João Gualberto Jr.
O Tempo
A canetadas, Dilma pode estar cavando a cova do próprio partido. E o
pior: para sepultar, inclusive, o legado pelo qual o PT reivindica ser
responsável.
Desde que chegou lá, em 2003, Lula deixou claro qual
parcela da população deveria ser o alvo prioritário das políticas de
Estado: os mais pobres.
Por meio do estímulo de políticas desenvolvimentistas, o desemprego
caiu, a miséria quase se extinguiu, ampliou-se o consumo por uma classe
média inflada, e o acesso à educação demonstrou-se a caminho da
universalidade.
Foi esse estado de premente transformação que garantiu
três reeleições do PT, apesar dos vários escândalos no caminho e do
empenho diuturno de nossa fatia aristocrata (de fato ou pseudo) e
exclusivista em tentar, em vão, obscurecer a face real da mudança social
em curso.
Pois o ciclo petista no Planalto atinge um estágio especial
imediatamente após a reeleição de Dilma.
O desemprego cresce, bate em
nossas portas, e os índices de inflação resistem, vão superar o teto da
meta apesar das elevações da taxa Selic mês a mês – o que confirma a
tese de que há formas mais eficazes de se praticar política monetária
contracionista em cenários de estagnação ou recessão.
SEM CONSUMO
Fato é que a baliza mestra do lulismo, a inclusão pelo consumo,
trincou-se. O povo anda com dinheiro curto, com crédito mais caro na
praça, e quem tem emprego percebe que é o momento de lutar para
mantê-lo. O governo petista está perdendo, portanto, o público cativo
que provou e aprovou seu “modus”. Perdendo essa massa, que armas
restarão para Lula, Dilma e o PT contra uma crise de sete cabeças?
Qual o próximo capítulo?
A retração nas políticas sociais.
Dilma e os
ministros garantem que não, que o ajuste fiscal é implementado
justamente para garantir o orçamento das ações de transferência de
renda. Mas alguém ainda acredita no que ela diz?
A presidente cantou o valor de R$ 70 bilhões para contingenciamento
nos ministérios, sendo esse outro nome para arrocho.
O Minha Casa, Minha
Vida, por exemplo, é exemplo de iniciativa que não sairá ilesa do
facão. Trata-se de um programa com força para fazer girar um segmento
poderoso e multiplicador da economia, que gera uma cadeia de empregos
formais, especialmente para trabalhadores menos capacitados.
A próxima
sequela recairá sobre o Bolsa Família? Quem garante que não?
SOBRAM BANANAS
Dilma, Levy, Barbosa, Mercadante e cia. perpetuam a velha sina dos
países em desenvolvimento, ou subdesenvolvidos: quando seu povo mais
precisa do Estado é quando o Estado mais se nega a atendê-lo.
Duro é
saber que, ainda hoje, há muito mérito próprio retratado nos desmandos
que acorrentam nosso país a seu fado histórico.
Dependente desde sempre de vender suas bananas ao mundo, o Brasil
entra em recessão quando sobram bananas, ou porque a safra foi
inesperadamente boa, ou porque se enjoou delas no hemisfério Norte.
O
resultado é que as políticas sociais, financiadas pela venda de nossas
bananas, não se expandem ou retraem em contrafluxo ao andamento desse
comércio internacional, como deveriam.
Tribuna da Internet