quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Banco Central reduz taxa básica de juros para 12% ao ano


O Banco Central surpreendeu a maior parte do mercado financeiro, e até mesmo do governo, e anunciou nesta quarta-feira (31) a redução da taxa básica de juros de 12,50% para 12% ao ano.

Desde a piora na crise internacional, e diante de indicadores de desaceleração na atividade doméstica, a instituição vinha sendo pressionada a cortar os juros.

Ontem, a presidente Dilma Rousseff afirmou que o aumento de R$ 10 bilhões na economia para pagar os juros da dívida (superavit primário) anunciado no início desta semana abriu caminho para a queda dos juros, que já estava no "horizonte".

A expectativa, no entanto, era que os juros só começassem a cair na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, nos dias 18 e 19 de outubro. Será a penúltima reunião do comitê neste ano. A última está marcada para o final de novembro.

Desde janeiro, quando os juros estavam em 10,75% ao ano, foram cinco aumentos. O último na reunião de julho.

Apesar da expectativa de crescimento menor da economia, preocupações com a inflação levaram o mercado a avaliar que o BC não cortaria a taxa agora. O índice oficial de preços (IPCA) acumula hoje alta de 6,9% e precisa cair para 4,5% até dezembro de 2012.

O BC já desistiu de trazer a inflação para o centro da meta de 4,5% neste ano, mas mantém o compromisso de atingir esse resultado no final do próximo. As previsões da instituição e do mercado financeiro, no entanto, apontam para uma inflação acima desse valor.

Indicadores de atividade já mostram desaceleração mais forte na indústria. O setor de serviços, o crédito e o emprego, no entanto, ainda registram forte crescimento, embora menor que no início do ano.

CONSUMIDOR

O aumento dos juros foi parte do trabalho iniciado no final de 2010 para esfriar a economia e controlar a inflação, que está hoje no maior nível em seis anos.

Antes de aumentar a taxa básica, o BC já havia anunciado restrições a financiamentos e retirado recursos da economia. O governo também cortou gastos do Orçamento e dobrou o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre empréstimos para pessoas físicas.

Essas medidas já provocaram desaceleração no crédito, devido à alta dos juros bancários e da inadimplência.

Outras economias emergentes, como China e Rússia, também elevaram os juros neste ano e adotaram outras medidas para segurar a inflação. As taxas nesses países, no entanto, são mais baixas que no Brasil, líder mundial no ranking dos juros reais.

Leia abaixo a nota do Copom na íntegra:

"Brasília - O Copom decidiu reduzir a taxa Selic para 12,00% a.a., sem viés, por cinco votos a favor e dois votos pela manutenção da taxa Selic em 12,50% a.a. Reavaliando o cenário internacional, o Copom considera que houve substancial deterioração, consubstanciada, por exemplo, em reduções generalizadas e de grande magnitude nas projeções de crescimento para os principais blocos econômicos. O Comitê entende que aumentaram as chances de que restrições às quais hoje estão expostas diversas economias maduras se prolonguem por um período de tempo maior do que o antecipado. Nota ainda que, nessas economias, parece limitado o espaço para utilização de política monetária e prevalece um cenário de restrição fiscal. Dessa forma, o Comitê avalia que o cenário internacional manifesta viés desinflacionário no horizonte relevante.

Para o Copom, a transmissão dos desenvolvimentos externos para a economia brasileira pode se materializar por intermédio de diversos canais, entre outros, redução da corrente de comércio, moderação do fluxo de investimentos, condições de crédito mais restritivas e piora no sentimento de consumidores e empresários. O Comitê entende que a complexidade que cerca o ambiente internacional contribuirá para intensificar e acelerar o processo em curso de moderação da atividade doméstica, que já se manifesta, por exemplo, no recuo das projeções para o crescimento da economia brasileira. Dessa forma, no horizonte relevante, o balanço de riscos para a inflação se torna mais favorável. A propósito, também aponta nessa direção a revisão do cenário para a política fiscal.

Nesse contexto, o Copom entende que, ao tempestivamente mitigar os efeitos vindos de um ambiente global mais restritivo, um ajuste moderado no nível da taxa básica é consistente com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012.

O Comitê irá monitorar atentamente a evolução do ambiente macroeconômico e os desdobramentos do cenário internacional para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária.

Brasília, 31 de agosto de 2011"

FOLHA