domingo, 29 de março de 2015

MAGNATAS PREDADORES ESTÃO INVIABILIZANDO A UCRÂNIA

Valentin Katasonov

Strategic Culture
 
Há cerca de 25 anos, o capitalismo oligárquico começou a crescer em solo ucraniano. É coisa que se baseia na “seleção natural” – os oligarcas devoram pequenas e médias empresas, e o patrimônio do estado. Quando os recursos para acumulação primitiva de capital se esgotam, os oligarcas começam a devorar-se uns aos outros, usando poder de governo, tomada fraudulenta de empresas, judiciário corruptos, sumiço de provas e até assassinatos, sendo necessários. São como vários escorpiões num vaso pequeno.


Depois do golpe de 2014, o tal processo de “seleção natural” capitalista na Ucrânia foi repentinamente acelerado. Alguns dos oligarcas, como Dmitry Firtash, por exemplo, abandonaram a disputa, com outros. Rinat Akhmetov que chegou a ser o mais rico dos oligarcas ucranianos, já deixou a lista dos 100 mais ricos do mundo. O Bloomberg Billionaires Index derrubou-o, do 88º lugar, para o 121º. Em um ano, perdeu US$ 4,3 bilhões, o que o deixou com US$ 9,6 bilhões.


Agora, são o presidente ucraniano Petro Poroshenko, magnata do chocolate, e o riquíssimo empresário Igor Kolomoisky que chegam à disputa final. Difícil avaliar a situação dos negócios de Poroshenko depois que tomou posse, mas algumas informações sobre Kolomoisky caíram em domínio público.


DESPENCANDO…


As notícias mais recentes dizem que as ações da empresa de Kolomoisky despecaram 25% dia 19/2/2015 na Bolsa de Londres. JKX Oil & Gas plc (JKX) é empresa com sede na Grã-Bretanha, para exploração e produção de hidrocarbonetos listada na Bolsa de Valores de Londres. Kolomoisky é co-proprietário de Eclairs Group Ltd. Eclairs Which controla 27,47% das ações de JKX.


Em maio de 2014, Nigel Moore, diretor executivo da empresa JKX, escreveu aos acionistas para informar que Eclairs, empresa registrada nas Ilhas Virgin britânicas, controlada mediante uma rede complexa de fundos offshore, é, de fato, propriedade de Igor Kolomoisky (59,1%) e de Gennady Bogolyubov e família (40,9%). No meio do dia, as ações de JKX caíram repentinamente 34%. Ao final do dia, a queda estava em 25%, na comparação com os preços da abertura do pregão, pela manhã. A empresa opera basicamente na Ucrânia (85% da renda). (…) Especialistas acreditam que alguma empresa russa derrubou as ações da JKX. (…) Ao longo do ano, a JKX vinha seriamente perdendo posições. A ação caíra 73% (US$ 250 milhões) nos doze últimos meses até o dia 4 de fevereiro.


Kolomoisky investiu na JKX há alguns anos, na esperança de converter milhões em bilhões em curto período de tempo. A empresa planejava lucrar na exploração e desenvolvimento de depósitos de gás e petróleo de xisto. Em 2013, lançou o maior projeto na Europa, de extração de gás e petróleo de xisto.

Especialistas denunciaram que seria um desastre ecológico, com ecos que chegariam à Rússia e outros países vizinhos da Europa. A onda de protestos e caos que daí decorreu obrigou a Ucrânia a suspender o processo. Em seguida, a queda no preço do petróleo tornou o projeto economicamente inviável.


ARBITRAGEM


Mais uma história relacionada a Kolomoisky, cidadão israelense, e a JKX, a empresa que ele controla. A empresa disse, dia 16 de fevereiro, que iniciara procedimentos de arbitragem contra a Ucrânia, nos termos dos tratados da Carta de Energia, acordos bilaterais de investimentos (com a Grã-Bretanha e a Holanda) exigindo uma indenização de US$ 180 milhões, relacionada à produção de petróleo e gás.


A JKX tenta receber a devolução de mais de US$ 180 milhões em aluguéis que sua subsidiária ucraniana pagara “ilegalmente” para produzir petróleo e gás na Ucrânia desde 2011. (…). E houve também outros pagamentos impostos à empresa. Em 2014, o parlamento ucraniano aumentou temporariamente o royalty para extração de gás, de 28% para 55% (para profundidades inferiores a 5 km), depois, o parlamento prorrogou a exigência até 2015. (…)


CONTRA O GOVERNO


O mais engraçado é que Kolomoisky, que recebeu o governo da província de Dnepropetrovsk em março de 2014 e, portanto, é parte do governo ucraniano, inicie processos… contra o próprio governo do qual faz parte. Qual a novidade? Ele está habituado a fazer dinheiro a partir de “recursos administrativos”. Se conseguir que a corte internacional de arbitragem acolha o pedido de proteção judicial aos direitos de Kolomoisky e Bogoliubov (beneficiários ucranianos da empresa), Kolomoisky, na sequência, mobilizará seus “recursos administrativos” para conseguir que a Ucrânia pague todas as devidas “compensações”.


Igor Kolomoisky é exemplo luminoso de parasita que mama nas tetas do Estado. Naftogas é a empresa nacional de petróleo e gás envolvida com extração, transporte e refino de gás natural e petróleo cru. A Ukrnafta é a mais conhecida das suas subsidiárias, com 51% das ações sob controle da Naftogas. Formalmente, Ukrnafta é empresa estatal. Na prática, é controlada por Kolomoisky.


Dia 10 de fevereiro, a equipe de administração da Ukrnafta controlada por Kolomoisky protocolou uma reclamação, na corte administrativa de Kiev, contra o governo da Ucrânia, o Ministério do Desenvolvimento Econômico e Comércio, e o Ministério de Energia, na qual exige que quatro representantes da empresa nacional Naftogaz Ukrainy sejam demitidos do comitê que controla as vendas de petróleo e de gás natural condensado e liquefeito de origem nacional. Os quatro foram nomeados por decisão do governo da Ucrânia, dia 16/12/2014.


LEILÕES CLANDESTINOS


Sergey Leshchenko, membro do Parlamento, revelou as razões por trás de tão estranho comportamento. Segundo ele, ao longo de vários meses Kolomoisky vendeu patrimônio da Ukrnafta em leilões clandestinos. Os bens eram comprados pelo preço inicial menos 15%, por empresas controladas também por Kolomoisky, evidentemente sem qualquer concorrência. Em cada leilão, o oligarca ganhava e a empresa perdia entre meio bilhão e um bilhão de hryvnas.


Leshchenko explicou que, agora, Kolomoisky não pode mais obter esses bons descontos. Foi proibido de realizar um leilão com taxa de 15:1 hryvna/dólar (a taxa real é 23:1). A Ukrnafta, agora, quer sabotar outro leilão de petróleo vendido a preço de mercado. Na verdade, a Ukrnafta priva-se, ela mesma, de renda extra. Mas não é tão absurdo quanto parece, porque, por esse sistema, a companhia estatal abertamente protege os interesses do “patriota” Kolomoisky.


PERDENDO DINHEIRO


Kolomoisky sofreu grandes perdas em anos recentes, perdeu muito dinheiro. Perdeu US$ 2 bilhões na Crimeia, além de seus bens na Rússia e na parte sudeste da Ucrânia. Segundo a revista Forbes, Kolomoisky valeria hoje US$ 1,3 bilhão (quase a metade dos U$ 2,4 bilhões de dois anos atrás). Perdeu dinheiro, mais outros oligarcas ucranianos perderam ainda mais depressa que ele. E ele tem demonstrado muitos talentos e recursos para compensar as perdas. É homem esperto e impiedoso. 

Talvez, quem sabe, devore algum outro verme gordo, como Poroshenko, por exemplo. Mas… e depois?


O que restará, afinal, para devorar? A economia e o estado ucraniano acabarão destruídos. Segundo especialistas, a economia pode encolher de 10 a 20% em 2015. Depois, parasitas diferentes, de calibre ‘global’ saquearão toda a riqueza acumulada por Kolomoisky. Os expropriadores-saqueadores ucranianos contemporâneos serão por sua vez também expropriados-saqueados. A Ucrânia e seus oligarcas são bom exemplo para quem ainda se interesse pelo processo de “seleção natural” no mundo do capitalismo predatório.


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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – O artigo enviado por Sergio Caldieri mostra a que ponto chegou a Ucrânia, e a imprensa internacional culpava os russos. Agora, começa a mudar de opinião:

“O regime do golpe na Ucrânia está diante do que parece ser guerra total entre ladrões, como o oligarca & senhor-da-guerra Igor Kolomoisky, que foi presenteado com uma província só dele, para governar, mas levou seu exército privado para Kiev, para disputar a tiros o controle da empresa estatal de energia, o que complicou terrivelmente os esforços de propaganda do Departamento de Estado dos EUA” (mais sobre isso em “Oligarcas ucranianos engalfinham-se entre eles” (ing.), Robert Parry, Consortium News, 24/3/2015).

Tribuna da Internet