Pedro do Coutto
O primeiro capítulo da delação premiada do empresário Ricardo Pessoa,
focalizado em monumental reportagem de Robson Bonin, decretou
praticamente a demissão do ministro Edinho Silva e detonou publicamente o
esquema de corrupção montado pelo PT.
A reportagem encontra-se numa
sequência de páginas da Revista Veja que circulou sábado e está nas
bancas.
Quando me referi ao primeiro capítulo foi por considerar que a
delação premiada vai prosseguir e será dividida em várias etapas.
Porque
ninguém detentor de tantos segredos, como Ricardo Pessoa, vai divulgar o
que sabe de uma só vez.
A importância da matéria publicada é tão grande que a revista Veja a
colocou em seu site na Internet, sexta-feira, possibilitando assim que O
Globo, a Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo também a
publicassem no sábado.
Uma bomba, como se diz no jornalismo, tão forte
que levou a presidente Dilma a retardar seu voo para os EUA, a fim de
buscar esclarecimentos por parte de alguns acusados de receber sombrias
doações por parte do Clube das Empreiteiras, presidido pelo dono da UTC
Engenharia.
Ficou péssima a imagem de Edinho Silva, porque ao procurar Ricardo
Pessoa, segundo este dirigiu ameaça frontal ao empresário, condicionando
a continuidade dos seus contratos com a Petrobrás a recursos
financeiros destinados ao universo da legenda partidária, mas cujo
destino real não parece ter sido somente este.
LEGAIS E ILEGAIS
Há doações e doações.
É preciso separar as legais daquelas ilegais.
E
estas aconteceram, tanto assim que os que as receberam procuraram
ocultar as provas dos fatos, mas esqueceram-se das imagens gravadas
pelos aparelhos instalados nas salas e provavelmente também em
restaurantes onde encontros aconteceram.
Caso, por exemplo, de João Vaccari Neto, que picotava as importâncias
exigidas escritas em pedaços de papel para evitar gravações sonoras.
Rabiscava os papéis e os picotava, jogando-os em latas de lixo diversas.
Não adiantou o esforço de blindagem, as câmeras da UTC captaram e
arquivaram suas imagens que conduzem seu autor ao campo da ilegalidade
praticada e de sua confissão explícita.
As explicações fornecidas por Edinho Silva, Aloizio Mercadante e José
Eduardo Cardoso (reportagem de Cristiane Jungblat, O Globo de domingo)
não convencem a pessoa alguma no que diz respeito a sua inocência.
Principalmente a versão de Edinho Silva, que não nega o fato, preferindo
enveredar pelo caminho do que ele chamou de vazamento seletivo voltado
para a luta política.
LUTA POLÍTICA
Qual luta política?
Em primeiro lugar, não se trata desse tipo de
embate, mas sim de um processo de sórdida corrupção, praticada a base da
vantagem direta feita sob a capa de ameaça explícita.
O caso de Edinho
Silva é muito mais grave que o de Aloizio Mercadante, pois este foi
apontado como tendo recebido do Clube das Empreiteiras uma doação de 500
mil reais.
Mas o caso de Edinho Silva é muitas vezes mais amplo do que
este.
E o que dizer de João Vaccari Neto aplaudido de pé no encontro do PT
em Salvador?
O ex-senador Gim Argelo, num torpe episódio é acusado por
Pessoa de ter recebido 5 milhões de reais para sepultar a primeira CPI
da Petrobrás no Congresso Nacional.
Além disso, Ricardo Pessoa aponta
José Dirceu como personagem de falsa consultoria, fórmula usada para
encobrir propinas por sua influência no governo, embora já se
encontrasse condenado pelo Supremo Tribunal Federal.
COMPERJ
O episódio da construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro,
orçado em 2006 em 6,1 bilhões de dólares, já passa hoje de 30 bilhões de
dólares e ainda não foi concluído ao longo de nove anos.
Nesse Complexo
Industrial a UTC integrava o grupo construtor ao lado da Odebrecht e da
Andrade Gutierrez.
Ricardo Pessoa revelou que os subornos iniciais
chegaram a 15 milhões de reais, tendo ele sido encarregado de pagar a
parte destinada ao PT, nela não incluídas parcelas posteriores
destinadas a outros partidos e seus representantes.
Quer dizer: um
assalto avassalador, com partidos e políticos investidos no papel de
assaltantes.
E assim conclui-se a primeira parte da história da delação premiada
do dono da UTC, solução aprovada pelo ministro Teori Zavascki, do
Supremo Tribunal Federal.
Produziu fortes reflexos no governo Dilma
Rousseff e certamente, produzirá outros talvez ainda mais intensos.
Afinal de contas, a queda inevitável do ministro Edinho Silva deverá
estar entre eles.
Pode não ser demitido pela presidente da República, porém deverá
demitir-se, já que sua presença no Executivo tornará o Palácio do
Planalto cada vez mais vulnerável aos ataques da oposição, que não é
liderada pelo PSDB ou por ninguém em especial mas sim pela rejeição
destacada na reação da própria população brasileira de forma maciça como
as pesquisas do Datafolha estão apontando.
Se Dilma Rousseff já se
encontrava mal no último levantamento, agora sua posição só pode ser
pior, e agravada, se for o caso, pela presença no ministério de um
personagem tão indesejado quanto indesejável como o titular da
Comunicação Social.
Tribuna da Internet