sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Soldado acusado de ajudar WikiLeaks é preso político, diz Chomsky


O soldado americano Bradley Manning, preso sob a acusação de ter vazado documentos confidenciais do governo para o site WikiLeaks, pode ser considerado um prisioneiro político, disse o linguista Noam Chomsky.

"Só o fato de que ele tenha sido mantido um ano sob tortura de fato [em confinamento solitário] sem acusações [formais] o torna um preso político, segundo os padrões que usamos para outros países", disse à Folha o professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

Conhecido pelas posições de esquerda, Chomsky milita em favor de presos políticos de regimes de diferentes tendências políticas.

Ontem, ele divulgou a segunda carta aberta em seis meses pedindo que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, liberte a juíza María Lourdes Afiuni.

Acusada de corrupção pelo próprio Chávez depois de conceder soltura condicional a um empresário detido havia três anos sem acusação formal, Afiuni está presa desde o final de 2009. Doente e ameaçada de morte na penitenciária, ela foi transferida à prisão domiciliar no início deste ano.

Chomsky participa de iniciativa em prol de Afiuni do Centro Carr de Direitos Humanos, da Universidade Harvard, e disse esperar que ela seja incluída nos "indultos regulares" de Natal.

Na carta, ele lembra que Chávez interveio pelos alpinistas americanos Josh Fattal e Shane Bauer, libertados em setembro pelo Irã depois de dois anos presos sob a acusação de espionagem.

"Esse caso [dos alpinistas] é muito próximo do meu coração. Estive diretamente envolvido nele, e a intervenção do presidente Chávez renovou minha esperança de que possa haver uma solução rápida para a detenção da juíza Afiuni".

Quanto a Manning, o linguista diz que haveria "um grande furor" por sua liberdade "se fosse em outro país". Desde a semana passada, o soldado comparece a audiências preliminares que determinarão se há provas suficientes para que seja processado na Justiça militar por "ajudar o inimigo" e violar a lei de espionagem.

Chomsky chama atenção para outros casos que "não recebem nenhuma cobertura" nos EUA, incluindo o de mais de 2.500 pessoas condenadas à prisão perpétua quando eram menores de idade, segundo número da ONG Anistia Internacional.

"Há crianças em prisões de segurança máxima que fazem Guantánamo parecer um paraíso", diz.

Cita também Omar Khadr, primeiro prisioneiro julgado pelas comissões militares de Guantánamo no governo Obama. Khadr, de nacionalidade canadense, foi preso no Afeganistão quando tinha 15 anos (está com 23), acusado da morte de um soldado americano durante a invasão do país, em 2001.

Ele fez acordo com a promotoria e ficará mais oito anos preso, em vez dos 40 pedidos inicialmente.

FOLHA