segunda-feira, 30 de maio de 2011

Americano faz campanha para ser figurante em HQs

"Espero que você goste de ser cortado ao meio", escreve o quadrinista britânico Charlie Adlard, 44. O vendedor americano Jeff Johnson, 30, seu interlocutor, adora.

É com essa mensagem que o artista de "Walking Dead" avisa ao fã que ele será desenhado no gibi, entre uma multidão de zumbis podres.

Foi a segunda entre as já 23 aparições de Johnson como figurante nos últimos cinco anos, fruto do esforço de participar de gibis que ele lia.

O fã criou o site Draw Me In (www.drawmein.com), em que pede a quadrinistas que façam o favor de desenhá-lo no fundo de alguma cena. Os artistas, que acham graça na ideia, topam.

"É muito bacana entrar em uma loja de HQs e saber que provavelmente posso pegar um gibi na prateleira e me ver desenhado", afirma à Folha. "Eu consegui me tornar parte do meu hobby, é incrível".

O site do Draw Me In descreve o projeto como a "jornada de um homem para se tornar figurante em HQs". Mas o termo poderia ser "campanha", admite Johnson, que diz ter buscado uma palavra que soasse épica.

"Na verdade, podemos chamar o site daquilo que ele é: imploração organizada".

A mendigação começou em uma feira de gibis em San Diego (EUA), quando Johnson distribuiu folhetos a quadrinistas, detalhando a ideia.

Meses depois, Ryan Ottley, desenhista de "Invincible", escreveu-lhe um e-mail: havia decidido fazer o desenho.

Com um artista de renome dentro do projeto, foi mais fácil convencer os demais. E, conforme outros aderiam, o Draw Me In ganhou fôlego e Johnson se tornou uma espécie ícone cult entre artistas.

"Não acho que eu tenha me tornado famoso... Ainda!", brinca Johnson. "Quando acontecer, vou começar a me preocupar com a fama".

Não que ser perseguido por paparazzi seja a meta, aponta. "Minha parte predileta é conversar com todos esses artistas incríveis".

Humildade à parte, ele confessa que não reclamaria se participasse de HQs como "Superman". "Mas talvez seja pedir demais".

Enquanto isso, Johnson continua a jornada, agora rumo às 50 aparições.

De alguma maneira, é sorte de artistas como Charlie Adlard, de "Walking Dead".

"Tenho de desenhar um monte de zumbis, e cada um é um indivíduo", diz à Folha. "Ou seja, às vezes fico sem inspiração para fazer todas essas pessoas diferentes".

É quando Johnson entra na história. "É mais fácil quando alguém pede para ser desenhado, porque não preciso pensar em mais um rosto." Mas pondera: "Espero que isso não inspire um monte de gente a me escrever com pedidos!".

FOLHA