sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Eike sabia que ia ser preso e ficará foragido até se esgotarem os recursos judiciais

Carlos Newton

Surgiram dois advogados para falar em nome de Eike Batista. Um deles, Fernando Martins, um ilustre desconhecido, anunciou que o empresário “está viajando, mas vai se entregar à Justiça”. O outro, Sérgio Bermudes, um dos mais famosos especialistas em causas cíveis, disse exatamente o contrário. Em entrevista a Bernardo Mello Franco, da Folha, afirmou “não saber se Eike pretende se entregar à Justiça brasileira”. Muito interessante essa contradição, que necessita de tradução simultânea.
EIKE FOI INFORMADO – Na verdade, o empresário Eike Batista foi informado de que no dia 13 fora aceita a denúncia do Ministério Público Federal ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, em dezembro. Ele sabia que ia ser preso.
Eike imediatamente procurou o escritório de Bermudes, que o representa em causas cíveis, mas é considerado mestre em todos os ramos do Direito. Para se ter uma ideia do que significa a grife Bermudes, basta dizer que 84 advogados trabalham com ele, seja no contencioso ou na consultoria, e têm apoio de cerca de 90 estagiários.
Ao ser informado da iminente prisão do cliente, o jurista recomendou que ele viajasse imediatamente para Nova York. E foi assim que Eike se evadiu terça-feira usando a dupla cidadania alemã, e a mulher, Flávia Sampaio, seguiu o mesmo destino no dia seguinte, conforme o “Jornal Nacional” informou (aliás, dirigido pelo jornalista Fernando Castro, o telejornal ganhou muito mais seriedade e importância).
DIZ BERMUDES – O super advogado, é claro, nega que seu cliente tenha ido para os Estados Unidos com o objetivo de escapar da Justiça. Alega que Eike viajou para se reunir com advogadas americanas que tentam desbloquear seus bens registrados nas Ilhas Cayman.
"Não há nada de estranho no fato de ele estar fora do Brasil. Ele esteve fora várias vezes nos últimos anos", disse Bermudes, acrescentando: “Uma juíza de Cayman bloqueou as contas dele lá. Por isso Eike saiu do Brasil, para se reunir com as suas advogadas que estão cuidando dessa causa“, acrescentou.
Com qualquer outro ser humano, o semideus Bermudes também comete erros. Certa vez, o escritório deixou de cumprir um prazo (a maior vergonha para um advogado) e Xuxa Meghenel perdeu uma causa milionária. A culpa, é claro, foi do escritório. Mas agora o erro foi do próprio Bermudes.
MANCADA DE ESTAGIÁRIO –  O famoso advogado jamais poderia alegar que não sabia se Eike pretende se entregar à Justiça. Foi uma mancada digna de estagiário. Até porque Eike está homiziado – digo, hospedado – no luxuoso apartamento de Bermudes no Edifício Trump Tower, com vista para o Central Park, e todo advogado tem obrigação de saber tudo o que seu cliente pretende fazer em relação ao processo.
A justificativa para homiziar – digo, hospedar – o cliente em Nova York é conversa fiada. Não existe entendimento direto entre Eike e as tais “advogadas” americanas. Quem se relaciona com elas é o escritório de Bermudes, conduzido pelo chefe do contencioso, Alexandre Sigmaringa Seixas. Nenhum cliente tem acesso direto ao escritório que representa a grife Bermudes em Nova York, não importa quem seja. É assim que funciona a defesa, em qualquer grande escritório de advocacia do mundo. Quem quiser que conte outra, como se dizia antigamente.
TRADUÇÃO SIMULTÂNEA – Eike Batista continuará foragido até que o escritório de criminalistas que trabalha para Bermudes (no qual atua o advogado Fernando Martins) esgote todos os recursos jurídicos a serem apresentados à 7ª Vara Criminal, ao Tribunal Regional Federal, ao Superior Tribunal de Justiça e ao Supremo Tribunal Federal – não necessariamente nesta ordem.
Portanto, fica confirmado aquele velho ditado que diz: “Quando dois brigam, quem ganha é o advogado”. E o mestre Sérgio Bermudes cobra caro, muito caro mesmo. Um grande parte dos recursos públicos que foram desviados por Eike, podem ter certeza, ficará no escritório de advocacia.
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PS
  O assunto é interessante, inquietante e eletrizante. É claro que logo voltaremos a ele. (C.N.)

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quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Fique de olho no céu, em 27 de setembro

Carlos Chagas

O Laboratório Astronômico do Vaticano acaba de confirmar: aproxima-se o planeta X, denominado de Nibiro, que de dois mil em dois mil anos visita o nosso sistema solar. Já pode ser visto atrás do sol pelos principais observatórios da terra. Chegará o mais perto da Terra a 27 de setembro deste ano. Não se encontra em rota de colisão conosco, mas vai passar perto. Sua proximidade causará profundas alterações na estabilidade do planeta, a começar pela alteração nos polos. Vamos virar de cabeça para baixo, com mudanças no campo magnético, no clima, no nível dos mares e das montanhas, além de ampla temporada de terremotos.
A recepção pelo sistema solar  do X, que aliás não é um, mas são oito, sete bem menores, já está causando alterações: os terremotos aumentaram de número e de intensidade; movimentam-se as camadas tectônicas; a seca e as enchentes se sucedem; o calor se multiplica nos trópicos, o frio nos polos.
Essas conclusões não são exclusivas para o Papa Francisco. Corre que Wladimir Putin e Donald Trump conversaram a respeito. Angela Merkel não ficou de fora. Nem aquele Fu-Manchu lá de Pequim.
FAZER O QUÊ? – Pior é que nada há para fazer. Construir bunkers e subterrâneos para acomodar a humanidade não dá. Nem uns poucos privilegiados poderiam beneficiar-se. Estocar água potável e comida seria missão impossível, em especial quando há séculos já fazem falta. Rezar é duvidoso.
A ausência de informações detalhadas sobre o cataclismo iminente faz parte da estratégia das nações. Para que levar o pânico a bilhões de seres humanos, se o resultado poderá ser o caos?  Melhor informar o mínimo possível e aguardar um milagre. Só não dá para imaginar que essas previsões façam parte de uma jogada de marketing ou de um golpe das multinacionais para enriquecer um pouco mais. Resta olhar para o céu, de preferência a partir de 27 de setembro…

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segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

O Deus que dizem ser brasileiro é um Moloc que devora seus filhos

Leonardo Boff

O Tempo

Diz-se que Deus é brasileiro, não o Deus da ternura dos humildes, mas o Moloc dos amonitas que devora seus filhos. Somos um dos países mais desiguais e violentos do mundo. Teologicamente, vivemos numa situação de pecado social e estrutural, em contradição com o projeto de Deus. Basta considerar o que ocorreu nos presídios de Manaus, Rondônia e Roraima. Pura barbárie!
Estamos assentados sobre estruturas histórico-sociais violentas, oriundas do genocídio indígena, do colonialismo humilhante e do escravagismo desumano. Não há como superar essas estruturas sem antes superar essa tradição nefasta.
Entretanto, esse é um desafio que demanda uma transformação de nossas relações sociais. Vejo ser possível a condição de seguirmos dois caminhos: a gestação de um povo e a instauração de uma democracia social de base popular.
NÃO ERA UMA NAÇÃO – A gestação de um povo: os que nos colonizaram não vinham para criar uma nação, mas para fundar uma empresa comercial e regressar a Portugal para desfrutar da riqueza acumulada. Submeteram primeiro os índios e, depois, introduziram os negros africanos como mão de obra escrava. Criou-se aqui uma massa humana dominada pelas elites, humilhada e desprezada até os dias atuais.
Abstraindo as revoltas anteriores, a partir dos anos 30 houve uma virada histórica. Surgiram os sindicatos e os mais variados movimentos sociais. Em seu seio, foram surgindo atores sociais conscientes e dotados de vontade para modificar a realidade social. A articulação dessas associações gerou o movimento popular brasileiro.
A criação de uma democracia social, de base popular: possuímos uma democracia representativa de baixíssima intensidade, cheia de vícios políticos e corrupta, com representantes eleitos, em geral, pelas grandes empresas, cujos interesses representam. Em contrapartida, como fruto da organização popular, se produziram partidos populares ou segmentos de partidos progressistas e até liberal-burgueses ou tradicionalmente de esquerda.
QUATRO PÉS – Essa democracia participativa se baseia, fundamentalmente, em quatro pés, como os de uma mesa: a participação mais ampla possível de todos; a igualdade, que resulta dos graus de participação; o respeito às diferenças de toda ordem; e a valorização da subjetividade humana.
Essa mesa, entretanto, está assentada sobre uma base sem a qual ela não se sustenta: uma nova relação para com a natureza e para com a Terra, nossa Casa Comum, como enfatiza a encíclica ecológica do papa Francisco. Em outras palavras, essa democracia deverá incorporar o momento ecológico, fundado num outro paradigma.
O vigente, centrado no poder e na dominação em função da acumulação ilimitada, encontrou uma fronteira insuperável: os limites da Terra e seus bens e serviços não renováveis. Uma Terra limitada não suporta um projeto ilimitado de crescimento. Por forçar esses limites, assistimos ao aquecimento global e aos eventos extremos vividos neste ano de 2017, com neves em toda a Europa que não ocorriam havia cem anos.
NOVO PARADIGMA – Essa consciência dos limites, que cresce mais e mais, nos obriga a pensar num novo paradigma de produção, de consumo e de repartição dos recursos escassos entre os humanos e também com a comunidade de vida. Aqui entram os valores do cuidado, da corresponsabilidade e da solidariedade de todos com todos, sem os quais o projeto jamais prosperará.
A partir dessas premissas podemos pensar na superação de nossas estruturas sociais violentas. O resto é tapeação de mudança para que nada mude.

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sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Donald Trump

Donald John Trump (Nova Iorque, 14 de junho de 1946) é um empresário, ex-apresentador de reality show e presidente eleito dos Estados Unidos. Na eleição de 2016, Trump se tornou o 45º presidente norte-americano pelo Partido Republicano, ao derrotar a candidata democrata Hillary Clinton no número de delegados do colégio eleitoral; no entanto, perdeu no voto popular por 2,8 milhões de votos, a maior derrota nas urnas de um presidente eleito na história do país. Trump tomará posse em 20 de janeiro de 2017 e, aos 70 anos de idade, será a pessoa mais velha a assumir a presidência.

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quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Morte de Teori Zavascki paralisa a Lava Jato e outros 7 mil processos

Carlos Newton

Confirmada a morte do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), no acidente com um avião que caiu em Paraty, no Rio de Janeiro, o regimento da corte não prevê que os processos de sua competência sejam transferidos a outro ministro.

O artigo 38 do Regimento Interno do Supremo diz o seguinte, em seu item IV, alínea a, que o relator, em caso de aposentadoria, renúncia ou morte, será substituído “pelo ministro nomeado para a sua vaga”.

Teori é o relator da operação Lava Jato no Supremo. Ele estava de férias, mas decidira interrompê-las para retomar o trabalho na relatoria das ações referentes à Operação Lava Jato. Sua atividade prioritária seria a homologação da delação premiada dos 77 executivos da Odebrecht, entre os o atual presidente Emilio Odebrecht e o filho Marcelo.

CONFIRMAÇÃO – A morte do ministro foi confirmada pelo filho Francisco Zavascki. Isso significa que ficarão automaticamente paralisados cerca de 7 mil processos e inquéritos que se encontram no gabinete dele na condição de relator, inclusive todas as questões referentes a envolvidos na Operação Lava Jato que dispõem de foro privilegiado na Suprema Corte.

Até que o presidente Michel Temer indique um novo ministro e sua escolha seja confirmada após sabatina no Senado Federal, os processos relatados por Zavascki permanecerão inconclusos, como se diz no linguajar jurídico.

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Sob Obama, o antirracismo viveu dias gloriosos

Janio de Freitas

Folha

Impor um presidente negro a um país ainda hoje tão racista como são os Estados Unidos – este o maior feito de Barack Obama. Impor-se ao respeito inabalado de todo esse país durante os oito anos na presidência – este o segundo maior feito de Barack Obama. O revertério que leva um primata patético a sucedê-lo sugere a dimensão gigantesca daqueles feitos.
O primeiro êxito e a decência cativante de Obama fizeram esperar-se dele mais do que fez. Ou, no mínimo, o principal dos seus compromissos de candidato: a retirada americana das áreas de guerra, a redução da presença militar dos EUA no mundo, o fim do crime imoral que é a prisão de Guantánamo, apesar de sem importância na opinião dos americanos, mas humilhante para o mundo que, acovardado, o testemunha.
Obama não apenas deixa forte presença militar no mundo, por muitos dita maior do que a encontrada. Foi da sua presidência a autorização para uso da nova arma que são os pequenos aviões não tripulados, ou drones, transformados em objetos assassinos.
CERCANDO A CHINA – Chefes ou suspeitos de ação antiamericana são assassinados do ar em países sem guerra com os EUA. O colar de bases americanas em torno da então URSS, que fez os soviéticos instalarem foguetes em Cuba para barganhá-los pela retirada das bases, ganhou com Obama nova versão. Os EUA montam, na Ásia e na Oceania, um arco de bases e arsenais em volta da China. Com Obama, as ânsias beligerantes dos EUA ficaram apenas menos ostensivas e mais educadas, sem troca de desaforos.
Do mesmo lote de compromissos principais do candidato, Obama fez três grandes realizações. Duas notórias: a economia em colapso foi oxigenada, com efeitos sociais ainda em progressão; e a persistente batalha que conseguiu vergar o Congresso para implantar um sistema público de saúde, o Obamacare já sob as picaretas dos republicanos.
NATURALIDADE – A terceira foi a ação contra o racismo. Antecessor de Kennedy, o general Eisenhower usou contra o racismo agressivo a Guarda Nacional. Kennedy, como em quase tudo, dividiu-se entre a força e a demagogia.
Obama teve a inteligência e a originalidade de usar uma das armas mais raras entre os ditos civilizados: a naturalidade. Assim como para eleger-se não fez do racismo um tema de combate, na Casa Branca dirigiu-lhe poucas palavras: enfrentou-o com o seu dia a dia, com sua cara. Com a simbiose Barack-Michelle. Conscientizada ou não, a evidência penetrou fundo no país: nenhuma diferença entre brancos e negros.
O racismo não se extinguiu, talvez nem tenha se retraído em porção significativa, a Ku Klux Klan é sempre uma das bandeiras nacionais. Mas o antirracismo viveu dias gloriosos, para um futuro em que será difícil retrocedê-lo.
Mas um legado especial Barack Obama leva amanhã consigo: Michelle Obama, imagem consagrada, oradora brilhante, opinião e firmeza, potencial presidente dos Estados Unidos.

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quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Um grito de alerta de Vital Farias em defesa da Amazônia

Paulo Peres
Site Poemas & Canções
O músico, cantor e compositor paraibano Vital Farias lançou, em 1982, pela Poligram, o LP Sagas Brasileiras, que traz o épico “Saga da Amazônia”, cuja letra expressa a preocupação do artista com a degradação das espécies, a exploração desenfreada da mão de obra infantil, a poluição galopante dos rios e mananciais. Consequentemente, assume a defesa da preservação da natureza e da sustentabilidade das ações do homem, antecipando o movimento ecológico que tomaria força no final daquela década.
Logo, foi uma visão vanguardista do mestre Vital Farias que, além de construir uma belíssima letra, ainda conclamava as pessoas a repensarem as suas atitudes, sob pena de inviabilizarem a vida no planeta para as gerações vindouras.
SAGA DA AMAZÔNIA
Vital Farias
Era uma vez na Amazônia a mais bonita floresta
mata verde, céu azul, a mais imensa floresta
no fundo d’água as Iaras, caboclo lendas e mágoas
e os rios puxando as águas
Papagaios, periquitos, cuidavam de suas cores
os peixes singrando os rios, curumins cheios de amores
sorria o jurupari, uirapuru, seu porvir
era: fauna, flora, frutos e flores
Toda mata tem caipora para a mata vigiar
veio caipora de fora para a mata definhar
e trouxe dragão-de-ferro, pra comer muita madeira
e trouxe em estilo gigante, pra acabar com a capoeira
Fizeram logo o projeto sem ninguém testemunhar
pra o dragão cortar madeira e toda mata derrubar:
se a floresta meu amigo, tivesse pé pra andar
eu garanto, meu amigo, com o perigo não tinha ficado lá
O que se corta em segundos gasta tempo pra vingar
e o fruto que dá no cacho pra gente se alimentar?
depois tem o passarinho, tem o ninho, tem o ar
igarapé, rio abaixo, tem riacho e esse rio que é um mar
Mas o dragão continua a floresta devorar
e quem habita essa mata, pra onde vai se mudar???
corre índio, seringueiro, preguiça, tamanduá
tartaruga: pé ligeiro, corre-corre tribo dos Kamaiura
No lugar que havia mata, hoje há perseguição
grileiro mata posseiro só pra lhe roubar seu chão
castanheiro, seringueiro já viraram até peão
afora os que já morreram como ave-de-arribação
Zé de Nana tá de prova, naquele lugar tem cova
gente enterrada no chão:
Pois mataram índio que matou grileiro que matou posseiro
disse um castanheiro para um seringueiro que um estrangeiro
roubou seu lugar
Foi então que um violeiro chegando na região
ficou tão penalizado que escreveu essa canção
e talvez, desesperado com tanta devastação
pegou a primeira estrada, sem rumo, sem direção
com os olhos cheios de água, sumiu levando essa mágoa
dentro do seu coração
Aqui termina essa história para gente de valor
prá gente que tem memória, muita crença, muito amor
prá defender o que ainda resta, sem rodeio, sem aresta
era uma vez uma floresta na Linha do Equador…

⏩Tribuna da Internet

É claro que as penitenciárias são um outro país onde o governo não manda

Francisco Feitosa


A crise do sistema carcerário mostra que existe um Estado dentro do estado, como afirmou o advogado Jorge Béja aqui na “Tribuna da Internet”. O primeiro, verdadeiro; por isto mesmo, com letra maiúscula. E este outro, com letras minúsculas, do senecto Temer (que já o herdou assim, para pior), ausente. Tem jeito não. Mas vale a pena reler a ideia do panopticon, de Jeremy Bentham, 1785, cuja essência é ver tudo o que se passa na cela, ao fundamento de que, visto, o ser humano contém-se. Ora, nas celas do Brasil ninguém vê nada, há comunicações telefônicas para sequestros virtuais e reais, o tempo todo. E os japoneses fazem o panopticon às avessas: o prisioneiro não vê a face dos carcereiros.

O fato é que há um Estado, real e verdadeiro, às vezes mais de um, rivais, dentro das prisões do Brasil, com ampla influência no lado de fora, até mesmo no exterior. A prisão seria outro país onde o Temer não manda? Claro que é. Pelo contrário, o estado oficial, Brasil, faz que não vê; por isto mesmo, é refém.

Do jeito que está, tem jeito não. Se construir novas prisões, novas destruições na próxima rebelião, queimam tudo, põem tudo abaixo.

INOPERANTE – O estado do Temer (aliás, do Lula, da Dilma, falo em sentido amplo), faz o quê? Negocia. E agora indeniza. Até a próxima rebelião. Como se nada tivesse acontecido. Anote aí: daqui mais uns dias, tem mais.

Convicção: isso tem que mudar.

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sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Entenda por que Clarice Lispector se definia como uma pergunta

Paulo Peres

Site Poemas & Canções

A escritora, jornalista e poeta Clarice Lispector (1920-1977), nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira, definia-se como uma pergunta. Por quê?
Quem fez a primeira pergunta?
Quem fez o mundo?
Se foi Deus, quem fez Deus?
Por que dois e dois são quatro?
Quem disse a primeira palavra?
Quem chorou pela primeira vez?
Por que o Sol é quente?
Por que a Lua é fria?
Por que o pulmão respira?
Por que se morre?
Por que se ama?
Por que se odeia?
Quem fez a primeira cadeira?
Por que se lava roupa?
Por que se tem seios?
Por que se tem leite?
Por que há o som?
Por que há o silêncio?
Por que há o tempo?
Por que há o espaço?
Por que há o infinito?
Por que eu existo?
Por que você existe?
Por que há o esperma?
Por que há o óvulo?
Por que a pantera tem olhos?
Por que há o erro?
Por que se lê?
Por que há a raiz quadrada?
Por que há flores?
Por que há o elemento terra?
Por que a gente quer dormir?
Por que acendi o cigarro?
Por que há o elemento fogo?
Por que há o rio?
Por que há a gravidade?
Por que e quem inventou os óculos?
Por que há doenças?
Por que há saúde?
Por que faço perguntas?
Por que não há respostas?
Por que quem me lê está perplexo?
Por que a língua sueca é tão macia?
Por que fui a um coquetel na casa do Embaixador da Suécia?
Por que a adida cultural sueca tem como primeiro nome Si?
Por que estou viva?
Por que quem me lê está vivo?
Por que estou com sono?
Por que se dão prêmios aos homens?
Por que a mulher quer o homem?
Por que o homem tem força de querer a mulher?
Por que há o cálculo integral?
Por que escrevo?
Por que Cristo morreu na cruz?
Por que minto?
Por que digo a verdade?
Por que existe a galinha?
Por que existem editoras?
Por que há o dinheiro?
Por que pintei um jarro de vidro de preto opaco?
Por que há o ato sexual?
Por que procuro as coisas e não encontro?
Por que existe o anonimato?
Por que existem os santos?
Por que se reza?
Por que se envelhece?
Por que existe câncer?
Por que as pessoas se reúnem para jantar?
Por que a língua italiana é tão amorosa?
Por que a pessoa canta?
Por que existe a raça negra?
Por que é que eu não sou negra?
Por que um homem mata outro?
Por que neste mesmo instante está nascendo uma criança?
Por que o judeu é raça eleita?
Por que Cristo era judeu?
Por que meu segundo nome parece duro como um diamante?
Por que hoje é sábado?
Por que tenho dois filhos?
Por que eu poderia perguntar indefinidamente por quê?
Por que o fígado tem gosto de fígado?
Por que a minha empregada tem um namorado?
Por que a Parapsicologia é ciência?
Por que vou estudar matemática?
Por que há coisas moles e coisas duras?
Por que tenho fome?
Por que no Nordeste há fome?
Por que uma palavra puxa a outra?
Por que os políticos fazem discurso?
Por que a máquina está ficando tão importante?
Por que tenho de parar de fazer perguntas?
Por que existe a cor verde-escuro?
Por quê?
É porque.
Mas por que não me disseram antes?
Por que adeus?
Por que até o outro sábado?
Por quê?
 
⏩Tribuna da Internet/Letra Lírica

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Nenhum país progrediu tanto em matéria de segurança pública quanto o Japão

Carlos Newton

Além dos ataques terroristas, que não visam ao lucro e são cometidos por fanáticos ideológicos, tornando-se praticamente inevitáveis, o maior problema da segurança pública no mundo é o crime organizado, que consegue dominar o sistema prisional, se infiltra na justiça e até mesmo na política, como se constata na ação das diversas máfias existentes pelo mundo.
EXEMPLO DO JAPÃO – Até agora, o país que obteve maior sucesso no combate ao crime organizado foi o Japão, sem a menor dúvida, e vale a pena conferir como esse fenômeno ocorreu..
No Japão Imperial, havia muitas quadrilhas, mas somente se tornaram poderosas após a Segunda Guerra Mundial, quando o país foi derrotado e a sociedade se desestruturou por completo. O mesmo fenômeno ocorreu em outro aliado do Eixo, a Itália, onde após a Guerra se expandiu a atuação das quadrilhas, que passaram a agir também nos Estados Unidos, onde havia mais riquezas a explorar.
SURGE A YAKUZA – Como ocorre em todas as máfias, o crime organizado no Japão era formado por diversas famílias rivais. Depois da Segunda Grande Guerra, porém, o sanguinário líder Yoshio Kodama conseguiu unir todas as facções japonesas e surgiu assim a poderosa Yakuza. Detalhe: o chefão Kodama era de extrema direita e começou a patrocinar o Partido Democrático Liberal japonês, para se infiltrar na política.
A organização criminosa japonesa tinha rígidas normas internas e punia os dissidentes com a morte ou com mutilações. Desde o final da década de 50, o governo de Tóquio tentou dificultar o crime organizado, restringindo a venda de armas, mas não adiantou nada e a Yakuza foi  ganhando projeção na política japonesa, com uma atuação que culminou no escândalo envolvendo a indústria aeronáutica Lockheed em 1976, quando se descobriu que, com intermédio da Yakuza, a empresa norte-americana pagou mais de US$ 3 milhões para subornar o primeiro-ministro Kakuei Tanaka.
LEIS MAIS RÍGIDAS – Para conter a Yakuza, foram aprovadas leis penais cada vez mais rígidas e o sistema carcerário no Japão se tornou tão implacável que a organização criminosa teve de ceder. Suas práticas foram se modificando, passou a atuar de forma menos acintosa no Japão, explorando prostituição, filmes pornográficos, inclusive de pedofilia, agiotagem, corrupção e outras atividades ilícitas.
A Yakuza não morreu, mas ficou sob controle. Ainda é tão poderosa que chega a surpreender. No grande tsunami de 2011, por exemplo, a organização criminosa respondeu à crise com mais eficiência do que o governo japonês, ao fornecer comida, água potável, cobertores e outros suprimentos aos moradores de algumas das regiões devastadas.
CRIME EXPORTADO – Hoje, a Yakuza atua mais agressivamente em vários países europeus e nos Estados Unidos, porque no Japão não tem como prosperar. A segurança pública no país está totalmente sob controle, apesar de a força policial ter menos de 300 mil homens, para uma população de 127 milhões de habitantes.
Enquanto a maior parte dos países do mundo militariza suas polícias, como os Estados Unidos, o Japão segue caminho inverso, desarma os policiais e consegue uma das menores taxas de crimes. Em 2014, por exemplo, houve no país apenas seis homicídios, enquanto nos Estados Unidos ocorreram quase 12 mil mortes com armas de fogo.
Mas qual é a diferença? Nos Estados Unidos, a venda de armas de fogo é liberada; no Japão, é a maior dificuldade, porque armas portáteis são proibidas. Apenas espingardas de caça e os rifles de ar comprimido podem ser vendidos, sob rigorosas normas.
TUDO SOB CONTROLE – O fato concreto, sem contestação, é que a segurança pública está sob controle e os policiais japoneses dificilmente andam armados. No entanto, todos são exímios praticantes de artes marciais e devem obter faixa preta do judô.
A comparação com o Brasil chega a ser patética. Em 2015, a polícia japonesa disparou apenas seis tiros em todo o país. Os policiais jamais andam armados nas folgas e deixam as armas na delegacia quando terminam o dia de trabalho.
Diante dessa realidade, a máfia Yakuza hoje opera muito mais no exterior do que no Japão, onde seus crimes caíram expressivamente nos últimos 15 anos. Enquanto isso, no Brasil…
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PS  Há grande número de brasileiros vivendo no Japão. Justamente por isso, Muitos policiais japoneses tiveram de aprender a falar português, para enfrentar a criminalidade dos brasileiros, vejam que vergonha para nós. (C.N.)

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