Eduardo Guimarães
O biênio 2013 – 2015 ficará
registrado na história como um período em que uma das maiores nações do
mundo cometeu um literal suicídio.
Com requintes de crueldade, tomada
por um surto autodestrutivo que talvez jamais seja explicado.
Há míseros dois anos, o Brasil
despontava como potência emergente – finalmente o país do futuro estava
se tornando o país do presente.
A economia crescia pouco, mas
crescia continuamente; a inflação estava alta por conta da forte
demanda, mas estava controlada; a taxa de investimento privado vinha
subindo; o desemprego caía mês a mês.
Enquanto o resto do mundo se
contorcia em uma crise internacional interminável, então no quinto ano,
com europeus e americanos à beira da convulsão social, o Brasil parecia
uma ilha de prosperidade e estabilidade.
A nova classe média vivia um sonho
dourado.
Famílias viam seus filhos e netos se tornarem os primeiros
universitários da linhagem, o sonho da casa própria se materializava, os
salários tinham cada vez mais poder de compra.
Eis que surge, na maior metrópole do
país, um movimento inexplicável.
Com a renda em ascensão e o desemprego
despencando, partidos de esquerda, professores universitários e
estudantes desencadeiam uma guerra contra aumentos de passagens no
transporte público.
As passagens de ônibus e metrô iriam
subir 20 centavos.
Em um momento de valorização dos salários e queda do
desemprego, não era para tanto.
Mas esses grupos radicalizados tinham
uma proposta tentadora – para os incautos: em vez de aumentar o preço do
transporte público, a endividada capital paulista deveria fornecer
transporte de graça para todos.
Décadas de problemas no transporte público foram jogadas no colo do recém-empossado prefeito paulistano, Fernando Haddad.
Um prefeito que mal tomara pé da
situação escabrosa da administração herdada de José Serra e Gilberto
Kassab, obviamente que não tinha meios de atender à demanda
surpreendente de, do nada, oferecer transporte público de graça para
todos ou ao menos transferir para os cofres públicos, já combalidos, o
custo dos reajustes contratuais com as empresas de ônibus.
Os grupos de ultraesquerda, porém,
tinham um plano para pôr de joelhos o novo prefeito.
Importaram uma
tática de protestos conhecida como “bloco negro”, que se valia da
destruição do patrimônio público e privado, com uso até de bombas
incendiárias para parar a cidade, impedindo o trânsito nas principais
vias e desesperando a população que tem que ir trabalhar e retornar para
casa todos os dias.
A influência de “pensadores” de
ultraesquerda sobre as mídias, sobretudo as mídias alternativas,
romanceou aquele processo.
Sem alguma razão lógica em um país que vinha
se desenvolvendo a passos largos e distribuindo renda, aquele processo
foi visto como positivo.
Eis que o governo paulista,
controlado pela direita fundamentalista religiosa, opta pela violência
como forma de conter os abusos contra o povo paulistano em vez de buscar
diálogo.
Da violência policial, brota, então, um fortalecimento do
movimento radical.
Incrivelmente, os grupos
radicalizados ditos “de esquerda” se voltam contra o prefeito em vez de
culparem o governador, e o partido de Fernando Haddad vira a Geni das
manifestações.
Às dezenas de milhares, entre bandeiras de partidos como
PSOL, PSTU, da Rede de Marina Silva e outros, os brados de “fora, PT!”
ecoam pelos quatro cantos do país.
Agora, após a violência da ditadura
tucana em São Paulo, as ruas de todo país são tomadas por centenas de
milhares de congêneres dos bichos-grilos paulistas, aos brados de “Fora,
PT!”. Com o Brasil vendo aquelas marés humanas bradando contra o
partido que o governa, Dilma Rousseff torna-se depositária de uma
revolta por vinte centavos.
Nesse momento, a extrema direita vê oportunidade que não encontrava havia mais de uma década. E sai à rua.
Todo lixo social do pais invade as
ruas, agora transformadas em uma gigantesca rave em que cabiam de
radicais de esquerda a neonazistas.
A mídia corporativa vê a
oportunidade que tanto ansiava e minimiza a insensatez que aumenta. E
até a incentiva.
Eis que, em meados de junho de 2013,
os autores esquerdistas daqueles protestos se dão conta de que
pavimentaram as ruas para a ultradireita e se recolhem, após dobrarem os
governos do Estado de São Paulo e da capital na questão dos aumentos
das passagens.
Chega 2014 e a ultra-esquerda tem
outra ideia de jerico. Decide que a Copa do mundo era a culpada por
todos os males nacionais e volta às ruas quebrando e incendiando,
tentando impedir a realização do evento.
O país perde a oportunidade de
obter lucros altíssimos, pois o fluxo de turistas acaba sendo muito
menor do que poderia.
Nas redes sociais, grupos
organizados de extrema-direita e extrema-esquerda tratam de compor
vídeos e memes em inglês para assustar os turistas estrangeiros,
chegando a dizer que se viessem ao país correriam risco de vida devido à
radicalização dos protestos contra a Copa.
Chega a eleição presidencial e Dilma
Rousseff parece ter poucas chances de se reeleger.
A economia já se
combalia diante dos ataques pela esquerda e pela direita, que assustaram
investidores e ensejaram uma progressiva paralisação da economia.
Enquanto isso, os dois candidatos de
oposição mais competitivos ameaçam o país com reformas ultraliberais
como privatização de bancos públicos, desvalorização do salário mínimo,
independência do Banco Central.
A esquerda radical percebe que não
poderia implantar o socialismo e, pior, que estava para ver surgir um
regime ultraliberal que resultaria em graves retrocessos, sobretudo no
que diz respeito ao processo de distribuição de renda que fizera o
índice de Gini brasileiro melhorar como jamais ocorrera por aqui desde
que fora criado para medir a concentração de renda das nações.
Por pouco, muito pouco, Dilma se
reelege.
Porém, o custo de quase dois anos de sabotagens da economia,
com redução drástica de investimentos devido à insegurança gerada pela
política, impõe que as políticas anticíclicas sejam abandonadas.
Não dá mais para renunciar a
impostos para manter o ritmo da economia, do crescimento, dos salários e
da queda do desemprego.
Há que fazer um ajuste fiscal.
Muito mais
brando do que seria feito pelos principais candidatos a presidente
derrotados por Dilma, mas, ainda assim, um ajuste duro, pois implicaria
em um freio de arrumação na economia.
Sem novas sabotagens, porém, em
alguns meses estaria tudo resolvido.
A economia daria uma parada, mas,
no segundo semestre – agora com os investidores mais confiantes devido
ao equilíbrio entre receita e despesa –, o país recomeçaria a crescer, o
emprego voltaria a subir, os salários a se valorizar e a desigualdade a
cair.
Eis que a extrema-direita se recusa a
aceitar o processo de soerguimento do país.
Unindo-se à centro-direita
tucano-midiática e a grupos radicais conservadores incrustados na
Polícia Federal e no Ministério Público, desencadeia uma ofensiva
“contra a corrupção” que paralisaria a economia ao emitir sentenças
condenatórias contra grandes empresas antes do devido processo legal.
Já não é mais polêmico dizer que a
política está destruindo a economia.
Todos já reconhecem que a política
está afundando o país.
Os grupos de ultradireita fazem a
festa.
Pouco lhes importa o futuro.
Só a destruição da esquerda –
inclusive daquela que tanto os ajudou – interessa.
Saem à rua, agora sem
pudor, e pedem nada mais, nada menos do que um golpe militar.
A
esquerda a tudo assiste impassível, em seu “mimimi” contra medidas
econômicas sem as quais o país afundaria muito mais.
Esse é o resumo da ópera.
A direita
radical ataca por um lado, a esquerda radical ataca por outro e o país
mergulha em um buraco político, econômico e institucional cujo fundo
ainda não é possível vislumbrar.
Em breve, os próximos capítulos do suicídio do Brasil.
Brasil 24/7