mesma fidelidade, reverência e idolatria aos líderes do passado, especialmente aqueles que têm o mérito do heroísmo da luta durante o regime militar, mesmo quando não foram capazes de perceber as mudanças no mundo, nem os novos sonhos utópicos para o futuro.

Com nostalgia do passado, reage contra o “espírito do tempo” que exige agir dentro da economia global e romper com a visão de que a estatização é sinônimo de interesse público; não reconhece que a inflação é uma forma de desapropriação do trabalhador; que o progresso material tem limites ecológicos e é construído pela capacidade nacional para criar ciência e tecnologia; que os movimentos sociais e os partidos devem ser independentes, sem financiamentos estatais.

OPORTUNIDADES IGUAIS

Ignora também que a revolução não está mais na expropriação do capital, está na garantia de escola com a mesma qualidade para o filho do trabalhador e o filho do seu patrão; que a igualdade deve ser assegurada no acesso à saúde e à educação, sem prometer igualdade plena, elusiva, injusta e antilibertária ao não diferenciar as individualidades dos talentos; não assume que a democracia e a liberdade de expressão são valores fundamentais e inegociáveis da sociedade, tanto quanto o compromisso com a verdade e a repulsa à corrupção.

Para sair da perplexidade, uma nova esquerda precisa fugir da nostalgia por siglas partidárias que tiveram a oportunidade de assumir o poder e construir seus projetos, mas traíram a população, os eleitores e a história, tanto na falta de ética, quanto na ausência das transformações sociais prometidas.

(artigo enviado pelo comentarista Mário Assis Causanilhas)

Tribuna da Internet

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Delcídio entregou documentos que incriminam Lula, diz Janot

Julia Affonso, Ricardo Brandt, Mateus Coutinho e Fausto Macedo
Estadão

Na denúncia ao Supremo, em que acusa ex-presidente de tramar contra a Lava Jato por meio da ‘compra do silêncio’ de Nestor Cerveró, procurador-geral aponta documentos cedidos por senador. O senador Delcídio Amaral (ex-PT-MS) entregou à Procuradoria-Geral da República uma série de documentos que, segundo ele, comprovam seu encontro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tramar contra a Operação Lava Jato. Lula foi denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF) por obstrução à Justiça.

O procurador também pediu a inclusão do petista no inquérito-mãe que investiga dezenas de políticos por suspeita de envolvimento com o esquema de corrupção na Petrobrás.

COMPRAR O SILÊNCIO

Delcídio relatou ao Ministério Público Federal que foi chamado por Lula, em meados de maio de 2015, em São Paulo, para ‘tratar da necessidade de se evitar que Nestor Cerveró fizesse acordo de colaboração premiada’.

Segundo o senador, Lula o teria incumbido de ‘viabilizar a compra do silêncio de Nestor’ para proteger o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente.

“OUTROS ELEMENTOS”

Janot anotou em manifestação ao STF. “A respeito desse fato, há diversos outros elementos, tais como e-mail com comprovante de agendamento da reunião entre Lula e Delcídio no Instituto Lula, no dia 8 de maio de 2015; comprovantes de deslocamento efetivo do senador para São Paulo compatível com esta data; outros documentos que atestam diversas outras reuniões entre Lula e Delcídio no período coincidente às negociatas envolvendo o silêncio de Nestor Cerveró, além de registros de diversas conversas telefônicas mantidas entre Lula e (o pecuarista) José Carlos Bumlai e entre este e Delcídio”, afirma o procurador-geral da República.

“Todos esses elementos estão encartados no aditamento de denúncia dos autos 4170”.

PAGARAM 250 MIL

Delcídio afirmou que o filho de Bumlai, Mauricio Bumlai, pagou R$ 250 mil à família de Cerveró, ‘por interferência de Lula’. De acordo com o senador, Lula ‘pediu expressamente’ a Delcídio que ajudasse Bumlai, amigo do petista.

O ex-líder do governo contou em delação premiada. “O Lula tinha especial preocupação com a situação de José Carlos Bumlai porque eles ficaram muito próximos durante a primeira campanha de Lula à Presidência da Republica e depois disso, Bumlai se tornou o grande conselheiro de Lula, com forte influência em diversos negócios do governo, além de ter sido avalista de um empréstimo milionário obtido pelo PT junto ao Banco Schahin e de ter ajudado a construir, estruturar e organizar o Instituto Lula, entre outros.

GRAVAÇÕES

O procurador-geral da República ainda levou em consideração, no pedido de aditamento à denúncia contra Delcídio, as gravações captadas por Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró. Em novembro de 2015, foi entregue por Bernardo Cerveró à Procuradoria-Geral da Republica um áudio ‘revelador da grande trama criminosa envolvendo a obstrução da presente investigação, por meio da compra do silêncio de Nestor Cerveró’.

“A partir daí as investigações ganharam novos contornos e se constatou que Luiz Inácio Lula da Silva, José Carlos Bumlai e Mauricio Bumlai atuaram na compra do silêncio de Nestor Cerveró para proteger outros interesses, além daqueles inerentes a Delcídio e a André Esteves, dando ensejo ao aditamento da denúncia anteriormente oferecida nos Autos 4170/STF”, afirma Janot.

FATOS ILÍCITOS

“Os depoimentos de Nestor Cerveró deixam evidente que a intenção dos articuladores do silêncio de Nestor era esconder fatos ilícitos envolvendo Luiz Inácio Lula da Silva, José Carlos Bumlai, André Esteves, Delcídio Amaral, além de outras pessoas que possivelmente também integram a organização criminosa objeto deste inquérito”.

O Instituto Lula defende o ex-presidente, dizendo que “a peça apresentada pelo Procurador-Geral da República indica apenas suposições e hipóteses sem qualquer valor de prova. Trata-se de uma antecipação de juízo, ofensiva e inaceitável, com base unicamente na palavra de um criminoso”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Muito importante a reportagem enviada pelo comentarista Virgilio Tamberlini. Mostra por que recordar é viver. Até pouco tempo atrás, o “criminoso” a que se refere o Instituto Lula era simplesmente líder do governo no Senado da República. Ou seja, representava o governo federal e fala em nome dele, criminosamente. (C.N.)

Tribuna da Internet