segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Bom para os bancos, ruim para o resto do país

Vittorio Medioli
O Tempo


Joaquim Levy herdou uma situação complicada do seu antecessor, Guido Mantega, no fim de 2014, e devolve agora a Nelson Barbosa uma escabrosa. Deixa para trás um milhão e meio de desempregados, fechamento de milhares de indústrias, mercados em pânico, redução da arrecadação pública, apesar de estrondosos índices de alíquotas de impostos. A inflação, com ele, passou de 6% para 10%, o dólar subiu de R$ 2,30 para R$ 4. O PIB, de um crescimento de 0,1% para uma queda de 2,7%. Um conjunto de negatividades imperdoavelmente grave para uma economia afortunada por natureza. Ainda larga um Brasil rebaixado, num patamar ocupado por republiquetas de risco. Investir no Brasil, que era moda, passou a ser atividade especulativa com razoável possibilidade de levar calote.

Levy se queixa, agora, como ao longo de sua gestão, da falta de aprovação do ajuste fiscal. Mas muitas das medidas que pediu foram aprovadas, embora piorassem a situação. Jogou a culpa no Congresso, mas o que dependia dele (cortar despesas) não o fez. Faltou-lhe a CPMF, que é o tipo de imposto mais perverso e insustentável de confisco. Nem a capacidade de formular algo mais tragável e politicamente correto – não cumulativo para as atividades produtivas – foi capaz de inventar. Sobre a CPMF, que é retida pelos bancos, sempre existiu a sombra de altas apropriações indevidas dos bancos que nunca ninguém conseguiu investigar.

Levy usou a CPMF como um aríete na parede do Congresso. Quebrou seu chifre. Demonstrou falta de sensibilidade política, fixou-se no que havia de pior e encareceria produtos básicos de consumo popular. A culpa é dele, insistir em teses ultrapassadas e insustentáveis.

SEM SABEDORIA

Na altura galáctica de seu cargo, evidentemente, se exigem habilidade e conhecimento, mesmo que falte sabedoria. Ele mostrou incapacidade de pilotar em curvas, de usar acelerador e freio no momento certo e o volante na medida precisa. Distribuiu, ainda, carga nos pontos que de mais alívio precisam. Levy capotou por imperícia dele, insistindo no modo errado de alcançar o equilíbrio entre receitas e despesas. Deixou ainda menos competitivos os setores primários, aqueles que sustentam a economia, e permitiu lucros exorbitantes aos setores financeiros e especulativos.

Faz lembrar Zélia Cardoso, a ministra do confisco de Collor. Levy enxerga curvas e retas, subidas e descidas, reclama do freio e do acelerador que não sabe usar. Fosse piloto de corrida, não conseguiria sair do boxe. Steve Jobs não era um técnico de informática, mas montou a Apple. Churchill não era general, mas acabou fazendo da Inglaterra um país vitorioso. FHC não era economista, e conseguiu o Plano Real. Técnicos têm importância no boxe, não na pista onde se disputa.

Embora Levy, ao se despedir do ministério, tenha dito que o futuro mostrará suas bondades, o presente deixa números consideravelmente negativos e um clima de desarranjos terríveis. Com a faca e o queijo nas mãos, não soube agradar a ninguém, à exceção do sistema bancário, que o emprestou ao governo. Os bancos, que no meio da devastação econômica de 2015 registraram seus melhores balanços, o acolheram de volta como herói.

O Estado, os setores produtivos, a população em geral e os trabalhadores foram destroçados. Registrou-se uma transferência de saldos dos setores produtivos para o setor bancário.

COMO EXPLICAR?

Os investimentos que afluíam ao país entraram em rota de fuga. As atividades principais das empresas produtivas passaram a ser o fechamento de vagas, o corte de investimentos, o enxugamento e, quando não é suficiente para a sobrevida, o fechamento das portas.

A presidente Dilma, mais em consideração aos escândalos que assolam seu governo, se encontra em apuros pelo descontentamento da classe média e da população castigada ao mesmo tempo pelos aumentos de tarifas que dependem do controle do governo, pelo desemprego galopante, pela inflação medonha, pela corrosão das rendas familiares.

Nas ações de Levy não se enxergou uma medida para cortar privilégios de categorias encasteladas que sangram o Estado.

Raras as citações ao castigo decretado, pela sua política econômica, aos jovens e às famílias. Essa falta de consideração não é doutrinariamente “liberalismo”, mas a velha conspiração que quebra o Estado e o faz refém de dívidas impagáveis. Bom para os bancos, ruim para o resto.

ESTÍMULO À INDÚSTRIA?

Dilma, ao lado de Nelson Barbosa, deverá anunciar um pacote de medidas de estímulo à produção industrial, especialmente o plano de substituição de veículos poluidores por outros mais econômicos, atendendo o compromisso de diminuição de emissões de CO2 da COP21. Será um impulso à recuperação da atividade industrial, do emprego e de uma arrecadação saudável.

Também deverá ser anunciada a polêmica repatriação de capitais mantidos clandestinamente por brasileiros no exterior. Interessante seria que esses capitais, além de pagarem impostos atrasados, voltassem sob a condição de investimentos ambientalmente corretos, promovendo a conversão de energias fósseis para renováveis. O Brasil poderia ficar mais acolhedor.

Para o nosso país ainda é imprescindível aumentar as atividades econômicas, criar oportunidades de trabalho, conseguir, assim, virtuosamente, reequilibrar as contas públicas e a solidez do Estado.

Aproveito a data para desejar aos meus leitores um feliz Natal. Que a esperança ilumine sempre nossos corações e alimente nossas vidas.

Tribuna da Internet