domingo, 18 de outubro de 2015

Dilma faz um governo de direita. Vai defender?

Douglas Belchior

Gente, por favor. Dilma faz um governo marcadamente de direita. Preferiu, num contexto economicamente pior que o de seu antecessor, aliar-se e render-se à direita histórica ao invés de se unir às forças progressistas que, inclusive, garantiram sua última vitória nas urnas. Esse governo promove retrocessos absurdos – tanto quanto ou mais que o tão falado ‘congresso mais reacionário da história’ – e endossa essa mesma política nos estados.

Apoio à leis criminalizantes, aliança com agronegócio, dependência de oligarquias regionais, política econômica neoliberal e imposição de um ajuste fiscal que beneficia os ricos e pune os pobres, privatizações, apoio a políticas de segurança pública de promoção do encarceramento e do genocídio negro, retirada de direitos trabalhistas, retrocesso nas políticas de direitos humanos… É um governo indefensável.

E não me venham dizer que “falar mal do PT ajuda a direita”, afinal, falar da direita, que são canalhas, seria chover no molhado. O grupo que prometeu ser uma coisa e foi outra é o que governa o país há 4 mandatos. Um grupo que, embora eleito em nome da classe, jamais enfrentou os grandes interesses dos algozes seculares do povo brasileiro. Ao contrário, preferiu a tática da conciliação, como se nunca houvera aberto um livro de história para saber o quão impossível seria.

AVANÇOS SOCIAIS

Alguns dirão: é a defesa aos avanços sociais dos últimos anos. Responderia: não se trata da negação daquilo que alguns consideram “avanço”, mas sim do que devia ter sido feito, em forma e conteúdo, e não se fez. Das brigas e disputas políticas e ideológicas que não se fizeram. Do enfrentamento aos interesses da classe dominante, que não se fez. E que sequer foram tentadas. E o porquê de não terem sido tentadas, mesmo com o clamor permanente dos movimentos sociais.

Essa crítica em nada tem a ver com defender impeachment ou “golpe”. E cá entre nós, não acho provável nenhum dos dois – até porque faltam elementos objetivos para tal – afinal, derrubar um governo que garante os interesses dos ricos e a opressão dos pobres tão bem quanto o governo Dilma, para que, né?!

Mas vivemos no Brasil, onde os absurdos são comuns. Então também não duvido. E num contexto de disputa “político ideológica” entre PSDB/PMDB versus PT, eu leio assim: de um lado a direita histórica, escravocrata, fascista, racista e elitista, logo, inimigos históricos da classe trabalhadora. De outro os capatazes, ex-escravos, a serviço das vontades do senhor, logo, traidores da classe trabalhadora. A “esquerda” não está, a meu ver, em meio a essa disputa.

POLITICAMENTE EQUIVOCADO

Quando digo isso, deixemos explícito, falo dos projetos políticos e da direção de cada um dos lados, e não do povo iludido ou politicamente equivocado – na minha opinião – que as partes reúnem.

É deprimente ver gente séria, com trajetória de luta e compromisso se rebaixando em último nível para defender o indefensável. Triste, muito triste.

Sim, é preciso juntar os cacos de um vaso que nós mesmos quebramos. Não há de se negar ou demonizar o PT ou os grupos e movimentos apoiadores do governo, claro que não, até porque “os partidos são as pessoas”, e tem muita gente séria e comprometida nesses espaços.

Mas é preciso superar, construir o novo com novos atores e, caso os atores de sempre queiram colaborar, que reconheçam e limpem sua sujeira, que lavem seus pratos cuspidos e peguem a fila lá de trás. O protagonismo não deve estar com aqueles que nos conduziram à beira deste precipício. Estes, por dignidade, deveriam perceber isso.

(artigo enviado pelo comentarista Mário Assis Causanilhas. O autor, Douglas Belchior, é professor de História da rede pública de São Paulo)

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