Valentin Katasonov
Strategic Culture
Há cerca de 25 anos, o capitalismo oligárquico começou a crescer em
solo ucraniano. É coisa que se baseia na “seleção natural” – os
oligarcas devoram pequenas e médias empresas, e o patrimônio do estado.
Quando os recursos para acumulação primitiva de capital se esgotam, os
oligarcas começam a devorar-se uns aos outros, usando poder de governo,
tomada fraudulenta de empresas, judiciário corruptos, sumiço de provas e
até assassinatos, sendo necessários. São como vários escorpiões num
vaso pequeno.
Depois do golpe de 2014, o tal processo de “seleção
natural” capitalista na Ucrânia foi repentinamente acelerado. Alguns dos
oligarcas, como Dmitry Firtash, por exemplo, abandonaram a disputa, com
outros. Rinat Akhmetov que chegou a ser o mais rico dos oligarcas
ucranianos, já deixou a lista dos 100 mais ricos do mundo. O Bloomberg
Billionaires Index derrubou-o, do 88º lugar, para o 121º. Em um ano,
perdeu US$ 4,3 bilhões, o que o deixou com US$ 9,6 bilhões.
Agora, são o presidente ucraniano Petro Poroshenko, magnata do
chocolate, e o riquíssimo empresário Igor Kolomoisky que chegam à
disputa final. Difícil avaliar a situação dos negócios de Poroshenko
depois que tomou posse, mas algumas informações sobre Kolomoisky caíram
em domínio público.
DESPENCANDO…
As notícias mais recentes dizem que as ações da empresa de Kolomoisky
despecaram 25% dia 19/2/2015 na Bolsa de Londres. JKX Oil & Gas plc
(JKX) é empresa com sede na Grã-Bretanha, para exploração e produção de
hidrocarbonetos listada na Bolsa de Valores de Londres. Kolomoisky é
co-proprietário de Eclairs Group Ltd. Eclairs Which controla 27,47% das
ações de JKX.
Em maio de 2014, Nigel Moore, diretor executivo da empresa JKX,
escreveu aos acionistas para informar que Eclairs, empresa registrada
nas Ilhas Virgin britânicas, controlada mediante uma rede complexa de
fundos offshore, é, de fato, propriedade de Igor Kolomoisky (59,1%) e de
Gennady Bogolyubov e família (40,9%). No meio do dia, as ações de JKX
caíram repentinamente 34%. Ao final do dia, a queda estava em 25%, na
comparação com os preços da abertura do pregão, pela manhã. A empresa
opera basicamente na Ucrânia (85% da renda). (…) Especialistas acreditam
que alguma empresa russa derrubou as ações da JKX. (…) Ao longo do ano,
a JKX vinha seriamente perdendo posições. A ação caíra 73% (US$ 250
milhões) nos doze últimos meses até o dia 4 de fevereiro.
Kolomoisky investiu na JKX há alguns anos, na esperança de converter
milhões em bilhões em curto período de tempo. A empresa planejava lucrar
na exploração e desenvolvimento de depósitos de gás e petróleo de
xisto. Em 2013, lançou o maior projeto na Europa, de extração de gás e
petróleo de xisto.
Especialistas denunciaram que seria um desastre
ecológico, com ecos que chegariam à Rússia e outros países vizinhos da
Europa. A onda de protestos e caos que daí decorreu obrigou a Ucrânia a
suspender o processo. Em seguida, a queda no preço do petróleo tornou o
projeto economicamente inviável.
ARBITRAGEM
Mais uma história relacionada a Kolomoisky, cidadão israelense, e a
JKX, a empresa que ele controla. A empresa disse, dia 16 de fevereiro,
que iniciara procedimentos de arbitragem contra a Ucrânia, nos termos
dos tratados da Carta de Energia, acordos bilaterais de investimentos
(com a Grã-Bretanha e a Holanda) exigindo uma indenização de US$ 180
milhões, relacionada à produção de petróleo e gás.
A JKX tenta receber a devolução de mais de US$ 180 milhões em
aluguéis que sua subsidiária ucraniana pagara “ilegalmente” para
produzir petróleo e gás na Ucrânia desde 2011. (…). E houve também
outros pagamentos impostos à empresa. Em 2014, o parlamento ucraniano
aumentou temporariamente o royalty para extração de gás, de 28% para 55%
(para profundidades inferiores a 5 km), depois, o parlamento prorrogou a
exigência até 2015. (…)
CONTRA O GOVERNO
O mais engraçado é que Kolomoisky, que recebeu o governo da província
de Dnepropetrovsk em março de 2014 e, portanto, é parte do governo
ucraniano, inicie processos… contra o próprio governo do qual faz parte.
Qual a novidade? Ele está habituado a fazer dinheiro a partir de
“recursos administrativos”. Se conseguir que a corte internacional de
arbitragem acolha o pedido de proteção judicial aos direitos de
Kolomoisky e Bogoliubov (beneficiários ucranianos da empresa),
Kolomoisky, na sequência, mobilizará seus “recursos administrativos”
para conseguir que a Ucrânia pague todas as devidas “compensações”.
Igor Kolomoisky é exemplo luminoso de parasita que mama nas tetas do
Estado. Naftogas é a empresa nacional de petróleo e gás envolvida com
extração, transporte e refino de gás natural e petróleo cru. A Ukrnafta é
a mais conhecida das suas subsidiárias, com 51% das ações sob controle
da Naftogas. Formalmente, Ukrnafta é empresa estatal. Na prática, é
controlada por Kolomoisky.
Dia 10 de fevereiro, a equipe de administração da Ukrnafta controlada
por Kolomoisky protocolou uma reclamação, na corte administrativa de
Kiev, contra o governo da Ucrânia, o Ministério do Desenvolvimento
Econômico e Comércio, e o Ministério de Energia, na qual exige que
quatro representantes da empresa nacional Naftogaz Ukrainy sejam
demitidos do comitê que controla as vendas de petróleo e de gás natural
condensado e liquefeito de origem nacional. Os quatro foram nomeados por
decisão do governo da Ucrânia, dia 16/12/2014.
LEILÕES CLANDESTINOS
Sergey Leshchenko, membro do Parlamento, revelou as razões por trás
de tão estranho comportamento. Segundo ele, ao longo de vários meses
Kolomoisky vendeu patrimônio da Ukrnafta em leilões clandestinos. Os
bens eram comprados pelo preço inicial menos 15%, por empresas
controladas também por Kolomoisky, evidentemente sem qualquer
concorrência. Em cada leilão, o oligarca ganhava e a empresa perdia
entre meio bilhão e um bilhão de hryvnas.
Leshchenko explicou que, agora, Kolomoisky não pode mais obter esses
bons descontos. Foi proibido de realizar um leilão com taxa de 15:1
hryvna/dólar (a taxa real é 23:1). A Ukrnafta, agora, quer sabotar outro
leilão de petróleo vendido a preço de mercado. Na verdade, a Ukrnafta
priva-se, ela mesma, de renda extra. Mas não é tão absurdo quanto
parece, porque, por esse sistema, a companhia estatal abertamente
protege os interesses do “patriota” Kolomoisky.
PERDENDO DINHEIRO
Kolomoisky sofreu grandes perdas em anos recentes, perdeu muito
dinheiro. Perdeu US$ 2 bilhões na Crimeia, além de seus bens na Rússia e
na parte sudeste da Ucrânia. Segundo a revista Forbes, Kolomoisky
valeria hoje US$ 1,3 bilhão (quase a metade dos U$ 2,4 bilhões de dois
anos atrás). Perdeu dinheiro, mais outros oligarcas ucranianos perderam
ainda mais depressa que ele. E ele tem demonstrado muitos talentos e
recursos para compensar as perdas. É homem esperto e impiedoso.
Talvez,
quem sabe, devore algum outro verme gordo, como Poroshenko, por exemplo.
Mas… e depois?
O que restará, afinal, para devorar? A economia e o estado ucraniano
acabarão destruídos. Segundo especialistas, a economia pode encolher de
10 a 20% em 2015. Depois, parasitas diferentes, de calibre ‘global’
saquearão toda a riqueza acumulada por Kolomoisky. Os
expropriadores-saqueadores ucranianos contemporâneos serão por sua vez
também expropriados-saqueados. A Ucrânia e seus oligarcas são bom
exemplo para quem ainda se interesse pelo processo de “seleção natural”
no mundo do capitalismo predatório.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – O artigo enviado por Sergio Caldieri mostra a que ponto chegou a Ucrânia, e a imprensa internacional culpava os russos. Agora, começa a mudar de opinião:
“O regime do golpe na Ucrânia está diante do que parece ser guerra
total entre ladrões, como o oligarca & senhor-da-guerra Igor
Kolomoisky, que foi presenteado com uma província só dele, para
governar, mas levou seu exército privado para Kiev, para disputar a
tiros o controle da empresa estatal de energia, o que complicou
terrivelmente os esforços de propaganda do Departamento de Estado dos
EUA” (mais sobre isso em “Oligarcas ucranianos engalfinham-se entre eles” (ing.), Robert Parry, Consortium News, 24/3/2015).
Tribuna da Internet