sábado, 9 de abril de 2016

Qual o Brasil que queremos: um país justo ou apenas rico?

Leonardo Boff
O Tempo


A exaltação dos ânimos nos partidos e na sociedade nos dificulta discernir o que está, efetivamente, em jogo: que Brasil queremos? Um país justo ou um país rico? Logicamente, o ideal seria termos um país justo e simultaneamente rico, mas os caminhos que escolhemos para esse propósito são diferentes. Uns o impedem, outros o possibilitam. Se quisermos que seja justo, devemos optar pelo caminho da democracia republicana. A consequência é que haverá mais políticas sociais que atendam os mais vulneráveis, diminuindo, assim, nossa perversa desigualdade social.
Se quisermos um país rico, optamos pela democracia liberal dentro do modo de produção capitalista ou neoliberal. O neoliberalismo coloca o bem privado acima do bem comum. Em função disso, prefere fazer investimentos em grandes projetos e dar facilidades às indústrias eficientes para que consigam conquistar consumidores para seus produtos. Os pobres não são esquecidos, mas apenas recebem políticas pobres.
Thomas Piketty mostrou, em seu livro “O Capitalismo no Século XXI”, que o melhor caminho jamais excogitado para se alcançar a riqueza é o capitalismo. Mas reconhece que, onde ele se instala, logo se introduz a desigualdade, pois ele é montado para a acumulação privada, e não para a distribuição da renda. Predomina a concorrência, e não a solidariedade. O mercado comanda a política, pratica-se a privatização de bens públicos; o Estado mínimo não deve intervir, cabendo-lhe a segurança e a garantia dos serviços básicos.

BENS NATURAIS

E mais: a busca desenfreada da riqueza de alguns implica a exploração dos bens e dos serviços naturais, hoje quase exauridos, a ponto de termos tocado os limites físicos da Terra. Um planeta limitado não suporta um crescimento ilimitado. Precisamos de quase uma Terra e meia para atendermos as demandas humanas, o que a torna insustentável, inviabilizando a própria reprodução do sistema do capital. A ordem capitalista está conhecendo o seu limite.
Qual é o pomo de discórdia na política atual no Brasil? A oposição optou pela macroeconomia neoliberal. Líderes da oposição proclamam que os salários são altos demais, que toda a Petrobras, bem como o Banco do Brasil, a Caixa e os Correios, deveria ser privatizada. Já conhecemos essa fórmula. Ela é cruel para os pobres e danosa para os trabalhadores, pois favorece a acumulação e, assim, as desigualdades sociais. O capitalismo é bom para os capitalistas, mas ruim para a maior parte da população.
O PT, os partidos e os grupos progressistas querem o caminho da democracia republicana e participativa. Visam garantir as conquistas sociais e alargá-las. Não é nada seguro que a vitória do neoliberalismo vá mantê-las, pois obedece a outra lógica, a da maximização dos lucros.

BASE ECOLÓGICA

O atual governo busca um caminho próprio na economia e na política internacional, com a consciência de que, dentro de pouco, a economia mundial será de base ecológica. Aí emergiremos como uma potência, capaz de ser a mesa posta para as fomes e as sedes do mundo inteiro. Esse dado não pode ser desconsiderado.
A oposição ferrenha aos governos de Lula e Dilma tem como motor propulsor a liquidação desse projeto republicano, pois lhe custa aceitar a ascensão dos pobres e sua participação na vida social. Mas é esse projeto que responde à angústia que devorava Celso Furtado: “Por que o Brasil, sendo tão rico, é pobre, e, com tantas virtualidades, continua atrasado?” A resposta dada por Lula e Dilma mitiga a queixa de Celso Furtado, boa não só para os pobres, mas para todos.

Tribuna da Internet