terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Atribuir nossos problemas a fatores externos é uma bela idiotice

Wilson Baptista Junior


Atribuir nossa desindustrialização aos interesses econômicos estrangeiros é uma maneira fácil de desconhecer os verdadeiros motivos. Se fosse assim, não teríamos uma empresa como a Embraer competindo com os maiores fabricantes mundiais num setor de alta tecnologia.

O “império americano”, hoje, ressente-se ele próprio de uma desindustrialização causada justamente pela emergência de países com melhores condições de competitividade, o que tem levado muitos fabricantes americanos a fabricarem seus produtos no estrangeiro. Tanto que estão novamente hoje fazendo lá a campanha de “buy american”, para tentar reverter essa tendência, sem muito sucesso.

Se nossos governos tivessem cuidado de desenvolver a infraestrutura necessária para o desenvolvimento econômico do país, em vez de desmontar nossa malha ferroviária, se tivessem cuidado da educação de modo a que tivéssemos uma população apta a absorver o conhecimento tecnológico necessário para uma boa produtividade, se não tivéssemos assumido a ridícula política de reserva de mercado da informática, que atrasou nossa indústria um par de décadas na automação e melhora de processos, se tivessem cuidado de uma simplificação da política tributária e do excesso de burocracia para, junto com a melhora da infraestrutura, reduzir o “custo Brasil”, se tivéssemos cuidado de prestigiar um verdadeiro ensino técnico (em vez desse arremedo de terceirização de ensino que é o Pronatec).

DOUTORES DE CANUDO

Em vez de privilegiar o título de doutor com a campanha de “universidade para todos”, que hoje destina uma parte desproporcional de verbas para o ensino superior, se tivéssemos cuidado melhor da educação fundamental em vez de produzirmos essa massa de analfabetos funcionais e depois gastamos uma fortuna tentando transformar em doutores, se não tivessem desvirtuado o papel do BNDES subsidiando quem não precisa e subsidiando a produção de produtos primários para a exportação de commodities, em vez de incentivar a produção de bens com maior valor agregado, não estaríamos hoje vendendo nosso minério para a China para comprar dela de volta os trilhos que poderíamos estar produzindo aqui dentro.

Se, por fim, os nossos políticos olhassem para os interesses do país em vez de olhar para seus próprios umbigos, se o nosso governo privilegiasse a colocação de técnicos competentes nos cargos de direção em vez de fazer deles moeda de troca para garantir apoio parlamentar, enfim, se tivéssemos um governo de verdade, não estaríamos na situação em que estamos.

A culpa é nossa, e não de uma fictícia conspiração internacional e das nossas elites (que só teriam a ganhar com o desenvolvimento econômico do país). Não me venha tentar esconder a nossa incompetência criando um fantasma externo. Quem tem que resolver nossos problemas somos nós mesmos, que os criamos.

Tribuna da Internet