Pedro do Coutto
O título, claro está praticamente repetindo, o que usou Roberto
Rosselini no famoso filme “Roma Cidade Aberta”, focalizando os últimos
dias do governo fascista italiano.
Era 1944 e a Itália estava sendo
invadida pelas forças americanas e brasileiras, que ao lado dos
partizani lutavam para libertar o país do nazismo, que também a
ocupavam,buscando manter Mussolini no poder.
O filme incluía cenas reais
dos combates e marcou o início do neorrealismo no cinema. Esse realismo
agora se aplica com propriedade ao que se passa na cidade do Rio de
Janeiro em matéria de fracasso quase total da política de segurança do
governo Pezão.
A capital do RJ hoje está sob o domínio do tráfico de entorpecentes ,
do crime em série, da violência e dos assaltos que se sucedem nas ruas e
nas praças, muitos deles terminando em assassinatos.
Reflexo da
desordem urbana o Rio 2015 é uma cidade aberta a todos os fatores
sintetizados na frase que inspira o título deste artigo.
Desnecessário
lembrar a morte do médico Jaime Gold, na Lagoa Rodrigo de Freitas, por
uma bicicleta que atraiu os assassinos.
Mas deve-se destacar que, após
Jaime Gold, verificou-se uma série de esfaqueamentos na cidade atingindo
as vítimas de um cotidiano absolutamente insano.
O comércio imundo das drogas está atrás de tudo, pois criou um
mercado de câmbio próprio na medida em que os assaltantes acham que vão
multiplicar o produto de seus roubos comprando e revendendo tóxicos e
adquirindo o pernicioso crack.
Perniciosos, aliás, são todos os
entorpecentes, cujos consumidores na realidade direta ou indiretamente
financiam a violência.
FORA DA REALIDADE
O governo estadual revela-se ausente da realidade, tanto assim que o
próprio governador Pezão, há poucos dias, matéria divulgada pela
GloboNews, afirmou que pretendia regularizar até dezembro os pagamentos a
serviços prestados e aquisição de equipamentos necessários ao setor de
saúde.
Nós estamos no mês de junho.
Os atrasos de pagamento, é claro,
não se limitam aos serviços médicos e são reveladores de um
distanciamento entre o Executivo e o cotidiano das ruas cada vez mais
ameaçadas.
Na edição de domingo de O Globo, a repórter Waleska Borges escreveu
que os moradores de Laranjeiras vão usar apitos em bloco, contra a
violência no bairro.
Perfeito.
É uma forma legítima de manifestar a
inquietação contra a omissão.
Na mesma página em que a reportagem foi
publicada, uma notícia sobre o novo esfaqueamento desta vez tendo vítima
um taxista que se recusou a levar um passageiro a um morro Juca Branco,
em Niterói.
Levou dez facadas.
O criminoso fugiu com o carro,
abandonando-o pouco depois.
Este foi mais um retrato de como a violência produz vítimas em série
nas áreas urbanas.
Qual a resposta do Palácio Guanabara?
Nenhuma.
O
poder no Rio de Janeiro encontra-se adormecido, num torpor que tem
origem num tradicional escapismo que marca as últimas administrações
estaduais.
REFORMA DO FATOR PREVIDENCIÁRIO
Reportagem de Valdo Cruz, Cláudia Rolli e Paulo Muzolon, Folha de São
Paulo, na edição de domingo, revela que a presidente Dilma Rousseff
está pretendendo vetar a emenda aprovada pelo Congresso alterando com o
fator previdenciário.
Vetando, sofrerá de fato uma derrota enorme porque
seu argumento não convence ninguém. Ela se baseia no objetivo de fixar
uma idade mínima para todos os aposentados.
Uma farsa.
A idade mínima já se encontra praticamente atribuída no
texto aprovado pelo Legislativo: 60 anos para os homens 55 para
mulheres, além da necessidade de terem trabalhado respectivamente 35 e
30 anos, salvo profissões de risco excetuadas na legislação.
A matéria
acrescenta que Dilma Russeff pretende debater a nova fórmula com
dirigentes sindicais. Só pode ser um teatro armado, mais um
descumprimento do que afirmou na campanha eleitoral.
POR QUEM OS JUROS SOBEM?
Comecei este artigo citando Rosselini, no bloco final repito o título
que Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, deu ao seu
artigo de domingo, igualmente na Folha de São Paulo, recorrendo a
Hemingway e também ao filme de John Ford sobre a guerra civil espanhola.
O título do romance é Por Quem os Sinos Dobram. Pelas vítimas do
bombardeio nazista que garantiu o general Franco no poder em 1935.
Agora no Brasil não é difícil saber por quem os juros sobem.
Seria
para conter a inflação num lance de política financeira.
A qual,
entretanto, traz consigo reflexos em favor da rentabilidade dos bancos e
dos fundos de investimentos.
Pois quando o devedor propõe ao credor
pagar juros mais altos é porque está procurando captar mais recursos no
mercado para financiar seus projetos.
É a única explicação lógica para
tal procedimento, sem discutir a eficiência ou não desse rumo.
Tribuna da Internet