terça-feira, 15 de maio de 2012

Os novos consumidores mudam perfil da demanda


O Brasil está produzindo carros de passeio que não consegue vender, o que poderia ser interpretado como um sinal de queda do poder aquisitivo da população. No entanto, em abril, enquanto o licenciamento de veículos caiu 10,8%, as consultas ao serviço de proteção ao crédito da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) cresciam 3,1%. Não é, portanto, que a demanda esteja caindo, mas o seu perfil é que está mudando.
Já tivemos oportunidade de nos referir ao crescimento de uma nova classe C, fruto de uma política de redistribuição de renda cuja origem está nos aumentos salariais das categorias menos favorecidas. No entanto, outros fatores explicam a profunda modificação do perfil dos consumidores brasileiros.
Nos seus dois mandatos, o ex-presidente Lula apostou no consumo doméstico como mola do crescimento econômico. O aumento do volume do crédito; o alongamento dos prazos dos financiamentos (até 60 meses para a aquisição de um carro de passeio); os reajustes do salário mínimo acima da taxa de inflação; e a queda do desemprego favoreceram essa política. Apareceu, assim, uma nova classe C, pronta para se aproveitar das novas condições de compra no varejo.
Paralelamente, assistimos a um aumento do endividamento com a dinamização do programa habitacional do governo, que elevou o endividamento e os prazos dos financiamentos. Dilma Rousseff não somente ampliou o programa habitacional, como luta por reduzir o custo do crédito, o que alimenta um maior endividamento.
Estamos, todavia, num ponto em que se nota certa saturação do consumo de alguns bens duráveis, por necessidade de reduzir o endividamento e os prazos das dívidas. Isso deverá afetar algumas linhas de comércio, fato que a indústria nacional deveria analisar melhor.
A nova classe C, que comprou seus carros novos com grande sacrifício, não poderá trocar a cada ano um carro cujo tempo de vida vai ter de aumentar. As facilidades para comprar aparelhos domésticos e até computadores criaram um quadro de saturação nesses mercados, para consumidores de renda mais modesta.
No momento em que se reduzem os prazos dos endividamentos, essas pessoas vão ter de comprar com prazo menor. Comprarão, pois, bens de menor valor no cartão de crédito e voltarão a gastar mais em comida e bebida.
São mudanças que desaconselham investimentos em montadoras de carros ou de outros bens duráveis.
ESTADÃO