quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Planalto entrou em clima de salve-se quem puder

Vicente Nunes
Correio Braziliense

A sensação que se tem na Esplanada é de que se instalou nos gabinetes de Brasília o salve-se quem puder. Não há mais nenhuma preocupação com os rumos da economia. A prioridade, tanto no comando do Palácio do Planalto quanto no Legislativo, é garantir o mandato. O que vier depois é lucro. Para a população, no entanto, está se entrando no pior dos mundos, um tempo de incertezas que vai agravar a recessão, ampliar o desemprego, elevar a inflação e obrigar o Banco Central a manter os juros nas alturas por um prazo mais longo do que o desejado.

A crise política que está devastando a economia vai ampliar o atoleiro no qual o país se meteu. Com o governo totalmente voltado para evitar o impeachment da presidente Dilma Rousseff e o Congresso em pé de guerra em relação ao tema, são remotas as chances de o ajuste fiscal ser aprovado neste ano. Desiludida, a equipe econômica já admite que o Brasil poderá ter três anos de deficit nas contas públicas — 2014, 2015 e 2016 —, e o rebaixamento por mais uma agência de classificação de risco — provavelmente, a Moody’s — virá mais cedo do que se imaginava.

IMPEACHMENT

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de intervir no rito do processo de impeachment de Dilma na Câmara deu ânimo ao governo, sobretudo por indicar um rumo que vai além das vontades do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Mas, apesar da lucidez que impôs ao caso, o STF colocou o debate sobre o afastamento da presidente da República na ordem do dia. Agora, não há mais dúvidas de que a petista pode, sim, perder o mandato. Não se trata mais apenas de um desejo da oposição ou de vingança de Cunha.

Mas, que fique claro: quanto mais demorar a decisão sobre o impeachment, maior será o estrago na economia. Entre os empresários, a ordem é suspender qualquer transação que implique riscos demasiados. A justificativa é de que, qualquer que seja o desfecho, o resultado será turbulento. Mantida no Planalto, Dilma será um fantasma, não terá condições de aprovar nada que possa resultar em um ajuste efetivo das contas públicas. No máximo, conseguirá pôr em prática remendos que vão manter a desconfiança e adiar a retomada do crescimento. Caso a presidente seja afastada do poder, não se sabe quem será o sucessor, nem se ele terá força suficiente para construir apoio no Congresso e reverter o pessimismo que maltrata a economia.

Tribuna da Internet