domingo, 22 de julho de 2012

Seca nos EUA pode provocar crise global de alimentos


A pior seca dos últimos 50 anos nos Estados Unidos pode provocar uma crise de alimentos de proporções globais. O alerta está em reportagem de ontem do jornal britânico 'Financial Times', assinada pelos jornalistas Jack Farchy, de Londres, e Gregory Meyer, de Nova York.
Artigo do jornalista Peter Baker, publicado no New York Times, também informa que o presidente Barack Obama preveniu na quarta-feira que o abastecimento alimentar está ameaçado pelo agravamento da seca que aflige mais da metade do país. Obama pediu para o Congresso reativar programas extintos de ajuda em situações calamitosas.
O presidente americano reavaliou a situação com o secretário da Agricultura, Tom Vilsack. O secretário disse que se trata da "situação mais séria" em cerca de 25 anos e revelou que estava rezando para chover.
"Eu me ajoelho todos os dias, e faço uma oração extra", disse Vilsack aos jornalistas na Casa Branca, depois de discutir a situação com o presidente. "Se soubesse uma oração da chuva ou uma dança da chuva, eu poderia fazê-la", afirmou.
Vilsack disse ao NYT que 1.297 condados, cerca de um terço dos condados do país, foram classificados como áreas de desastre. Ele disse também que outros 39 foram incluídos nessa conta na quarta-feira.
Mais de três quartos da safra de milho e soja do país estão em áreas atingidas pela seca, e mais de um terço dessas safras estão agora classificadas como muito fracas, disse o secretário. O preço do milho subiu 38% nas últimas semanas, e o da soja, 24%.
O país ainda poderá ter a terceira maior safra de milho da história porque o tempo bom anterior encorajou o plantio, mas Vilsack disse que a seca elevaria os preços dos alimentos em 2013.
De acordo com o FT, os preços do milho e soja subiram a níveis recordes, superando os picos da crise de 2007-08, que provocou motins em mais de 30 países. Já os preços do trigo ainda não estariam em níveis recordes, mas subiram mais de 50% em cinco semanas, superando os preços alcançados após a proibição de exportação da Rússia de 2010.
Ainda segundo o jornal britânico, a seca nos Estados Unidos, responsáveis por quase metade das exportações mundiais de milho e boa parte da soja e do trigo, deve repercutir em todo o mundo, atingindo consumidores do Egito e da China.
O custo da carne bovina, suína e de aves poderá cair no curto prazo porque os rebanhos estão sendo liquidados, levando mais carne ao mercado, segundo Vilsack. Mas esses preços provavelmente subirão mais para o fim deste ano ou no começo do próximo. Ele não quis especular sobre a possibilidade de a seca estar relacionada à mudança climática.
"Tudo que sabemos é que nesse momento há muitos agricultores e criadores em dificuldade", disse Vilsack. Segundo ele, a prioridade deve ser "o que nós podemos fazer para ajudá-los".
O governo dos EUA baixou a taxa de juros para empréstimos de emergência e tem trabalhado para acelerar programas de ajuda. Vilsack disse que o Congresso poderia ajudar recuperando programas para desastres que expiraram no ano passado ou fornecendo outra ajuda pela legislação de apoio à agricultura.
O brasileiro José Graziano da Silva, diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), disse ao Financial Times: "Estou certamente preocupado com os recentes aumentos nos preços das commodities de alimentos, dadas as suas implicações potenciais especialmente para os mais vulneráveis e os pobres, que gastam cerca de 75% de sua renda em alimentos". 
ESTADÃO