terça-feira, 6 de março de 2012

Banqueiro americano é condenado por fraude de US$ 7 bilhões


O bilionário banqueiro texano, Allen Stanford, foi condenado pelo roubo de US$ 7 bilhões em dinheiro de seus clientes usado para financiar um estilo de vida suntuoso que incluía patrocínio a um torneio internacional de críquete, iates e propriedades em ilhas caribenhas.

Depois de um julgamento de seis semanas em Houston, e no quinto dia de deliberação dos jurados, os oito homens e quatro mulheres que formam o júri votaram pela condenação de Stanford, por 13 das 14 acusações que lhe eram movidas, entre as quais fraude, conluio e obstrução de investigação da Securities and Exchange Commission (SEC, a CVM dos EUA). Ele foi considerado inocente por uma acusação de fraude telegráfica.

Stanford, que está preso desde junho de 2009, pode ser sentenciado a mais de uma década na penitenciária, dentro de alguns meses. O veredicto surgiu um dia depois que os jurados informaram ao juiz que existia impasse quanto a algumas das acusações.

A condenação resolve ao menos em parte o caso de Stanford, que gerou manchetes internacionais e causou embaraços à SEC, criticada por ter descoberto ainda em 1997 que o banco de Stanford em Antígua estava cometendo fraudes, e ainda assim ter demorado mais de uma década a iniciar uma investigação.

Para os milhares de clientes do banco de Stanford que adquiriram certificados de depósito, o veredicto pode representar uma vitória sem substância. Nenhum dos 20 mil clientes recebeu dinheiro do liquidante apontado pelo tribunal para comandar a dissolução do banco.

O liquidante abriu processos contra corretoras que atendiam Stanford, contra o governo da Líbia e contra os comitês nacionais de arrecadação de verbas de campanha dos partidos Democrata e Republicano. Os processos solicitam mais de US$ 600 milhões em restituições.

Angela Shaw, fundadora da Stanford Victims Coalition, que representa os clientes prejudicados, disse que "é um momento agridoce. Estou feliz por ele ter sido condenado por ao menos 13 das 14 acusações, mas os investidores continuam batalhando para recuperar ao menos uma parcela de seu dinheiro, passados mais de três anos. A nossa Justiça é assim".

Para Stanford, o veredicto marca uma dramática queda. Em 2006, ele foi consagrado cavaleiro e dois anos mais tarde entrou na lista de norte-americanos mais ricos compilada pela revista "Forbes", com patrimônio líquido estimado em US$ 2,2 bilhões. Ele perdeu seu título de cavaleiro, e os ativos que lhe restavam foram confiscados ou estão congelados.

PROMOÇÃO

Os promotores acusaram Stanford de iludir os investidores em seu material de marketing, prometendo que seu dinheiro seria investido em ativos de fácil negociação, tais como ações e títulos, quando em lugar disso ele utilizou o dinheiro para comprar dois jornais no Caribe, ilhas e aviões.

Também pagou subornos, transferidos via contas em bancos suíços, a um fiscal de Antígua, para que este interferisse com a investigação da SEC, e também a um contador local, para que ele aprovasse as contas do banco e suas transações de empréstimo.

A principal testemunha da acusação foi James Davis, antigo vice-presidente financeiro do banco e colega de alojamento de Stanford na universidade. Davis se declarou culpado e está cooperando com as autoridades.

Stanford, que durante o julgamento usou ternos mas não gravata, não depôs, contrariando a promessa de seu advogado nas declarações de abertura, quando ele disse ao júri que Stanford lhes descreveria em pessoa seus sonhos para o banco e planos para criar empresas em Antígua.

Em lugar disso, seus advogados convocaram funcionários do banco que depuseram afirmando que Stanford era o visionário, mas Davis conduzia a administração do banco no dia a dia. Os advogados de defesa alegaram que nenhum investidor havia perdido dinheiro até que a SEC abrisse seu processo, em fevereiro de 2009, levando o tribunal a ordenar o congelamento dos ativos do banco.

FINANCIAL TIMES/FOLHA