Pedro do Coutto
Ao longo de um encontro em Brasília com dezesseis consultores
econômicos de bancos e de setores de produção, reportagem de Geralda
Doca e Aliane Oliveira, O Globo, edição de sexta-feira, o ministro
Joaquim Levy deparou-se com questionamentos a respeito da duração e o
caráter da crise que atinge o país. Sob o ângulo político, o efeito de
discordância projeta-se sensivelmente na área do governo, envolvendo-o
numa sombra de dúvida.
O titular da Fazenda ouviu igualmente opiniões de que os objetivos
que traçou para tentar superar as dificuldades são inalcançáveis.
O tom
de reunião, assim, transformou-se surpreendentemente em manifestação de
pessimismo, com o qual certamente Joaquim Levy não contava.
As maiores
contestações partiram de Cláudio Adilson Gonçalves, da MCM Associados,
Carlos Tadeu de Freitas, da Confederação Nacional do Comércio, e Flávio
Castelo Branco, da Confederação Nacional da Indústria.
O ajuste fiscal
pretendido é inalcançável na opinião de Gonçalves. Houve uma
convergência de opiniões nesse sentido.
Reforçada, aliás, diante do déficit de 8 bilhões de reais entre
receita e despesa registrado no mês de maio, preocupação que se estendeu
ao Secretário do Tesouro Nacional, Marcelo Saintive, ao afirmar – neste
ponto a matéria está assinada por Marta Beck e Gabriela Valente – que o
governo estuda novas medidas e ainda pode contar com receitas
extraordinárias para perseguir o esforço fiscal.
Não revelou quais são
essas receitas, mas frisou que, evidentemente, o quadro é difícil, porém
acreditamos não ser este o momento ideal para a revisão da meta.
SÓ NO PAPEL…
A teoria projetada pelo ministro da Fazenda parece funcionar apenas
no papel e nos computadores da esplanada de Brasília – panorama este,
aliás, tipicamente brasileiro.
Enseja, a meu ver, a ideia de criar-se um
museu das ideias perdidas.
Inclusive, Marcelo Saintive destacou existir um grau muito grande de
incerteza na economia e – prosseguiu – precisamos olhar passo a passo
como vai ser a performance da receita.
Tudo isso é necessário para fazer
uma avaliação correta.
Como se observa, a perspectiva do secretário do
Tesouro não se ajusta plenamente à revelada por Joaquim Levy, para quem
os riscos de novos gastos afeta muito a confiança dos investidores.
Como se vê, o ministro da Fazenda adotou um rumo genérico nas suas
declarações.
Escapou, ou pelo menos tentou escapar de afirmações mais
concretas.
Afinal de contas, ele concorda ou discorda de Marcelo
Saintive?
Está ou não preocupado com o desempenho da arrecadação no
final de contas?
COISAS BACANAS
Sobre o conteúdo do encontro com os consultores, Joaquim Levy
classificou de ótimo.
Ouvi coisas bacanas – enfatizou.
Porém, a
preocupação geral e dominante que as repórteres identificaram foi quando
a economia brasileira voltará a crescer?
Já que o decréscimo está
configurado na retração do mercado de trabalho, numa terceira
reportagem, também de O Globo, esta de Luciane e Fábio Teixeira.
Eles,
com base em dados do IBGE, assinalam que em maio o desemprego subiu para
6,7% e a renda proporcionada pelo trabalho cai 5 pontos.
Tais fatores, claro, influem diretamente no consumo e portanto na
produção, além de acrescentarem mais pontos negativos na popularidade e
aprovação do governo Dilma Rousseff.
A impressão que os episódios
ocorridos nos últimos dias deixam é a de que o Poder Executivo não está
executando porque lhe está faltando tanto um rumo concretamente definido
quanto a implantação de mais realismo e menos fantasia teórica.
Tribuna da Internet