segunda-feira, 22 de junho de 2015

A MIOPIA DA POLÍTICA ECONÔMICA DE PRIORIDADES CONFLITANTES

LUIS NASSIF ONLINE

A economia não comporta exageros. Não é uma máquina controlável a golpes de Selics.
É uma engrenagem complexa, composta por inúmeras cadeias produtivas interconectadas, por um conjunto de fatores interligados, como estoques, uso de capacidade instalada. A recuperação das expectativas depende fundamentalmente das perspectivas de crescimento da economia. Estabilidade fiscal, monetária, são instrumentos, mas o objetivo final é o crescimento.
Essa máquina sensível, complexa, interligada, não comporta medidas de choque, a não ser em situações extremas – como nos períodos super-inflacionários. Choques ampliam desequilíbrios, atrapalham a visibilidade futura, pela dificuldade dos agentes econômicos entenderem a nova dinâmica da economia.

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A melhora das expectativas e a volta do investimento/crescimento dependem da aposta na demanda futura. Consegue-se interromper a demanda apertando o botão dos juros e dos cortes fiscais. Não existe um botão do crescimento, em sentido contrário.

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Houve exageros na dosagem dos incentivos fiscais da era Mantega. Agora corre-se o risco inverso, do excesso de dosagem na combinação política fiscal-monetária.
Não existe nada de mais falso do que a ideia de que o melhor ajuste fiscal é o mais rigoroso e a melhor política monetária é a mais radical.

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Em outros tempos, que se pensava superados, empresas e governos agiam sob o domínio da prioridade única, da bala de prata que, resolvendo um problema único, resolvesse todos os problemas.
Esse modelo quebrou empresas e a economia, mas a política econômica recuou para o simplismo dos anos 80 e 90.

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A demanda vai despencar, muito mais do que a presidente Dilma Rousseff imagina – três semanas atrás ela imaginava que o pior já tinha passado.
Despencando, o desemprego irá aumentar muito, especialmente se continuar sendo uma variável desconsiderada pelo BC – que aparentemente só sabe trabalhar com o binômio juros-inflação.
Com o aumento do desemprego e redução da demanda, o mercado de consumo cai e cria-se uma capacidade ociosa na indústria. Ao mesmo tempo a relação dívida/PIB explode por dois motivos: aumento da dívida, com os juros; redução do PIB com a recessão, exigindo metas mais drásticas ainda de superávit primário.

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Fazenda e BC estão recorrendo à retórica do caos para aprovar as medidas, expediente que funcionava bem nos velhos tempos da hiperinflação. Tipo: se não derem o que peço, o Brasil acaba; se me derem, em breve o país será recompensado.
Vão receber o que querem e não vão entregar o que prometem. Caos ocorrerá se o desemprego explodir em um quadro politicamente instável como o atual.
Em um ponto qualquer do futuro, virão os investimentos, mas exclusivamente onde houver demanda: algumas concessões públicas, nas quais o preço será menor devido à redução das expectativas de negócio decorrentes da queda da atividade econômica.
É muito pouco para compensar o estrago que a recessão terá causado nos demais setores da economia.

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Se nesse período todo o governo Dilma não conseguir desenhar o segundo tempo do jogo, criar um sonho que seja, um pote d’água lá na frente para compensar a travessia do deserto, nem a mediocridade ampla da oposição salvará seu governo.

Jornal GGN