quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Desaceleração contínua


Anualmente, ao apresentar o balanço da economia da região, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), vinculada à ONU, divulga também suas projeções para o ano seguinte. Essas projeções mostram uma contínua desaceleração da atividade econômica na região. Para 2010, a projeção era de 5,9%; para 2011, de 4,3%; e, para 2012, de 3,7%, de acordo com relatório divulgado há dias.
Como a América Latina tem sido menos atingida pela crise do que outras regiões, o crescimento previsto pela Cepal para 2012 é maior do que a média da expansão projetada para outras regiões. São muitos, porém, os fatores externos que afetarão a atividade econômica nos países da América Latina e são tantas as incertezas sobre o comportamento da economia mundial que, por enquanto, a desaceleração é o único ponto comum das projeções para o desempenho da economia regional divulgadas por diferentes instituições. Não é possível prever a intensidade da desaceleração.
Se a situação dos países que enfrentam problemas para financiar as dívidas de seus governos e para estimular suas economias não piorar, a desaceleração da economia latino-americana será moderada em 2012. A Cepal reconhece, no entanto, que o cenário pode piorar bruscamente.
Em relatório divulgado no fim de outubro, a OCDE, que reúne os países ricos, advertiu que um aprofundamento da crise na zona do euro afetaria duramente a América Latina.
A intensificação da crise na Europa reduziria ainda mais a demanda de produtos exportados pela região (alimentos, minérios, petróleo e bens industrializados ou semi-industrializados, entre outros), afetaria o preço desses itens, limitaria os investimentos externos europeus, reduziria o fluxo de turismo, por exemplo. O mercado financeiro se tornaria ainda mais volátil, a insegurança poderia provocar a fuga de capitais da região e o acesso ao crédito internacional ficaria mais difícil. Se, além disso, a economia da China desacelerar, as exportações dos países latino-americanos, especialmente o Brasil, seriam ainda mais afetadas, gerando novas dificuldades para a região.
A OCDE reconheceu que há um contraste entre o alto nível de endividamento público na União Europeia e a situação fiscal relativamente tranquila dos países latino-americanos. Segundo a organização, entre 2000 e 2007, a dívida pública da América Latina diminuiu cerca de 15% e os resultados fiscais passaram de um déficit de 2,4% para um superávit de 0,4% do PIB nesse período. Graças a esse esforço fiscal, os países da região estavam mais preparados para a crise mundial iniciada em 2008 do que em crises anteriores. A esses fatores positivos, a Cepal acrescenta o alto nível de reservas internacionais da maioria dos países da região.
Mas o quadro não é homogêneo. A vulnerabilidade e a capacidade de resposta aos problemas externos variam de país para país. Alguns estão mais expostos do que outros, por causa de seu nível de reservas externas, de sua dívida pública, do déficit fiscal ou de sua dependência de exportações de poucos produtos.
Em média, como reconheceu a Cepal, os países da região reagiram bem à crise de 2008 e 2009, alcançaram bom ritmo de crescimento em 2010, mas já utilizaram boa parte dos recursos de que dispunham para aparar o impacto dos problemas externos. "O espaço para (a utilização de) alguns dos instrumentos contracíclicos é menor do que o de antes da crise de 2008-2009 e hoje estão mais frágeis certos fatores externos que na época permitiram uma rápida recuperação da economia global, especialmente a aplicação coordenada de medidas fiscais e monetárias dos países desenvolvidos", diz o relatório.
O aumento dos investimentos públicos é recomendado pela Cepal para contrabalançar o efeito negativo dos fatores externos. A Cepal argumenta que, com melhorias nos sistemas de coleta de impostos, alguns governos podem obter recursos para investir mais. Mas outros, como o brasileiro, já extraem do contribuinte tudo o que podem.
ESTADÃO