Pedro Ferreira e Renato Fragelli
Valor Econômico
Valor Econômico
Neste momento em que o país sente as consequências da desastrosa
política econômica adotada durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff,
não há motivos para otimismos em relação ao futuro da economia
brasileira nos próximos anos.
O ano de 2015 entrará para a história como um dos mais traumáticos da
história econômica brasileira. O PIB deverá sofrer queda de cerca de
4%. O mercado de trabalho, que vinha resistindo até o início do ano,
mergulhou em queda livre, com o desemprego atingindo 8,9% no 3º
trimestre, de acordo com a Pnad Contínua. Em doze meses, foram
destruídos 1,5 milhão de postos de trabalho e tudo indica que esse
movimento está se acelerando. Na virada do ano, o desemprego deverá
atingir 10%.
A produção industrial em outubro mostra um quadro de terra arrasada.
Comparando-se a produção entre janeiro e outubro com igual período do
ano anterior, a queda global foi de 8%, tendo sido de 17% no caso dos
bens de consumo duráveis e de 24% no dos bens de capital. A provável
queda dos investimentos no último trimestre será a nona queda trimestral
seguida. Os indicadores da Sondagem da Construção do Ibre-FGV mostram
que o nível de atividade do setor é hoje inferior à metade do observado
há dois anos. Onde se olha, a situação é dramática.
ANOS PERDIDOS
Com impeachment ou sem impeachment, o ano de 2016 está perdido e 2017
provavelmente também. Para agravar o panorama, a inflação anual deve
aproximar-se de 11%, apesar do desemprego e da recessão. No front
fiscal, o déficit primário ultrapassará os R$ 110 bilhões. As (más)
soluções propostas até agora, como a reintrodução da CPMF, não foram
aprovadas e não há alternativas à vista.
Se 2015 foi ruim, 2016 não será melhor. A discussão sobre o
impeachment da presidente Dilma Rousseff, bem como as incertezas
envolvendo os novos episódios da Lava-Jato, indicam a continuidade da
atual paralisia decisória, em ambiente político ineditamente
conflituoso. Decisões de investimento permanecerão imobilizadas até que
se equacione o imbróglio fiscal. Este, por sua vez, depende de uma
improvável melhoria no quadro político.
Com o agravamento da recessão, setores menos atingidos até o momento,
como os serviços, serão duramente castigados. Os indicadores sociais,
que surpreendentemente não haviam piorado muito até o momento,
inevitavelmente começarão a se deteriorar.
GOVERNO IMOBILIZADO
No caso de permanência de Dilma Rousseff na Presidência, a crise
política continuará imobilizando o governo, pois poderá surgir um novo
processo de impeachment motivado por supostos crimes eleitorais, ou por
novas revelações da operação Lava-Jato e a popularidade da presidente
dificilmente melhorará. E observaremos, portanto, mais desemprego, menos
investimento e mais contração. As previsões para queda do PIB no ano
que vem, que provavelmente levam em conta este cenário de continuidade
política, estão entre 2% e 3%.
A situação econômica futura pode se deteriorar ainda mais e não há
muito que se possa fazer no próximo ano e provavelmente em 2017. Há no
momento uma quase que total incapacidade do governo ou o do Banco
Central utilizarem qualquer das muitas medidas anticíclicas clássicas.
Com um déficit altíssimo, dívida explodindo, bancos públicos contra a
parede, Petrobras (e outras estatais) sendo investigadas e/ou
excessivamente endividadas, não há qualquer espaço para política fiscal
expansionista.
Além disto, se é verdade que a pressão inflacionária desencadeada
pela correção de preços administrados será menor em 2016, aquela causada
pela maxidesvalorização continuará presente. Numa economia em que o
salário mínimo indexa não apenas o menor rendimento do trabalho, mas
também despesas previdenciárias e assistenciais, sua correção em torno
de 11%, determinada pela regra de atualização em vigor, constitui um
grande entrave à queda da inflação. Assim, se algo acontecer no futuro
próximo com a política monetária será na direção de aumentar os juros e
contrair o crédito.
MOVIMENTOS SOCIAIS
Para deter o impeachment, Dilma vem se aproximando dos movimentos
sociais, cujos pleitos foram ignorados em 2015 e isto implica mais
gastos. Dilma repete o que fez Lula após a eclosão do mensalão em 2005.
Naquela ocasião, a retribuição de Lula àqueles movimentos foi a
suspensão da tramitação da reforma da previdência dos servidores, que só
viria a ser regulamentada por Dilma.
Os movimentos sociais que hoje apoiam Dilma são os mesmos que clamam
pela volta imediata do crescimento, que rejeitam o ajuste fiscal, que
lutam pelo “fora Levy”. Como reagirá Dilma diante dessas pressões? Uma
eventual saída de Levy adicionaria mais incerteza e pessimismo, e
retiraria uma das poucas garantias de que a situação fiscal não se
deteriorará ainda mais.
No caso alternativo de vitória do impeachment, Michel Temer contaria
com a benevolência dos mercados por alguns meses, durante os quais
tentaria aprovar reformas como aquelas propostas no programa “Ponte para
o Futuro”. Mas trabalharia contra o tempo, com grande incerteza sobre a
formação da coalizão de governo, com parte de sua base de apoio sendo
investigada e sofrendo acirrada oposição dos grupos alijados das
benesses do poder pelo afastamento de Dilma. Tarefa difícil pois Temer
não teria como reverter o quadro recessivo antes de meados de 2017.
Com impeachment ou sem impeachment, o ano de 2016 está perdido e 2017
provavelmente também. A esperança fica para 2018, ou quem sabe 2019.
Artigo enviado pelo comentarista Mário
Assis Causanilhas. Os autores, Pedro Cavalcanti Ferreira e Renato
Fragelli Cardoso, são professores da Escola de Pós-Graduação em Economia
(EPGE-FGV)
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