terça-feira, 20 de novembro de 2012

Detento confirma depoimento de que Bola teria matado Eliza Samudio e planejado morte de juíza do caso


RIO e CONTAGEM — O detento Jaílson Alves de Oliveira, uma das testemunhas de acusação confirmou na tarde desta terça-feira, em juízo, o depoimento no qual disse que o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, teria assumido o assassinato de Eliza Samúdio e ainda estaria planejando a morte do presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia, Durval Ângelo (PT), e da juíza do caso, Marixa Fabiane Rodrigues. O detento, que atualmente está preso na Penitenciária Nelson Hungria, recolhido na enfermaria por medida de segurança, teria ouvido Bola confessar o crime durante banho de sol na penitenciária. Ele teria testemunhado ainda ameaça contra a juíza Marixa Fabiane. Jaílson disse à juíza que teme por sua vida.

- Disseram que sou cagueta. Corro risco de vida - afirmou Jaílson.

O detento Jaílson Alves de Oliveira afirmou durante depoimento que foi ameaçado de morte pelo goleiro Bruno na penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, no último dia 13 de novembro. Segundo relato do detento à juíza Marixa, Bruno teria dito:

- Jaílson, o que é seu está guardado. Você não sabe com quem está mexendo. Seus dias estão contados". A ameaça teria sido feita enquanto Jaílson estava tomando banho de sol na entrada da enfermaria do presídio. Na hora, segundo a testemunha do MP, Bruno estava indo receber atendimento psiquiátrico.

Com o olhar fixo para Bruno, Jaílson desafiou o jogador: "ameaçou ou não ameaçou. Fala agora". Bruno respondeu: "Nem te conheço, parceiro". Na segunda-feira, primeiro dia do julgamento, o advogado do detento entrou com uma petição pedindo proteção ao detento.

Após pausa para o almoço nesta terça-feira, o julgamento foi retomado com inclusão do criminalista Tiago Lenoir na defesa de Bruno Fernandes. Ele alegou ter entrado para "reforçar" a defesa do ex-goleiro do Flamengo. Lenoir foi substabelecido pelo advogado Francisco Simim, que também permanece na defesa do jogador.

Em seu twitter nesta segunda-feira, Lenoir sugeriu que Bruno e Macarrão deveriam confessar o crime".

- O Bruno e o Macarrão deveriam confessar o crime de homicídio e negar a ocultação de cadáver e sequestro. Daí pega seis e volta a jogar futebol - postou o advogado no microblog.

Na manhã desta terça-feira, o advogado Rui Pimenta foi destituído da defesa do goleiro Bruno Fernandes. Após conversar reservadamente com seus defensores, Bruno pediu para a juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, que preside o júri, um tempo para arrumar outro advogado. Ele alegou estar inseguro e pediu desculpas.

— O senhor ficaria chateado se parasse de advogar para mim? — disse Bruno a Pimenta.

O advogado respondeu que não: — O Bruno agradeceu o trabalho feito, mas disse que queria mudar de estratégia. Fui pego de surpresa. Vou torcer para que ele seja absolvido. Ele acrescentou que Bruno chegou a pedir que ele entrasse com um pedido de Habeas corpus, o que já havia sido combinado com o réu.

A magistrada, por sua vez, foi incisiva e avisou que o julgamento iria continuar, pois o jogador ainda contava com o advogado Francisco Simim. No entanto, Bruno recusou a defesa de Simim, porque, segundo ele, isso prejudicaria sua ex-mulher Dayanne Rodrigues de Carmo Souza, que também é representada por ele. Mas a juíza Marixa Rodrigues negou o pedido de Bruno para também destituir Simim.

Para conter a manobra do goleiro, a juíza, então, acabou decidindo desmembrar o processo, atendendo ao pedido da Promotoria. Com isso, Dayanne foi dispensada e será julgada juntamente com o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, em data a definir. As testemunhas da ré também foram liberadas pela magistrada.

Após o tumulto, a juíza Marixa começou a ouvir as testemunhas de acusação. A partir do interrogatório de João Batista Alves Guimarães, ex-caseiro do sítio do goleiro Bruno em Esmeraldas, o promotor Henry Wagner Vasconcelos desistiu da acareação entre ele e Cleiton da Silva Gonçalves, apontado nas investigações como o ex-motorista do goleiro.

Segundo o promotor, há vários pontos contraditórios no depoimento de Cleiton. Na segunda-feira, o ex-motorista falou em juízo que foi pressionado durante o depoimento à polícia, em 29 de junho de 2010. Ele afirmou também ter ficado algemado de três horas da manhã até às três horas da tarde. João Batista, por sua vez, desmentiu Cleiton. O caseiro falou que ele foi muito bem tratado pela delegada e que não ficou algemado em momento algum. O depoimento do ex-motorista foi lido pela juíza.

A delegada de Homicídios de Contagem, Ana Maria Santos, foi a segunda a ser ouvida. Ela começou a prestar esclarecimentos sobre as investigações por volta de 11h30m. Ana Maria afirmou que, na ocasião do crime, chegou à delegacia especializada a notícia de um homicídio.

— Chegou a notícia de um homicídio, se queria evitar um outro homicídio, de um menor — disse a delegada, referindo-se a Bruninho, filho do goleiro com Eliza, que estava desaparecido. Segundo a delegada, no sítio de Bruno, em um primeiro momento, não havia informações sobre a presença de uma criança no local.

— Depois, o caseiro do sítio disse que uma criança estava lá e que era filha de uma mulher que estava no sítio com o goleiro — continuou Ana Maria. A delegada disse ainda que a equipe de investigações, ao longo da busca por Bruninho, foi informada que a criança havia sido entregue para outra pessoa. 

A delegada contou que decidiu, então, conduzir todos os envolvidos até a delegacia, diante da contradição sobre a presença da criança no sítio.

Ana Maria declarou ainda que Elenilson Vitor da Silva, outro caseiro do sítio do jogador, e Emerson Marques de Souza, o Coxinha, se esforçaram para negar a existência de Bruninho. Segundo a delegada, foi uma pessoa identificada como José Roberto, o caseiro do sítio, quem confirmou a presença da criança no imóvel do jogador.

Em outro momento, Coxinha confirmou a existência da criança e se dispôs a apontar seu paradeiro. Inicialmente, Bruninho, segundo o depoimento da delegada, foi levado para a casa de Júlia, que seria namorada ou mulher de Cleiton da Silva Gonçalves, ex-motorista do goleiro. Depois a criança foi levada para residência de uma mulher identificada como Geisla, antes de ser encontrada pela polícia. Geisla seria vizinha de Júlia.

Ana foi arrolada pelo Ministério Público (MP) para falar no lugar do primo do ex-goleiro Bruno, menor na época do crime. O menor, hoje com 19 anos, foi incluído na lista de protegidos da Justiça desde setembro. Por esse motivo, ele foi impedido de participar do julgamento pelo Tribunal de Justiça. 

Confirmando as informações do inquérito, a delegada lembrou que o menor disse, na época, que o homem que matou Eliza tinha um problema no dente e era grisalho. Esse homem pediu para Macarrão amarrar as mãos de Eliza, que a chutou. Depois de amarrada, o homem deu uma gravata e durante o tempo em que era apertada, ela foi perdendo fôlego até cair no chão e morrer.

Ainda fazem parte do rol de testemunhas de acusação a delegada Alessandra Wilke, que participou das investigações, uma testemunha da oitiva de Cleiton à polícia e uma assistente técnico-jurídico do sistema socioeducativo de Minas Gerais, que acompanhou um depoimento do primo do goleiro, menor à época do desaparecimento de Eliza. Somente depois da conclusão destes depoimentos, serão ouvidas as testemunhas de defesa.

Bruno ameaçou testemunha na véspera do júri, diz promotor

Do lado de fora do fórum, o promotor de Justiça Henry Wagner Vasconcelos de Castro disse, pela manhã, que o detento Jaílson Alves de Oliveira — uma das testemunhas de acusação do desaparecimento e morte de Eliza Samudio arroladas pelo MP — teria dito a funcionários do Tribunal de Justiça de Minas Gerais que foi ameaçado pelo goleiro Bruno Fernandes às vésperas do início do júri popular. O preso denunciou, em 2011, um esquema que teria sido montado por Bruno e Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, para matar a juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, que preside o júri. Com 30 minutos de atraso, a juíza deu início, às 9h30m, ao segundo dia de julgamento de Bruno e de mais três acusados, até aquele momento.

As declarações de Jaílson Oliveira, segundo o promotor, foram dados nesta segunda-feira. De acordo com Wagner, Jaílson disse que Bruno comentou que ele estava “falando demais”, e que “peixe morre pela boca”. O detento chegou a pedir à Justiça proteção no traslado do presídio para o fórum.

A magistrada começou a sessão desta terça-feira lendo um resumo do que aconteceu no primeiro dia de júri, quando a defesa de Bola deixou o caso. Ela decidiu aplicar multa aos advogados Ércio Quaresma, Fernando Costa Oliveira Magalhães e Zanone de Oliveira Júnior, por terem abandonado o plenário do fórum “sem haver razão juridicamente relevante”.

— Esse tipo de conduta causa grande prejuízo ao Estado e à sociedade que implica em gasto de dinheiro público — afirmou ela. — Atitudes como esta atentam contra a realização da Justiça e também à classe dos advogados e contra a própria classe de advogados — finalizou. Cada advogado deverá pagar R$ 18.660, o correspondente a 30 salários mínimos, no prazo de 20 dias. O abandono do plenário será comunicado à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), entidade que deve avaliar a conduta dos defensores.

No banco dos réus, estavam sentados, além do goleiro Bruno Fernandes, que não está algemado, Luiz Henrique Romão, o Macarrão, amigo de Bruno, e a ex-mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues de Carmo Souza, que acabou sendo dispensada, e a ex-namorada do goleiro, Fernanda Castro, que chora muito durante a sessão desta terça-feira. A todo momento, ela coloca o braço na cadeira da frente, e com ele, esconde o rosto reclinado.

De uniforme vermelho, Bruno e Macarrão chegaram ao Fórum de Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte, por volta de 8h40m. Eles deixaram o Presídio Nelson Hungria, na mesma cidade, por volta de 8h. Sob forte esquema de segurança, Bruno e Macarrão seguiram em um comboio formado por quatro veículos do Grupo de Operações Especiais da Polícia de Minas Gerais para o local onde está sendo realizado o julgamento de envolvidos no desparecimento e morte de Eliza Samudio, em 2010. O percurso durou cerca de 20 minutos.
Em frente ao fórum, as manifestações ficaram por conta de integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST), que fizeram protesto pela morte de trabalhadores rurais no Vale do Jequitinhonha. Dayanne Rodrigues de Carmo Souza, que responde ao processo em liberdade, foi a primeira a chegar no local. Ela estava acompanhada do então advogado do goleiro, Rui Pimenta. 

Ingrid Calheiros, a atual noiva de Bruno, que não tem envolvimento no caso e apenas assiste ao julgamento do goleiro, chegou logo depois ao fórum. O detento Jaílson Alves de Oliveira, arrolado pelo Ministério Público como uma das testemunhas de acusação, também está no Fórum de Contagem. Ele denunciou o suposto esquema de Bruno, Macarrão e Bola para matar a juíza Marixa Fabiane Lopes, que preside o júri.

A Escola Municipal Babita Camargo, que fica ao lado do Fórum de Contagem, amanheceu, nesta terça-feira, pichada com frases em defesa do atleta. “Bruno, acreditamos na sua inocência”, “Se não a (sic) provas não a (sic) condenação” e “Liberte o Bruno” são algumas das frases que podem ser lidas no muro da escola. Nesta segunda, o local foi pichado com frases contra o goleiro. “Bruno, me diga com quem tu anda que te direi quem tu és”, dizia uma delas.

Primeiro dia tem depoimento considerado esclarecedor

O primeiro dia do julgamento foi marcado por um depoimento considerado esclarecedor pela acusação. Primeira testemunha arrolada pelo Ministério Público a falar em juízo, Cleiton da Silva Gonçalves, motorista do goleiro do Flamengo na época do crime, confirmou a ordem de Luiz Henrique Romão, o Macarrão, de lavar com óleo diesel a Land Rover do jogador.

— Isto foi importantíssimo para a acusação. Aquele veículo já havia passado por uma lavagem na água, e as manchas de sangue não saíram. Por qual motivo uma pessoa pode querer lavar seu carro com óleo diesel? — indagou o promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro, em entrevista, ao fim da sessão desta segunda-feira.

Segundo o membro do MP, a lavagem com o óleo só não ocorreu porque o veículo foi apreendido pela Polícia Militar (PM) numa blitz. Durante a abordagem, o carro ficou retido por falta de documentos obrigatórios. A Land Rover, segundo as investigações, foi usada para trazer Eliza do Rio até o sítio de Bruno em Esmeraldas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. No veículo, foram encontrados vestígios de sangue da ex-amante do goleiro do Flamengo. Na terça-feira, deve ocorrer uma acareação entre Cleiton e João Batista, que testemunhou o depoimento do ex-motorista à Polícia Civil.

Depois de aproximadamente dez horas, a juíza Marixa Fabiane Rodrigues encerrou, por volta das 19h40m, o primeiro dia do júri que vai julgar os réus acusados de matar a modelo Eliza Samúdio. O encerramento se deu logo após o término do depoimento de Cleiton, primeira das testemunhas a ser ouvida. 

Ele começou a depor por volta das 17h e, a pedido do Ministério Público, ficará retido até o fim das oitivas das demais testemunhas. O ex-motorista será encaminhado para um hotel.

Na primeira parte do julgamento, a defesa de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, conseguiu desmembrar o processo. Os advogados do ex-policial reclamaram do tempo de 20 minutos destinado para apresentar seus argumentos. Com isso, a juíza Marixa Fabiane Lopes deferiu o pedido para o réu ser julgado em outra oportunidade, provalmente no início de 2013, junto com Wemerson Marques de Souza, o Coxinha, e Elenilson Vítor da Silva, ex-caseiro do sítio do goleiro. Para o promotor, foi uma manobra para Bola não ser julgado agora.

Após a escolha dos jurados (seis mulheres e um homem), Cleiton Gonçalves ouviu da juíza Marixa Fabiane a leitura do seu depoimento que consta no processo. Indagado pela magistrada, ele confirmou o que havia dito durante as investigações, mas depois voltou atrás ao ser interrogado pelo promotor de Justiça. Em 2010, ele disse ter aconselhado Bruno a libertar Eliza e a criança do sítio.

— Não me lembro há dois anos atrás. Ameaçaram me prender por homicídio. Fiquei algemado de 3h da manhã até 15h. Cheguei a ficar sem sentir o braço — alegou.

Sobre a lavação da Land Rover, Gonçalves afirmou que a ordem partiu de Macarrão, tendo em vista que Bruno estava no Rio de Janeiro.

— Não era motorista do Bruno. Só estava dirigindo o carro naquele dia porque o primo do Bruno era menor. Nem sei como se lava um carro — afirmou a testemunha.

Por fim, ele falou que o goleiro é “uma boa pessoa”, “não presenciou ele fazer mal a ninguém” e que não tem medo dos acusados.

Ainda durante indagação do MP, o ex-motorista alegou que os óculos da marca Ray-Ban encontrados em sua casa não pertenciam à Eliza:

— A mãe da minha namorada comprou os óculos para ela. Óculos são fáceis de comprar.

Questionado pelo promotor se havia visto Fernanda acompanhando Bruno em comemoração do Time 100%, de Ribeirão das Neves, Cleiton disse:

— O Bruno já teve várias loiras e várias gostosas.

Neste instante, Bruno abaixou a cabeça e começou a sorrir.

O ex-motorista, no entanto, disse não ter conhecido Eliza Samúdio. Ainda indagado pelo promotor, ele disse ter ouvido de Sérgio, primo de Bruno, a versão de que Eliza "já era”, mas não tinha condições de dizer que a modelo havia sido realmente assassinada.

Mais cedo, o advogado Leonardo Diniz, que representa Luiz Henrique Romão, o Macarrão, informou que, após conversar com seu cliente, decidiu voltar atrás na decisão de abandonar o julgamento dos cinco envolvidos no assassinato de Eliza Samudio, em 2010. A defesa de Macarrão chegou a anunciar, antes do intervalo do júri, que abandonaria o plenário juntamente com a equipe de advogados de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola.

— Primeiro realmente nós resolvemos sair. Mas, depois, vimos que o direito de decidir é dele. Ele merece uma defesa — afirmou Diniz.

Macarrão já não estava mais presente no plenário do Fórum de Contagem, em Minas Gerais. Ele foi retirado durante a tarde, após se sentir mal. O amigo de Bruno pediu para sair do local e foi encaminhado de volta para o presídio de Contagem. De acordo com o advogado dele, Macarrão não se sentiu bem porque ficou muito tempo sentado e teve uma indisposição. Ainda de acordo com Diniz, ele voltará ao plenário nesta terça-feira. O réu alegou estar se sentindo mal minutos após a entrada do goleiro Bruno no plenário.

A segunda parte do primeiro dia de julgamento começou com o pronunciamento do promotor Henry Castro. Em seguida, foram escolhidos os sete jurados. São eles: Ana Lídia Costa Gouveia, Tania Márcia Caetano Moreira, Ivone Bispo Dias, Elizangela Rosilene Costa, Roberto Severo, Lilian Queiroga e Ana Lúcia de Oliveira. No discurso, o promotor afirmou que as defesas pediram para incluir no processo fotos vulgares e pornográficas com o objetivo de aviltar a memória da vítima.

Advogados de defesa de Bola e Macarrão abandonam plenário

O júri recomeçou depois de um intervalo de duas horas para o almoço sem a presença de Bola. A juíza Marixa Fabiane Rodrigues informou que ele não aceitou ser representado pelo defensor público. Com isso, o processo foi desmembrado, e ele terá dez dias para nomear os novos advogados, já que Ércio Quaresma e Zanone Manuel de Oliveira, que o defendiam, deixaram o caso. O julgamento de Bola, dessa forma, será realizado em outra data, a ser determinada.

Com a saída da defesa de Bola, a tendência é que o julgamento termine na próxima sexta-feira. A previsão é do jurista Luiz Flávio Gomes. Ércio Quaresma, advogado de Bola, avisou que iria ouvir cada uma das cinco testemunhas de defesa por cinco horas.

Além do goleiro Bruno Fernandes, estiveram no fórum neste primeiro dia sua ex-mulher Dayanne Rodrigues e sua ex-namorada Fernanda Castro. Bruno vestia uniforme vermelho da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi). Dayanne Rodrigues estava de paletó branco, e Fernanda Castro usava um preto. Nenhum dos réus estava algemado. Bruno, Dayanne e Fernanda estavam virados para a juíza. Bruno olhou várias vezes para o lado onde estava a plateia. Ele e sua noiva, Ingrid Calheiros, estavam usando aliança na mão esquerda. A jovem estava acompanhando o júri na parte reservada aos parentes dos réus. Dayanne estava ao lado de Bruno, com as mãos cruzadas e mexendo bastante os dedos. Fernanda, de óculos e cabelo preso com uma trança, estava um pouco atrás dos dois.

Os advogados de defesa de Bola abandonaram o plenário pouco antes de 13h. A confusão teve início com a decisão da juíza de que cada advogado de defesa teria direito a 20 minutos para suas manifestações.

— Antes de sermos alijados da tribuna, gostaríamos de deixar claro aos jurados que é impossível a realização de um julgamento justo — disse Ércio Quaresma, um dos advogados de Bola, momentos antes de deixar o local. — Tenham todos um bom dia, um bom trabalho.

Com o abandono das equipes de defesa, Bola foi anunciado como indefeso pela juíza que preside o júri. A magistrada designou cinco defensores públicos que tiveram acesso ao processo da morte da modelo para ficarem de prontidão caso os advogados de todo os cinco réus decidam abandonar o plenário.

Mais cedo, o advogado Ércio Quaresma adiantou que Bola, acusado de ser o executor de Eliza, não aceitaria ser defendido pela Defensoria Pública. No início do julgamento, o advogado causou tumulto. Primeiro exigiu que tivesse acesso às mídias anexadas ao processo. E ainda determinou que eles fossem vistas em um dos seis computadores trazidos por ele ao plenário. A juíza Marixa Fabiane Rodrigues questionou, dizendo não ter certeza se ele copiaria ou não as peças do processo.

Segundo a juíza, as imagens de mídias foram colocadas à disposição desde o começo do processo aos advogados de defesa e de acusação. A juíza completou afirmando que apenas os vídeos das oitivas das testemunhas não tiveram suas cópias autorizadas para manter a integridade das testemunhas.

O bate-boca continuou com o advogado afirmando que estava baseado na lei para ter direito ao acesso às mídias. A juíza afirmou que ele teve todo o tempo do mundo para questionar o fato. Ele rebateu afirmando que ela não poderia ter o direito de dizer em qual tempo ele poderia ou não ter acesso às mídias. 

Ela então disse que o tempo dele estava encerrado e cassou a palavra dele.

Defesa do goleiro Bruno diz que Eliza é procurada em São Paulo

Apesar da desistência dos defensores de Bola, o advogado do goleiro, Rui Pimenta, disse que não vai abandonar seu cliente:

— O Bruno está esperançoso. O Bruno está cansado de cadeia, doido pra sair e comer uma picanha mal passada. Para isso, ele precisa de um alvará de soltura. Por isso vamos continuar no júri.

Pimenta questionou o tempo com a juíza, alegando que o processo é longo e vai causar constrangimento se ela cassar a palavra após o prazo previsto. O advogado também está requerendo novamente o depoimento do padrasto e do primo de Bruno, menor de idade na época do crime.

— Foi através do depoimento dele, o menor, que se instaurou esse processo. É imprescindível que ele venha. Não abrimos mão disso — justificou Pimenta.

Para o advogado, o julgamento não vai durar mais que quatro dias, pois, segundo ele, uma testemunha viu Eliza em um hotel de São Paulo. Ele afirmou que tem uma pessoa procurando por ela na cidade.

O julgamento do goleiro Bruno de Souza e outros quatro acusados da morte da modelo Eliza Samudio teve início por volta das 10h desta segunda-feira no Fórum de Contagem, Região Metropolitana de Minas Gerais. O início dos depoimentos demorou devido ao atraso de testemunhas. O corpo de jurados decidirá o destino do goleiro e dos réus Luiz Henrique Romão, conhecido como Macarrão; Marcos Aparecido dos Santos, o Bola; Dayanne Rodrigues, com quem Bruno tem duas filhas; e Fernanda Castro, ex-namorada dele, acusados de sequestro, cárcere privado, homicídio e ocultação de cadáver. Todos negam participação. Inicialmente, o julgamento estava previsto para durar dez dias.

O GLOBO