quinta-feira, 18 de junho de 2015

CONVERSA COM O ALMIRANTE BIERRENBACH

Bernardo Mello Franco

Folha

O almirante Julio de Sá Bierrenbach, que morreu na quinta-feira aos 96 anos, não gostava da esquerda e de esquerdistas. 

Em 1962, devolveu a Ordem do Mérito Naval em protesto contra a entrega da condecoração a Leonel Brizola. 

Em 2014, continuava a chamar de “revolução” o golpe que derrubou o presidente João Goulart.

As convicções não o impediram de contribuir para o fim do arbítrio da ditadura. 

Como ministro do Superior Tribunal Militar, ele denunciou a tortura e ajudou a desmontar a farsa que encobria os responsáveis pelo atentado do Riocentro.

Bierrenbach chegou ao STM em 1977. Na posse, disse que os presos deveriam ser intocáveis e que os interrogatórios precisavam de inteligência, não de violência. Três meses depois, defendeu a absolvição de um réu que havia sido torturado para confessar um assalto a banco.

CONTRA A TORTURA

“Já é tempo de acabarmos, de uma vez por todas, com os métodos adotados por certos setores policiais de fabricarem indiciados, extraindo-lhes depoimentos perversamente, pelos meios mais torpes, fazendo com que eles declarem delitos que nunca cometeram”, disse.

Em 1981, voltou a desafiar o regime ao contestar o arquivamento do caso Riocentro. 

Apontou “inúmeras falhas e omissões” no inquérito, que transformava em vítimas os militares que fizeram o atentado. 

“Não estamos aqui para fazer um julgamento de conveniência”, afirmou.

O almirante perdeu a votação, mas preservou a dignidade.

 No fim da vida, prestaria depoimento à Comissão da Verdade, ajudando a remover a farsa da história oficial.

Fui visitá-lo no ano passado, em Copacabana.

 Ele disse que os militares deveriam ter devolvido o poder aos civis em 1965, como prometiam, e não duas décadas depois. 

“Sempre fui contra o continuísmo dos generais”, afirmou.

 “Hoje fico satisfeito porque quem elege é o povo. Não é um regime ditatorial, sob o pensamento de uma só pessoa”.

Tribuna da Internet