segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Novas empresas brasileiras acenam ao Vale do Silício

Quando a firma de investimentos Monashees Capital telefonou para Juliano e Mocia Ipolito, os fundadores de um mercado de artesanato on-line, eles "não quiseram fazer negócio", disse Fabio Igel, um fundador da Monashees. "Não precisavam do dinheiro e estavam felizes".

Mas Igel e seu sócio na Monashees, Eric Acher, pegaram um carro e dirigiram no calor escorchante os cerca de 95 quilômetros de São Paulo até Campinas. Passaram várias horas com os Ipolito para conhecê-los melhor e continuaram a visitá-los durante sete meses. O relacionamento cresceu. Recentemente, a firma dos Ipolito, a Elo7, conseguiu um financiamento Série A da Monashees e da firma americana Accel Partners.

O negócio ilustra o surgimento de uma comunidade de start-ups (empresas novatas) na internet no Brasil. A Monashees identificou os empresários, desenvolveu o relacionamento e logo trouxe um ator importante do Vale do Silício como parceiro.

Durante a ascensão do Brasil, vários setores econômicos atingiram proeminência global, mas a internet foi uma exceção notável. A Nasdaq não tem uma única firma brasileira de internet no pregão, e a Bolsa do próprio país tem muito poucas.

Segundo Cláudio Vilar Furtado, uma autoridade em capital de risco e investimentos privados no Brasil e professor da Fundação Getúlio Vargas, a Monashees está entre um pequeno grupo de empresas que introduz "um novo paradigma do tipo de relacionamento que alimenta empresários de maneira muito positiva e agregadora de valor".

A Monashees hoje detém US$ 70 milhões, contra US$ 30 milhões em julho de 2010. Os investimentos variam de US$ 500 mil a US$ 5 milhões para a rodada inicial. O máximo que ela já investiu em uma única companhia em diversas rodadas foram US$ 7 milhões. Acher diz que a firma geralmente assume 30% de propriedade em uma start-up, com uma variação de 20% a 40%. 

Este ano, a Monashees fez nove novos investimentos em diferentes start-ups brasileiras. Uma dessas companhias, a GetNinjas, um mercado de serviços que foi fundado por dois brasileiros, Eduardo L'Hotellier e Diego Dias, começou recentemente.

O surto inesperado de oportunidades de investimento no Brasil para a Monashees ocorre em parte porque o empreendedorismo está se tornando mais aceito como uma profissão viável. Por exemplo, L'Hotellier ocupou alguns cargos em empresas, mas preferiu ser empresário.

Os jovens brasileiros também são incentivados por seus compatriotas que voltam dos Estados Unidos, como Julio Vasconcellos, que se formou na Universidade da Pensilvânia e na Escola de Economia de Stanford na Califórnia e foi cofundador do primeiro site de ofertas, o Peixe Urbano, em 2010.


E enquanto os brasileiros estão voltando, a Monashees investiu pela primeira vez em americanos que, em uma inversão de papéis, vieram para o Brasil. O Baby.com.br, um site de comércio eletrônico de produtos para bebês, foi fundado pelos americanos Kimball Thomas e Davis Smith.

Thomas disse que desde suas primeiras reuniões com a Monashees "ficou claro que se trabalhássemos com esses caras eles estariam conosco diariamente".

A Monashees enfrenta diversos desafios, em particular para produzir seu primeiro sucesso. E a crescente concorrência significa que ela está perdendo negócios.

Se a Monashees e a cena start-up aqui terão sucesso, dependerá de seus parceiros americanos e se eles conseguirão se adaptar.

A Accel, que fez dois investimentos com a Monashees, também teve um papel crucial para conquistar os Ipolito.

"Como nós nos comportarmos vai determinar o quanto eles confiarão em nós no futuro", disse Kevin Efrusy, um sócio da Accel, sobre esse novo grupo de empresários brasileiros. "Se nos comportarmos bem, poderemos fazer sociedades com empresários de lá durante gerações".

THE NEW YORK TIMES/FOLHA