Fabiano Maisonnave, Bernardo Itri, Marcel Rizzo e Rafael Reis
Folha
As investigações do Departamento de Justiça dos EUA sobre a corrupção
no futebol indicam que José Maria Marin, ex-presidente da CBF, dividiu
propinas recebidas pela exploração comercial da Copa do Brasil (torneio
disputado desde 1989 e disputado pelos principais clubes do país) com
Ricardo Teixeira (também ex) e Marco Polo Del Nero (atual presidente da
CBF).
Em reunião no ano passado com o presidente da Traffic, J. Hawilla,
Marin, então presidente da CBF, sugeriu que a propina que vinha sendo
compartilhada com o antecessor, Ricardo Teixeira, deveria ser paga
apenas a ele e a Del Nero, segundo a investigação norte-americana.
A conversa teria ocorrido em abril do ano passado, durante viagem de
Marin a Miami (EUA). O assunto era o pagamento de propinas para ele e
para o “coconspirador 12″ (menção a um integrante do esquema), referente
à Copa do Brasil, cujos direitos comerciais eram cedidos à Traffic.
Esse esquema existiria desde 1990.
TEIXEIRA DE FORA
“Em determinado momento, quando o coconspirador 2 [Hawilla] perguntou
se era realmente necessário continuar pagando propinas para seu
antecessor na presidência da CBF, Marin disse: ‘Está na hora de vir na
nossa direção. Verdade ou não?’.
O coconspirador 2 concordou dizendo: “Claro, claro, claro. Esse
dinheiro tinha de ser dado a você [ou vocês]’. Marin concordou: “É
isso”.
Antes desta reunião, porém, a investigação dos EUA aponta que Hawilla
concordou em dividir a propina entre Marin e os coconspiradores 11 e
12.
Segundo a Justiça americana, neste processo, tanto o coconspirador 11
quanto o 12 são descritos como altos executivos da CBF, da Conmebol e
da Fifa. Só Teixeira e Del Nero se encaixam no perfil.
“COCONSPIRADOR”
O termo “coconspirador” é usado nos textos do Departamento de Estado
para pessoas não acusadas formalmente ou para preservar a origem de
informações.
Procurada pela Folha, a CBF informou que tinha conhecimento do teor da acusação, mas que não se pronunciaria sobre o assunto.
No início do esquema, em 1990, a propina era paga a Teixeira, que
aparece na acusação como “coconspirador 11″. A partir de 2012, Marin e
Del Nero assumem respectivamente a presidência e a vice-presidência da
CBF e passam a exigir parte da propina, sempre de acordo com a
investigação dos EUA.
A peça acusatória afirma que, desde 2012, o valor da propina seria de
R$ 2 milhões por ano até 2022, dividida entre os três cartolas. O custo
do suborno seria arcado em partes iguais pela Traffic e a Klefer, do
ex-presidente do Flamengo Kleber Leite, empresa que passou a
compartilhar os direitos da Copa do Brasil.
TRANSFERÊNCIAS
O Departamento de Justiça não informou o valor pago entre 1990 e
2012, mas identificou duas transferências bancárias feitas a partir dos
Estados Unidos em 2013.
A primeira, de US$ 500 mil, foi feita pela Klefer (identificada como
companhia de marketing esportivo B) para a conta em Londres de um
fabricante de iates de luxo.
A segunda transferência (US$ 450 mil), feita alguns dias depois, saiu
de conta da Traffic em Miami para conta da Klefer em Nova York.
Na
tarde desta quarta (27), a PF realizou operação na sede da Klefer, no
Rio. Procurada por telefone, funcionária da Klefer disse que empresa não
comentaria o episódio.
Tribuna da Internet