quarta-feira, 4 de julho de 2012

ANP autoriza exumação do corpo de Yasser Arafat


RAMALLAH, Cisjordânia - A revelação de amostras elevadas de material radioativo nos pertences de Yasser Arafat gerou polêmica entre os palestinos.

A pedido da viúva Suha Arafat, a Autoridade Nacional Palestina (ANP) concordou em exumar o corpo do líder árabe. O presidente Mahmoud Abbas também reivindicou uma investigação internacional sobre o caso.

- Não há razão alguma política ou religiosa que nos impeça de investigar este caso, incluindo a exumação do corpo de Arafat por uma confiável autoridade médica e científica - disse Abu Rudeinah, porta-voz de Abbas.

Saeb Erekat, chefe das negociações palestinas com Israel, também fez um apelo por uma investigação internacional nos moldes da que analisou o assassinato do ex-premier libanês Rafik Hariri, em 2005. Em entrevista à TV al-Jazeera, Erekat disse que vai ao Conselho de Segurança da ONU pedir a formação de uma comissão.

- Espero que todos cooperem conosco, porque nós buscamos apenas a verdade, nada além disso - disse Erekat à rede árabe.

Foi um crime, diz viúva do líder palestino

O pedido de exumação do corpo de Arafat partiu da própria viúva, Suha Arafat. Os médicos suíços que encontraram rastros de polônio radioativo em roupas e objetos usados pelo líder palestino em seus últimos dias de vida dizem que a análise dos ossos pode dar um diagnóstico mais conclusivo sobre a morte do ex-presidente da Organização para Libertação da Palestina (OLP) e da ANP. Após oito anos, a causa da doença repentina de Arafat ainda é um mistério.

- É um processo muito, muito doloroso, mas pelo menos vai tirar essa angústia do meu peito - disse Suha, à al-Jazeera. - Ao menos, terei feito algo para explicar ao povo palestino, aos árabes e muçulmanos ao redor do mundo que não foi uma morte natural, foi um crime.

Arafat morreu em novembro de 2004 em um hospital militar, na periferia de Paris, em decorrência do que os médicos chamaram de uma enorme hemorragia cerebral, poucas semanas depois de adoecer repentinamente em Ramallah. Médicos que analisaram seu histórico médico, no entanto, não conseguiram identificar a causa da hemorragia. Na época, surgiram rumores de que o líder teria sido morto por Israel por representar um obstáculo às negociações de paz. Entre as especulações, ainda estaria a hipótese de câncer, cirrose ou ainda morte em consequência do vírus do HIV.

O Instituto de Radiação Física de Lausanne, na Suíça, investigou os pertences de Arafat entregues por Suha. Os testes revelaram alta incidência de polônio-210. O isótopo tem meia-vida de 138 dias, o que significa que metade da substância diminui em quatro meses e meio. Pouco se sabe sobre as consequências deste elemento químico na saúde humana e há pouco consenso científico sobre os sintomas de envenenamento por polônio, devido ao baixo número de casos registrados.

Muitos médicos que cuidaram de Arafat dizem que não tiveram permissão para investigar sua morte, considerada um “segredo militar”. A maioria de seus antigos médicos no Cairo e em Túnis se recusam a dar entrevista. Com a falta de provas para analisar a doença que matou o líder palestino, os ossos podem ser a única fonte de evidência conclusiva. Apesar de a ANP ter autorizado a exumação, Israel ainda precisa autorizar o envio do material para fora da Cisjordânia, onde seria analisado.

O GLOBO