sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Um grande avanço na Europa


Os líderes da União Europeia deram passos importantes para conter os efeitos da crise grega e criar condições para a restauração da saúde econômica e financeira da zona do euro. Depois de mais de oito horas de negociação, eles puderam anunciar um acordo com os credores privados para redução da dívida grega, um plano para fortalecer o principal fundo de resgate financeiro da região e um entendimento sobre a recapitalização dos bancos. A crise continuará afetando o dia a dia dos europeus por um bom tempo e os governos de grandes devedores, como a Itália, ainda terão de trabalhar duramente para reconquistar a confiança dos investidores. Mas as novidades anunciadas na manhã dessa quinta-feira, em Bruxelas, indicam a superação de alguns dos maiores obstáculos enfrentados pelos principais negociadores - a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy.
Os líderes europeus levaram meses para convencer negociadores do setor financeiro a aceitar uma redução de 50% dos créditos contra o Tesouro grego. Num entendimento anterior, os banqueiros haviam concordado com um corte de até 21%.
Ainda será preciso formalizar a adesão de cada instituição privada, mas o trabalho mais duro, a negociação geral com a entidade representativa dos banqueiros, o Instituto de Finanças Internacionais, foi finalmente concluído. Na prática, esse entendimento representa mais que uma reestruturação da dívida oficial grega: é um calote oficializado com a intermediação da cúpula dirigente da União Europeia e, de modo especial, dos chefes de governo das duas maiores potências da zona do euro. O desconto está estimado em cerca de 100 bilhões e os governos se dispõem a contribuir com até 30 bilhões para o pacote.
O entendimento sobre a recapitalização dos bancos também é um avanço importante. Segundo estimativa da Autoridade Econômica Europeia, cerca de 70 bancos terão de captar 106,4 bilhões para compensar perdas e para aumentar a sua segurança. As estimativas têm variado, mas ficam em torno desse valor. Com o acordo anunciado em Bruxelas, os bancos deverão completar seus ajustes até o fim de junho do próximo ano.
Como o objetivo oficial é tornar mais segura a relação entre capital e aplicações, alguns banqueiros poderão ser tentados a realizar o acerto por meio da venda de ativos. Será uma solução ruim, porque representará um encolhimento da atividade bancária. Por isso, as autoridades da zona do euro recomendam aos organismos nacionais de supervisão um acompanhamento próximo das medidas tomadas pelos bancos. Um dos objetivos é promover o ajuste mais pelo aumento do capital do que pela redução das aplicações.
As instituições financeiras deverão, preferencialmente, buscar dinheiro no mercado, mas, se for necessário, os governos deverão destinar recursos públicos para a capitalização dos bancos.
Será reforçado o principal fundo de resgate da região, a Linha Europeia de Estabilização Financeira, mais conhecida pela sigla EFSF (European Financial Stability Facility). Os 17 países da zona do euro sancionaram recentemente a reforma desse fundo e ampliaram sua dotação de cerca de 250 bilhões para 440 bilhões. Com a reforma, a ESFS pode atuar mais amplamente, ajudando com rapidez governos em apuros e contribuindo para o reforço financeiro dos bancos.
Menos de um mês depois de completada a aprovação das mudanças pelos 17 da zona do euro, os governos anunciaram, nessa quinta-feira, a disposição de ampliar para cerca de 1 trilhão o total de recursos à disposição do fundo. Nas próximas semanas haverá o detalhamento do plano.
O pacote recém-anunciado representa um enorme avanço, mas a superação da crise dependerá de ajustes severos tanto nos países comprometidos com programas de ajuda (Grécia, Irlanda e Portugal) como em algumas das maiores economias (Itália, Espanha e França), fortemente endividadas. Além disso, será preciso reordenar a união monetária e implantar uma disciplina fiscal sujeita a controle coletivo. Também isso está previsto e, para manter o euro, os governos terão de aceitar esse tipo de supervisão.
ESTADÃO