quarta-feira, 9 de maio de 2012

Contra vontade de Obama, casamento gay ganha espaço em eleições americanas


A contragosto do presidente americano, Barack Obama, o tema do casamento gay não sai da pauta de assuntos públicos do país - e pelo contrário, tende a ganhar cada vez mais espaço daqui até as eleições presidenciais de novembro.

Na terça-feira, a Carolina do Norte confirmou sua posição como sendo o 31º Estado a definir o casamento como "a união entre um homem e uma mulher", sem permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo ou sequer a união civil.

A medida foi aprovada em referendo por 58% a a favor e 42% contra, com alto comparecimento, e apesar do apoio de figuras de peso, como o ex-presidente Bill Clinton, ao casamento gay.

Após a votação, o porta-voz da campanha de Obama, Cameron French, disse que o presidente ficou "desapontado" com a decisão e taxou a proibição ao casamento gay de "divisiva e discriminatória".

Entretanto, o assunto está longe de ser um ponto pacífico no governo. Obama, em particular, nunca apoiou abertamente o casamento entre pessoas do mesmo sexo -ele diz que sua visão está "evoluindo".

Seus assessores lembram que o presidente derrubou a regra do "Não pergunte, não conte" (Don't ask, don't tell), que requeria que militares gays servindo nas Forças Armadas mantivessem o silêncio sobre suas preferências sexuais.

Mas Obama permanece em cima do muro, algo que ficou ainda mais claro depois que o vice-presidente Joe Biden declarou, nesta semana, que se sente "absolutamente confortável" com a ideia de cônjuges homossexuais terem minuciosamente os mesmos direitos dos heterossexuais.

AGRADANDO A TODOS

A seis meses de uma eleição - e com outros referendos sobre o mesmo tema agendados em outros Estados da federação -, críticos acusam Obama de querer ganhar o apoio dos dois lados.

A Carolina do Norte é considerada um "Estado-pêndulo", sem lealdade para com nenhum dos dois partidos Democrata ou Republicano. Como, pelo sistema americano, o vencedor de um Estado leva todos os votos daquele Estado, a vitória ou derrota em um desses terrenos eleitorais pode fazer diferença no fim da contagem.

Há quem especule que, embora "flerte" com a direita, Obama se converterá em um simpatizante do casamento gay até a convenção do partido Democrata, que será realizada em Charlotte, capital da Carolina do Norte, em setembro.

No dividido cenário político americano, agradar os dois lados em temas sociais tem se tornado cada vez mais difícil. Inclusive dentro do Partido Republicano, tradicionalmente mais conservador, as últimas eleições têm visto a substituição de moderados do partido por figuras mais linha-dura.

A mais recente "vítima" da virada para a direita no partido Republicano foi a derrota do senador moderado Richard Lugar, de Indiana, que perdeu a cadeira para seu colega de partido Richard Mourdock na terça-feira.

Mourdock se vangloria de "falar diretamente" para o movimento Tea Party, ultraconservador. Já Lugar estava no seu sexto mandato como senador e era considerado um moderado do partido (embora, em termos sociais, o senador tivesse votado tanto contra o casamento gay quanto o fim da legislação "Não pergunte, não conte").

Em fevereiro, outra senadora republicana de longa data, Olympia Snowe, anunciou que não concorreria a outro mandato por causa da grande polarização no Congresso americano.

Moderados também deixaram a carreira legislativa na Dakota do Norte e na Virgínia, e os aspirantes conservadores ao Senado querem que a história se repita em pelo menos mais dois Estados (Missouri e Montana).

Para a ala da direita do partido, depois do sucesso da campanha do presidenciável Rick Santorum -praticamente centrada em questões de comportamento -, esses são sinais de que boa parte do eleitorado quer mais disciplina fiscal e mais conservadorismo nos valores sociais.

DIREITOS IGUAIS

As divergências entre moderados e conservadores fazem com que o quadro dos direitos homossexuais varie entre os diferentes Estados americanos.

Atualmente, o casamento gay é permitido em nove estados, sendo que sete se situam no Nordeste do país. Em outros dez é permitida a união civil ou as chamadas "parcerias domésticas" entre pessoas do mesmo sexo.

No sudeste americano, nenhum Estado permite qualquer um desses cenários. 

No meio-oeste, apenas três permitem um dos dois sistemas.

Comentando a derrota no referendo da Carolina do Norte, a organização Human Rights Campaign, favorável ao casamento gay, disse que o resultado foi "um revés temporário para o nosso movimento", mas isso não desfaz o "progresso tremendo e o crescente apoio (à causa) em todo o país".

Segundo a ONG, em 2004, emendas contra o casamento gay costumavam contar com uma base de apoio que ultrapassava 70% dos eleitores. Quatro anos depois, esse apoio já havia caído para a casa dos 50%.

"O apoio a emendas proibindo casais comprometidos, do mesmo sexo, de se casar tem diminuído nos últimos anos, enquanto o apoio para a igualdade no casamento continua a aumentar em termos nacionais".

BBC BRASIL/FOLHA