sábado, 23 de janeiro de 2016

As ideologias já morreram, mas muita gente ainda não percebeu

Carlos Newton


É claro que este artigo desagradará a muitos comentaristas que frequentam a Tribuna da Internet, mas não fui criado para agradar a ninguém. Tenho recebido com tristeza as manifestações de radicalismo que estão marcando este blog, criado justamente para que as opiniões pudessem ser livres, que a troca de ideias conseguisse nos conduzir a conceitos em prol do bem comum, confesso que tinha essas tolas aspirações.

O tempo passa rápido, tive de recorrer ao Google para saber que a Tribuna está circulando na internet desde 2008, lá se vão oito anos em que venho trabalhando sem interrupção, 365 dias por ano, em busca deste sonho de um veículo de comunicação independente, em que todas as tendências e ideologias fossem respeitadas e se buscasse destacar as características positivas e negativas de cada uma das correntes,  o que é até  fácil de identificar, porque nos dias de hoje todos nós temos exata noção do que é certo ou errado.

Mas este sonho é também um pesadelo. Oito anos já se passaram e o resultado é desalentador. É como se  nada tivesse acontecido nos últimos dois séculos e as antigas ideologias ainda existissem, com o comunismo e o capitalismo se contrapondo e se digladiando sem cessar.

NA DÉCADA DE 70…

Em 1978, o grande jornalista Mauritônio Meira teve a ideia de criar uma revista que circulasse simultaneamente encartada em jornais de todo o país e me convidou para dirigi-la, com absoluta liberdade editorial. De repente, lá estava eu trabalhando com monstros sagrados como Rubem Braga, Joel Silveira, Sebastião Nery, Nina Chavs, Raul Giudicelli, Fernando Lobo, Antônio Nássara, Nertan Macedo e muitos outros.

Logo nas primeiras edições da revista, que rapidamente se tornou o órgão de imprensa com maior tiragem e penetração do país, escrevi uma série de artigos sob o título “A morte das ideologias”. No primeiro deles, fazia ironia dizendo que, se Karl Marx e Friedrich Engels estivessem vivos e fossem morar na União Soviética, estariam presos na Sibéria, chupando picolé de gelo. O regime soviético os perseguiria implacavelmente.

Naquela época, quase 20 anos antes da queda do Muro de Berlim, já se sabia que a guerra fria ideológica era um papo furado, apenas disputa de poder, porque a ameaça do comunismo e a evolução social fizeram o capitalismo se aprimorar, aceitando os direitos trabalhistas e o Welfare State (Estado do Bem-Estar Social). Portanto, aquela conversa da exploração do homem pelo homem estava com os dias contados, embora até hoje insista em se fazer presente em países menos desenvolvidos, vejam como na prática a humanidade ainda continua estupidamente atrasada.

Meus textos fizeram sucesso pelo ineditismo. Encontrei o delegado Manoel Vidal (que depois se tornaria chefe de Polícia no RJ), ele estava fazendo o curso da Escola Superior de Guerra e me disse que a instituição colocara meus artigos sobre a morte das ideologias para serem discutidos pelos alunos e professores.

NEOCAPITALISMO OU NEOSOCIALISMO

Como o equilíbrio está sempre no meio, a política também funciona assim, e a solução viria através de uma simbiose entre os conceitos do capitalismo e do comunismo, o que naquela altura já começava a acontecer nos países escandinavos, onde a democracia plural acabou dando tão certo que hoje as maiores discussões ideológicas lá existentes se concentram em temas como a defesa do meio ambiente e os problemas da migração.

Criou-se naquela inóspita região do planeta uma espécie de neocapitalismo, que vem a ser irmão xifópago do neosocialismo, a diferença é só questão de ponto de vista.

Diante desta realidade da evolução política, que é concreta e não tem como ser contestada, é triste ver a falta de consideração que ainda é demonstrada em relação a Karl Marx e Friedrich Engels, que continuam sendo caluniados pelos erros cometidos por ditadores como Josef Stalin, Fidel Castro e Kim Jong-un, três exemplos de péssima execução do marxismo na era contemporânea.

QUESTÃO DE ÉPOCA

Os críticos de Marx e Engels se comportam como se eles ainda estivessem vivos, tomando um cafezinho no bar da esquina. Esquecem que eles desenvolveram suas teorias políticas na época em que viveram, há quase 200 anos, quando a exploração do homem pelo homem ainda era abertamente tolerada.

Antes de Marx e Engels viera outro alemão, Georg Hegel, que questionava as concepções políticos e filosóficas da época. Marx deu um passo à frente, ao definir que “os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de diversas maneiras; o que importa é modificá-lo”.

Como os empresários não manifestavam nenhuma preocupação com a saúde e a duração da vida dos trabalhadores, o que Marx e Engels pretendiam era idealizar uma sociedade mais justa, com uma melhor distribuição de renda, sem a exploração exacerbada dos trabalhadores, que ainda não tinham conquistado direitos sociais. Os dois pensadores não queriam escravizar ou subjugar ninguém, muito pelo contrário. E não têm culpa de que suas ideias tenha sido deturpadas por meros tiranos, que aplicaram as teorias de maneira completamente equivocada, criando ditaduras sangrentas, tudo errado.

Discutir ideologias na época em que vivemos, sem dúvida, é apenas perda de tempo.

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TRÊS VISÕES DO MARXISMO


Antonio Santos Aquino

Marx dizia que “a imprensa livre é o olhar onipotente do povo, a confiança personalizada do povo nele mesmo, o vínculo articulado que une o indivíduo ao Estado e ao mundo, a cultura incorporada que transforma lutas materiais em lutas intelectuais e idealiza suas forças brutas. É a franca confissão do povo em si mesmo, e sabemos que o poder da confissão é o de redimir. A imprensa livre de si mesma é a primeira condição de sabedoria”.

Antonio Rocha

Infelizmente há uma comunofobia e socialismofobia em plagas brasileiras. Libertem-se do passado. Se é assim, o Cristianismo matou muita gente no tempo das Cruzadas. Graças a Deus, hoje não mata mais. Lembro do presidente Ronald Reagan, quando ele começou a se aproximar de Gorbatchev, que estava promovendo a Perestroika na URSS. Numa coletiva um repórter ponderou: “Mas eles são comunistas…”. Sabiamente, o presidente Reagan respondeu: “Isso é coisa do passado”.

Pedro Meira

Brizola não era comunista, apenas nacionalista. Nas vezes que concorreu para presidente nunca teve apoio dos comunistas. Aliás, a esquerda tradicionalmente despreza políticos nacionalistas. Mas hoje grande parte da direita confunde nacionalismo com comunismo, porque acha que é esquerda tudo que não seja defesa do capital estrangeiro e dos interesses norte-americanos (pouco importa se, com Obama, o governo americano esteja se tornando cada vez mais de esquerda).

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PS – Já ia esquecendo. Dizer que Lula e seus asseclas são marxistas parece ser um bocado de exagero. O lance deles é grana. São capitalistas à moda antiga, apenas fingem se preocupar com o bem-estar dos trabalhadores. (C.N.)

Tribuna da Internet