domingo, 24 de abril de 2016

O mar revelou tragicamente a fragilidade de mais uma obra pública

Pedro do Coutto 

No feriado de 21 de abril, as ondas do mar revelaram de forma trágica a fragilidade da ciclovia Tim Maia, que o prefeito Eduardo Paes desejava expor como uma das realizações a serem destacadas especialmente ao longo das Olimpíadas, que começam em agosto. Aconteceu o contrário, exatamente o contrário. A obra, que se projetava como uma beleza estética entre a montanha e o mar de São Conrado, tornou-se palco e símbolo de um desastre que terminou causando a morte de seres humanos.
A Prefeitura – reportagem de O Globo – deseja agora punir os responsáveis de sempre. Ou seja, ninguém. Isso porque a responsabilidade maior cabe à própria administração pública, que não avaliou devidamente a execução pelo menos parcial do que estava sendo construído. Tanto assim que as fotos mostram com exatidão o ponto de ruptura causado pelas ondas. As mesmas ondas que se repetem no local desde sempre.
Era preciso que tal fator de risco fosse levado em conta. Não foi. Tanto assim que a ciclovia desabou. Quem vai querer usá-la agora? Ninguém.
SERÁ CONSERTADA?
O maior perigo é tentar consertá-la às pressas para que ela esteja reerguida até o início dos Jogos Olímpicos. Caso contrário as fotografias do desabamento vão ocupar espaço de destaque nas páginas dos jornais que vêm ao Rio cobrir as Olimpíadas.
Por falar em pressa, também de acordo com O Globo, ela se tornou presente na execução da obra. Demorou um ano e meio para ser erguida, inaugurada em janeiro, desabou três meses depois. A fragilidade está exposta neste fato. A previsão quanto a força do mar não foi levada em conta, muito menos a estabilidade da ciclovia agora com seus quase 4 quilômetros totalmente ameaçados.
A pressa não atingiu somente a execução dos serviços de engenharia, mas alcançou também os termos aditivos aplicados ao contrato entre a Prefeitura e o Consórcio construtor, que elevaram o preço da obra de 35 milhões de reais para 44 milhões. Foram oito termos aditivos.
Mas não foram adicionados aos trabalhos as medições indispensáveis à firmeza da construção. Aí reside o problema essencial.
SEM SEGURANÇA
Ao que tudo indica, os cálculos de segurança não foram observados. Pois se observados fossem, o resultado não seria o desastre fatal de quinta-feira. O problema da compatibilização entre o uso dos materiais, que os cálculos indicam, e sua aplicação respectiva, revela problema bem antigo na administração brasileira. Nem sempre a quantidade de concreto e metais por metro quadrado acompanha as decisões que estão no papel.
No caso da Avenida Niemeyer, vale lembrar que os arcos que a sustentam tem em torno de um século e jamais sofreram abalo algum. Inclusive a Avenida da encosta foi cenário tradicional de corridas de automóvel  durante muitos anos, competições que reuniram Chico Landi, Manoel de Teffé, Juan Manoel Fanjo (campeão mundial) e o também argentino Froilan Gonzalez, por sinal vencedor da prova em 1952.
Portanto, verifica-se a solidez da construção, sobretudo porque, no caso, têm que ser somados o balanço das ondas e a trepidação dos carros de corrida da pré-Formula Um no asfalto entre a rocha e o Oceano Atlântico.
FRUSTRAÇÃO TOTAL
A solidez das antigas construções faltou na obra da ciclovia, cujo desabamento atinge a capacidade da própria Prefeitura do Rio.
O prefeito Eduardo Paes rumava para Atenas para assistir o começo da jornada histórica da tocha olímpica. Perfeito, compreende-se a ausência. Mas surpreendeu no acontecimento a ausência do vice-prefeito Adilson Pires. Em seu lugar emergiu o secretário Pedro Paulo, coordenador do Executivo. Não foi uma boa ocasião para ele, candidato que pretende ser à sucessão de Eduardo Paes.
Tribuna da Internet