terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Pátria entra no mercado de energia elétrica


O Pátria Investimentos, parceiro no Brasil da gigante global de "private equity" (de aplicação em empresas) Blackstone, entra no mercado energético local, adquirindo 50% de uma comercializadora, a Capitale Energia. O valor da operação não foi revelado.

A Capitale, que compra energia de geradoras e revende para clientes como indústrias, foi criada em meados de 2010 e, em 2011, faturou R$ 215 milhões com a venda de 3.240 GWh - total suficiente para abastecer a cidade de Guarulhos (SP) por um ano.

A iniciativa do Pátria é mais um sinal do interesse crescente de instituições financeiras no mercado de energia brasileiro - mais especificamente, em empresas comercializadoras.

Em 2010, o BTG Pactual, de André Esteves, comprou 100% da Coomex, uma das maiores comercializadoras de energia independentes do país, com faturamento anual de R$ 500 milhões à época.

"Há um grande potencial no mercado livre de energia do Brasil. No exterior, em países como Estados Unidos, as principais comercializadoras pertencem a grandes grupos do setor financeiro", diz Luiz Otávio Magalhães, sócio do Pátria.

O chamado mercado livre de energia nasceu no país em 1995, mas ganhou força a partir do apagão de 2001.

O racionamento que foi feito gerou sobra de energia que passou a ser negociada por comercializadoras a valores até 50% abaixo do que no mercado regulado (formado pelas distribuidoras, como Light e Eletropaulo).

Hoje, há cerca de 20 negociadoras independentes. E com a oferta total de energia muito próxima à demanda, os preços no mercado livre já não são tão menores: entre 10% e 20% mais baixos, mas compensam para quem compra grandes quantidades.

Na avaliação da Capitale, o mercado livre, que representa 27% de toda a energia comercializada no país, pode chegar a 40% pelas regras atuais, que permitem a entrada de empresas de médio porte, como shoppings, com conta de luz de pelo menos R$ 50 mil por mês (o equivalente a uma carga de 500 kW).

"E, se as regras mudarem [permitindo a entrada de grupos menores] - e há discussões para isso -, a fatia pode chegar a 50%", afirma Daniel Augusto Rossi, sócio da companhia.

RISCO

Mas analistas alertam para o risco do abastecimento via mercado livre.

Como o sistema energético do Brasil é 80% baseado em hidrelétricas -diferentemente do que ocorre em outros países, como os EUA -, uma seca prolongada ou uma falha no fornecimento de gás da Bolívia poderia fazer o preço da energia disparar.

"É preciso ver se as comercializadoras estão preparadas para garantir os contratos nesses casos", diz o consultor Roberto D'Araújo.

FOLHA