Vitor Sorano
iG São Paulo
Em 22 de junho de 2013, quando 30 mil foram às ruas de São Paulo
contra a proposta de limitar a capacidade de investigação do Ministério
Público, uma grande faixa defendia a extinção de todos os partidos
políticos para combater a corrupção. No protesto de 15 de março deste
ano, as mensagens foram mais claras: cartazes da “Intervenção Militar
Já” e “SOS Forças Armadas” eram exibidos por vários manifestantes. Neste
sábado (28), um grupo reeditou a Marcha da Família, antessala da
ditadura iniciada em 1964, com um objetivo: instalar um regime de
exceção controlado pela caserna.
A mudança de tom reflete uma mudança na postura de parte dos
brasileiros ante uma solução não-democrática para a criminalidade de
colarinho branco no Poder Público. Entre 2012 e 2014, a fatia da
população que acha justificável um golpe militar quando há corrupção
cresceu de 36% para 48%. Ou seja, de pouco mais de um terço, passou a
pouco menos da metade. O valor é o maior pelo menos desde 2007 e vai no
sentido contrário da queda percebida entre 2008 e 2012, de 39,8% para
36,3%.
Os dados são da Pesquisa de Opinião Pública Latino-Americana (Lapop,
na sigla em inglês), coordenada pela Universidade de Vanderbilt, dos
Estados Unidos, e feita em parceria com universidades de todo o
continente. Na edição de 2012, os dados no Brasil foram levantados pela
UnB com apoio da Capes. Em 2014, o instituto Vox Populi foi o
responsável pelo levantamento.
PREOCUPANTE
O salto é considerado “preocupante” por Guilherme Russo, pesquisador
do Lapop e autor de um texto sobre o assunto publicado na segunda-feira
(23), e afasta o País da maioria dos seus vizinhos mais próximos – exceto
pelo Paraguai.
Os 48% (47,6%, mais precisamente), colocam o Brasil em sexto lugar
entre os países americanos que mais apoiam uma intervenção militar
contra a corrupção, próximo da Guiana, 5ª colocada, e distante do Chile,
que ocupa a última posição. A lista é encabeçada pelo Paraguai.
“Esse nível de aceitação [a um golpe militar] contrasta fortemente
com o de outros países do Cone Sul com histórias de regime militar
recente (Argentina, Chile e Uruguai estão entre os quatro últimos da
tabela)”, escreveu Russo.
FRUTO DOS ESCÂNDALOS
Gerente do Lapop e doutor em ciência política, Jorge Daniel Montalvo
avalia que o movimento pode ser decorrente dos escândalos de corrupção e
da erosão da popularidade da presidente Dilma Rousseff (PT).
“Há um desencanto com a política em geral. Isso possivelmente é uma
hipótese que leva a esse aumento no percentual de pessoas que apoiam um
golpe militar”, diz Montalvo, ao iG.
Tribuna da Internet