quinta-feira, 11 de junho de 2015

LULA SE MOVIMENTA PARA PERMANECER COMO DONO DO PT

Marco Aurélio Nogueira

Estadão

Lula agora se movimenta para frear os ataques do PT a Joaquim Levy. 

Quer que o foco do partido, a ser definido no congresso que começará no próximo dia 11, seja uma “agenda de desenvolvimento”, algo que “crie esperança”. 

É um jogo de palavras, mas também uma manobra tática e um retrato das oscilações do ex-presidente. 

Depois de ter cacifado o nome de Levy para a Fazenda, passou parte do tempo fuzilando o ajuste fiscal para, agora, em nova reviravolta, arrefecer a crítica à política econômica.

Lula não quer ficar mal na fita, carregar a fama de ser responsável pela (re)eleição de Dilma e muito menos aparecer como incentivador da passagem do PT para a oposição ao governo.

 Talvez pense em desgastar o governo, cozinhá-lo em fogo brando, faturando caso decole, mas não se comprometendo demais caso fracasse.

 Em suma, bater sim em Levy e na política de ajuste, mas não criar atrito excessivo com Dilma. E precisa que o PT o acompanhe nesta operação.

Internamente, Lula busca reforçar sua segunda pele: a imagem de quem sempre está bem com todos e a todos comanda. 

Sua liderança no PT passa por aí. Flutua sobre grupos e correntes, dialogando com a esquerda e a direita, sem agradar inteiramente a ninguém, mas sempre amortecendo toda crítica a seu protagonismo centralizador.

UM CONDOMÍNIO…

Fora do partido, ou seja, entre os diversos grupos e interesses sociais, ocorre o mesmo: foi assim em seus oito anos como presidente, durante os quais converteu a máquina governamental em um imponente “condomínio”, para empregar expressão sempre destacada pelo cientista político Luiz Werneck Vianna.

Hoje ficou tudo mais difícil. 

A manobra é delicada e perigosa. 

Há petistas desconfiados dela, que revela um Lula dúplice, moldado segundo circunstâncias, oportunidades e planos pessoais. 

Personagem que, em política, é mais problema que solução.

O ex-presidente precisa de um PT minimamente unido.

 Sabe que a solidariedade partidária será importante caso cresçam contra ele as acusações de envolvimento nas negociatas da Petrobrás, ou caso o mensalão volte a ser esmiuçado. 

O fracasso do governo Dilma inevitavelmente cairá em sua conta e nada será melhor do que emergir como aquele que conseguiu dar o devido suporte à conduta governamental. 

 De tabela, torce e age para que o partido não abrace a causa da autocrítica e da renovação.

GORDURA PARA QUEIMAR

O PT não está acabando, à beira do precipício.

 Tem muita gordura para queimar e uma importante folha de serviços à democracia brasileira, que o legitima e sustenta. 

Mas os antagonismos internos cresceram, há mais tensões no ar, o próprio partido alterou sua configuração e vive hoje uma nova situação.

 Sente que precisa sacudir seus andrajos e recuperar a alma originária. 

Tudo ficou muito mais complexo. 

Nem sequer a anunciada filiação de mais 200 mil cidadãos ao PT deixa o panorama mais claro, ou menos turbulento.

Lula quer o céu e a terra.

 Continua com o instinto político de sobrevivência ativado. No entanto, ele não é todo o PT. 

Terá de gastar muita saliva para dobrar as correntes partidárias e permanecer dando as cartas na “sociedade civil” petista. 

Como todo organismo que vive e respira, o PT terá de processar seus conflitos e reconstruir sua vontade, sua identidade.

Tribuna da Internet