terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Peter Jackson narra caso de jovens presos injustamente


Damien Echols, que estava no corredor da morte, posa com a mulher, Lorri Davies, no Festival de Sundance


O diretor neozelandês Peter Jackson deixou a terra dos Hobbits para viajar até o Sundance Film Festival no final de semana e falar sobre um assunto nada fantasioso. Ele é um dos produtores do documentário "West of Memphis", um dos mais comentados nesta edição do evento, por trazer novas evidências sobre o caso de três adolescentes presos por 18 anos por um crime que não cometeram.

Em 1994, os jovens de Arkansas foram acusados e sentenciados pelo assassinato com fins ritualísticos de três garotos de oito anos na pequena cidade de West Memphis. Em 2011, eles foram finalmente libertados: Damien Echols, que estava no corredor da morte, Jessie Misskelley e Jason Baldwin, que haviam sido condenados a prisão perpétua.

Echols participou da coletiva de imprensa em Sundance sobre o filme, junto com Jackson. O diretor e sua mulher, Fran Walsh, ficaram sabendo do caso após assistir ao documentário "Paradise Lost", da HBO, em 2004, que já apresentava evidências de um julgamento mal feito.

"Ficamos chocados com a história e mais chocados ainda ao descobrir que eles continuavam presos", disse Walsh, ao lado de Jackson.

O casal entrou em contato com a mulher de Echols, Lorri Davis, e passou a dar todo tipo de apoio para libertá-los.

"Fomos atrás de um time de defesa, fomos atrás para fazer testes de DNA, não disponíveis na época. Queríamos trazer especialistas que nunca estiveram no julgamento e mostrar todo o nonsense", disse Jackson.
Em 2009, o novo material coletado foi rejeitado pelo tribunal e, desta maneira, nascia a ideia do documentário.

"Ficamos arrasados. Então resolvemos fazer o que fazemos melhor, um filme, para mostrar ao mundo o que estava acontecendo", continuou o diretor.

"Foi uma experiência amarga", disse Walsh. "Muitas decepções, um processo extremamente difícil, mas o final foi extraordinário".

A jornalista investigativa Amy Berg, indicada ao Oscar pelo documentário "Deliver Us from Evil" (2006), foi escalada para dirigir o filme, que ela passou mais de dois anos fazendo. Henry Rollins, Eddie Vedder e membros do Metalica também deram suporte ao caso.

Em 2010, finalmente os testes de DNA foram analisados pela justiça, o que acabou levando à libertação dos três de Memphis, em agosto de 2011. O processo, no entanto, ainda não acabou.

Não houve nenhuma compensação financeira, já que os três estão sob um acordo jurídico no qual só serão considerados totalmente absolvidos pelo sistema quando se achar o verdadeiro assassino.

Os advogados continuam na batalha, e o filme traz indícios, através dos testes de DNA, que complicam a vida de Terry Hobbs, padrasto de uma das crianças assassinadas. Hobbs já processou a equipe uma vez e perdeu.

Echols, de óculos escuros de lentes azuis, comentou na coletiva que, enquanto no corredor da morte, tentava ficar afastado dos detalhes das investigações para "conseguir manter a sanidade".

"Quero agora dedicar minha vida às artes plásticas, à literatura. Vou lançar um livro em outubro e fazer uma exposição em setembro em Nova York", disse. "Quero fazer coisas que sejam reconhecidas por si só, não quero ficar conhecido para sempre como o cara que estava no corredor da morte".

FOLHA