sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Será inaugurado o primeiro cassino de Nova York


O novo cassino Resorts World que será inaugurado na sexta-feira, com luzes piscantes multicoloridas no teto, mesas de bacará eletrônicas presididas por robôs que dão as cartas e um falso céu noturno estrelado criado com imagens de satélite do céu acima da Rua 42, procura oferecer uma visão de Times Square pela ótica de Las Vegas.

Mas a grande inovação do cassino é o fato de que é possível chegar até ele de metrô, saindo da Times Square real.

É o primeiro cassino de Nova York - ou "racino" (cassino de corridas), porque está ligado à pista de corridas Aqueduct, em Queens -, e tem 5.000 terminais de videogame e mesas de jogo eletrônicas, incluindo jogos de dados, um jogo de dados asiático conhecido como "sic bo", restaurantes chineses e outros como Stage Deli, e estacionamento com 6.500 vagas.

Aprovado pelo Legislativo em 2001, mas adiado por problemas diversos e tráfico de influências, o cassino já provocou divergências profundas. 

Alguns críticos dizem que ele chega perigosamente perto de infringir os limites constitucionais aos jogos de azar; outros preveem que vai desencadear uma enxurrada de males sociais, como divórcios, suicídios ou o vício em jogos de azar.

Mas seus defensores, que incluem seus proprietários e legisladores em Albany, dizem que há cassinos em ação na área metropolitana há anos e que este cassino vai ajudar a conservar empregos e parte da receita em Nova York.

"É uma oportunidade para nova-iorquinos terem uma experiência semelhante à de Las Vegas, sem precisarem sair da cidade", disse Michael Speller, presidente da Resorts World Casino New York City. Speller começou como carteador de vinte-e-um em Londres, sua cidade de origem, quando tinha 18 anos.

A Resorts World, que pertence à Genting New York, subsidiária da maior empresa de jogos de azar da Inglaterra e sudeste asiático, diz que o cassino vai gerar até US$ 1,5 milhão por dia para o Estado. Estão em fase de construção ou planejamento, também, uma ponte climatizada para a vizinha estação de metrô e trens Aqueduct North Conduit Avenue A e um ônibus especial para o aeroporto internacional Kennedy.

O cassino vai funcionar a partir de 13h, às sextas-feiras, e 8h nos outros dias. O horário de fechamento será às 4h, sete dias por semana.

Nas sextas-feiras ficará aberta apenas a parte do complexo situada no térreo, chamada Times Square Casino. O mais elegante Fifth Avenue Casino, que será aberto no primeiro andar em dezembro, terá também o restaurante de alto nível RW Prime Steakhouse, um restaurante fino chinês e um amplo terraço ao ar livre de onde os comensais terão vista da pista em que o cavalo puro-sangue Secretariat foi exibido pouco antes de se aposentar e onde o papa João Paulo 2º rezou uma missa diante de 75 mil pessoas.

Outra parte do segundo andar é reservada para o Crockfords Casino, assim chamado devido ao cassino londrino de alto nível também pertencente a Genting, destinado a pessoas que fazem apostas altas e imitadores de Donald Trump, que terão acesso através de uma entrada reservada, depois de serem levadas ao Aqueduct em limusines abastecidas com champanhe.

O terceiro piso, chamado Central Park, terá 12 mil m². Será o maior espaço para eventos em Queens, um lugar que pode ser alugado para recepções de casamento.

Nas últimas semanas, 1.400 operários vêm trabalhando 20 horas por dia em dois turnos para garantir que o cassino esteja pronto até sexta-feira.

Em 2001, depois de os ataques terroristas contra o World Trade Center terem abalado a economia do Estado, a prefeitura de Nova York autorizou a promoção de jogos de azar no Aqueduct e oito outras pistas de corridas. 

Mas, enquanto as outras pistas puderam instalar máquinas caça-níqueis, que hoje geram mais de US$ 600 milhões por ano em receitas para o Estado, os contratos para o Aqueduct, visto como a franquia mais rentável, fracassaram. No ano passado, o fiscal geral do Estado descobriu que líderes do Estado no Senado tinham manipulado o processo para favorecer um grupo de Queens que tinha ligações com políticos.

Depois de outra rodada de licitações, Genting venceu ao oferecer ao Estado uma taxa adiantada de US$ 380 milhões, que já foi paga.

O cassino imita o brilho e a agitação do Caesars Palace ou Bally's, sem afrontar leis e regulamentos estaduais que permitem os jogos eletrônicos em pistas de corrida, mas não jogos com carteadores humanos. As mesas de bacará têm cartas reais embaralhadas e distribuídas por braços mecânicos, como os de um robô.

"Temos uma situação em que autoridades estaduais eleitas estão desrespeitando a Constituição", disse o reverendo Jason McGuire, diretor executivo do grupo político conservador cristão nova-iorquinos pelas Liberdades Constitucionais. "Um braço robótico distribuindo cartas de baralho é tão insidioso quanto um ser humano".

O psiquiatra Michael Bernstein, do centro de atendimento psicológico New Horizon, situado do outro lado do Aqueduct, disse temer que os benefícios econômicos sejam acompanhados por problemas sociais, destacando o perigo de os colegiais da região faltarem às aulas para jogar (a idade mínima para jogar é 18 anos).

"O jogo atrai o que existe de mais baixo na alma humana", disse ele. "É extremamente propenso a gerar dependência, e pessoas pobres serão afetadas em grau desproporcional".

Mas Howard Shaffer, professor associado de psicologia na Escola Médica de Harvard e especializado em dependência, disse que a porcentagem de jogadores patológicos nos Estados Unidos permanece igual desde os anos 1970, em menos de 1% da população, apesar da enorme explosão nacional dos jogos de azar.

"Devemos ficar atentos", disse Shaffer. "Contudo, há muito poucas evidências científicas que sugiram que os jogos de azar, por si sós, sejam a fonte primária de depressão, suicídios, falências ou criminalidade, apesar de poder ser um fator contribuinte".

O cassino vem gerando muito menos oposição local do que, por exemplo, os esforços do Wal-Mart para abrir uma loja na cidade. Agora está em curso um esforço acirrado de lobby por parte dos "racinos" para que sejam autorizados a tornar-se cassinos completos, com mesas de jogo mais lucrativas e carteadores humanos. O governador Andrew Cuomo já indicou que pode ser receptivo à proposta de legalização de cassinos não pertencentes a indígenas - o Estado de Nova York tem cinco cassinos indígenas -, e uma pesquisa feita em setembro pela Universidade Quinnipiac mostrou que 56% dos eleitores do Estado são a favor de se autorizar a criação de cassinos ao estilo dos de Las Vegas em Nova York.

Em South Ozone Park, um bairro tranquilo de classe média com casas térreas brancas, estúdios de caratê e centros de jardinagem, alguns moradores dizem esperar que o cassino devolva a glória da pista de corridas de cavalo, fundada há 117 anos e que já abrigou campeões como Cigar e Secretariat, mas que vem decaindo nos últimos anos.

Esta semana, grupos de trabalhadores imigrantes foram ao Aqueduct à procura de empregos. A ex-auxiliar administrativa Kathleen Lackhansingh, 66 anos, disse na segunda-feira que espera que o cassino lhe garanta alguma renda adicional, sem falar em um lugar mais cômodo para jogar dardos.

"Vai ser bom para a economia, e eu estou gostando porque odeio ser obrigada a ir até Atlantic City para jogar", disse ela.

Mas Enzo Bellissimo, que há 39 anos tem uma oficina mecânica situada do outro lado da rua em relação ao Aqueduct, previu que o cassino será um desastre. Ele disse que pretendia fechar sua oficina na sexta-feira, para evitar as multidões.

"Esse cassino vai criar muita confusão", disse Bellissimo. "Prostitutas. Criminalidade. Os jogadores não vão gerar mais movimento para nós. Por mim, eu não quero esse lixo aqui".

THE NEW YORK TIMES/FOLHA