terça-feira, 20 de março de 2012

Brasileiro falou com a família antes de ser morto na Austrália

O estudante brasileiro Roberto Laudísio Curti, 21, falou com a família por telefone antes de ser morto pela polícia australiana em Sydney, no domingo (18).



A Folha apurou que a conversa foi rápida e ele disse que estava sendo ameaçado, sem revelar detalhes. Sem conseguir contato novamente, a família ficou sabendo de sua morte horas depois. O consulado brasileiro também recebeu a informação sobre a ligação.

A irmã mais nova e um tio de Curti chegaram nesta segunda-feira (20) ao país para acompanhar as providências sobre o caso. Ele foi morto na região central de Sydney após receber choques de policiais.

O jornal "Sydney Morning Herald" afirma que a autópsia no corpo do brasileiro foi concluída ontem, mas o resultado ainda não foi divulgado. Ele deve revelar a causa da morte e se o brasileiro havia consumido alguma substância que possa ter contribuído em sua morte.

"Nós ainda estamos tentando entender a perda súbita e inesperada do nosso amado Roberto. Ele era um jovem muito amado pela família e por seus vários amigos, tanto na Austrália quanto no Brasil, e tinha um futuro promissor pela frente. Nós vamos sentir sua falta imensamente'', afirmou a família em uma nota divulgada pelo jornal.

Curti era de São Paulo e havia trancado matrícula no curso de administração na PUC para viajar. Na Austrália, estudava inglês e morava com sua irmã mais velha, casada com um australiano.

PERSEGUIÇÃO

As circunstâncias da morte do brasileiro ainda não estão claras, e a comunidade brasileira em Sydney cobra respostas da polícia.

Segundo amigos, o brasileiro foi visto pela última vez na noite de sábado na rua King. "Sabemos que ele estava em uma balada com os amigos e se separou deles por algum motivo, uma provável briga", disse uma parente que pediu anonimato.

A polícia australiana diz que houve um assalto a uma loja de conveniência na mesma rua por volta das 5h30 - um pacote de biscoitos foi levado. 

Policiais foram chamados e chegaram ao local em poucos minutos, mas o ladrão já havia fugido.

Segundo a familiar, o rapaz entrou na loja pedindo ajuda. "Se ele entrou se sentindo ameaçado, por que roubaria um pacote de bolachas?", questiona.

Segundo a polícia, uma guarnição de seis agentes fez buscas pela região e localizou um suspeito na rua Pitt, distante cerca de três quarteirões da loja.

O suspeito fugiu da abordagem, ainda conforme a polícia. Os policiais o perseguiram e, durante um confronto, dispararam uma arma de choque elétrico e usaram spray de pimenta.

Segundo o relato de uma testemunha da ação ao "Sydney Morning Herald", mesmo depois de caído ele tentou se livrar e foi atingido pelo menos mais três vezes com a arma de choque, do modelo Taser. Ele não tinha nada nas mãos quando a polícia o avistou, disse.

A ação da polícia foi filmada por uma câmera de segurança de um café da rua e exibida na TV australiana.

A familiar questiona a atuação policial. "Por que dar diversos disparos em alguém já imobilizado? Como policiais treinados não conseguiriam conter um garotão?".

A testemunha revelou que o rapaz gritou por socorro quando recebeu os choques, até desmaiar. Segundo a polícia, ele teve uma parada cardiorrespiratória. Policiais e paramédicos chamados ao local tentaram reanimá-lo, sem sucesso.

A loja de conveniência onde ocorreu o suposto assalto também tinha câmera e já enviou as imagens para polícia, segundo o jornal australiano. O vídeo ainda não foi divulgado.

A polícia disse que uma equipe de investigação, formada por membros do departamento de homicídios, foi acionada para apurar as circunstâncias da morte do brasileiro. O resultado ainda será revisto por oficiais da área de padrões profissionais.

A família já contatou advogados para acompanhar a investigação e, se de fato houver erro, processar o governo australiano. "A família está muito abalada, mas não deixará passar este crime", disse a parente.

CÔNSUL

André Costa, cônsul-adjunto do Brasil em Sydney, disse que o caso tomou repercussão "gigantesca" na Austrália, principalmente sobre o uso da pistola de choque elétrico, da marca Taser.

Ele diz que o governo australiano já informou o consulado oficialmente sobre a morte, e que a repartição está adotando as medidas cabíveis. 

Ainda não se sabe quando será feito o traslado do corpo ao Brasil.

TASER

A Taser é a arma da categoria não letal mais usada no mundo. Segundo a fabricante, um estudo publicado em 2009 nos EUA analisou 1.200 casos e concluiu que em 99,75% deles as vítimas dos choques não tiveram danos significativos.

A fabricante afirma que, apesar da pistola produzir 50 mil volts, apenas pulsos curtos de 400 volts atingem efetivamente o corpo dos suspeitos. Além disso, a corrente provocada é cerca de 0,01% da provocada por um choque de tomada 110V.

FOLHA