terça-feira, 8 de março de 2016

Forças Armadas não permitirão confrontos em manifestações

Carlos Newton


A Constituição é clara, as Forças Armadas somente podem intervir para impor a ordem pública quando forem acionadas por algum dos Poderes da República. Portanto, no momento cabe à presidente Dilma Rousseff, ao senador Renan Calheiros ou ao ministro Ricardo Lewandowski o ato de requerer intervenção das Forças Armadas. Ou seja, nem mesmo governadores ou prefeitos podem fazê-lo. Isso, na teoria. Na realidade, porém, aqui debaixo do Equador as leis são interpretadas de forma mais aberta, e as Forças Armadas não pretendem aguardar que haja requisição de ofício, como se diz no linguajar burocrático. Pelo contrário, estão prontas para intervir.
Sem consultar a presidente Dilma Rousseff nem o atual ministro da Defesa, Aldo Rebelo, que são solenemente desprezados pelo oficiais generais, os comandantes das três armas e o Estado-Maior das Forças Armadas já decidiram como se dará a atuação dos militares, caso realmente fujam ao controle os confrontos entre manifestantes contra e a favor de Lula/Dilma/PT.
A repressão às hostilidades, por óbvio, será feita pelas forças de segurança dos estados e das cidades, ou seja, Polícia Militar e Guarda Municipal, com as autoridades militares acompanhando à distância, para interferirem apenas em situação de real necessidade.

ESTRATÉGIA ESTÁ TRAÇADA

A estratégia definida pelos três comandantes das Forças Armadas e pelo Estado-Maior é atuar de acordo com os governos de cada Estado. Em todas as cidades onde ocorrerem grandes manifestações, as tropas de choque das corporações militares serão colocadas de prontidão, preparadas para intervir caso haja confronto entre as facções.
O esquema já foi testado na última sexta-feira, quando o ex-presidente Lula teve de ser conduzido coercitivamente para prestar depoimento à força-tarefa da Operação Lava Jato. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, foi comunicado de que as tropas militares estavam à disposição, caso houvesse necessidade. Em outros Estados onde o PT convocou manifestações a favor de Lula na sexta-feira, os respectivos governadores também foram contatados.
Somente ocorreram confrontos em frente ao prédio onde mora o ex-presidente Lula, em São Bernardo do Campo, e diante da sede do PT, no centro de São Paulo, mas foram de pouca gravidade e a Polícia Militar conseguiu manter a situação sob controle. Alguns manifestantes tiveram ferimentos leves, sem maiores sequelas, e a vida seguiu seu curso.

CONTRA A TV GLOBO

No domingo, houve manifestação no Rio de Janeiro, diante da sede da TV Globo, convocada pelo presidente do PT estadual, Washington Quaquá, prefeito de Maricá, que comandou o ato público acompanhado de uma de suas assessoras, Lurian Lula da Silva, filha do ex-presidente.
Segundo a agência France Presse, a Polícia Militar calculou que havia cerca de 200 pessoas na manifestação, mas os sites dos jornais explicaram que estiveram presentes apenas cerca de 70 ativistas, porque o restante era formado de jornalistas que faziam cobertura do evento e pessoas que moram nas proximidades e saíram de casa para acompanhar o que estava ocorrendo.
Não houve tumulto nem confronto, porque os militantes contra Lula/Dilma/PT simplesmente desprezaram o ato público de Washington Quaquá, que trouxe de Maricá a maioria dos participantes e mostrou que não consegue mobilizar nem mesmo os filiados ao partido que preside no Estado do Rio de Janeiro.

DIA 13, O GRANDE TESTE

As Forças Armadas consideram que o grande teste de sua estratégia será no próximo dia 13, quando haverá manifestações contra Lula/Dilma/PT em cerca de 300 cidades. Os militares não têm efetivos para atuar simultaneamente em todas elas, por isso vão se concentrar apenas nas capitais e nas cidades de maior população, onde realmente podem acontecer hostilidades mais graves, especialmente se houver manifestações dos petistas, simultaneamente e no mesmo local, como o “exército de Stédile” ameaça fazer na Avenida Paulista, este domingo .
Na prática, se a Polícia Militar e a Guarda Municipal não conseguirem impor a lei e a ordem, as Forças Armadas vão intervir, independentemente de solicitação de qualquer autoridade civil. Se isso ocorrer, os governadores depois dirão que foram eles que solicitaram, é claro. Ficou combinado assim.
Como todos sabem aqui na Tribuna da Internet, os políticos são especialistas em manter as aparências. Num momento de grave crise como estamos passando, é isso que realmente importa. O resto é paisagem, como dizia Érico Veríssimo.

Tribuna da Internet