terça-feira, 8 de novembro de 2016

No Brasil discute-se tudo, menos o que é importante – a insaciável dívida pública

Carlos Newton
O Brasil é realmente um país muito estranho. Está vivendo a plenitude de sua versão da democracia, que é meio diferente da praticada em outras nações. Aqui, pode-se derrubar a presidente eleita, prender ex-ministros e políticos importantes, condenar empresários bilionários, e vida que segue, como dizia o inesquecível jornalista João Saldanha. Poucos países conseguiriam enfrentar uma situação tão esculhambada e manter um clima de normalidade. Tudo é discutido abertamente por uma mídia de primeiro mundo, que apresenta produtos de qualidade, sejam jornais, revistas especializadas, programas de rádio e televisão, embora haja muita baixaria, como também ocorre nos Estados Unidos, na Inglaterra, na França etc., que ainda não atingiram o nível de civilização dos países escandinavos, onde se praticam as mais criativas versões do socialismo democrático, regime ideal para o mundo trilhar nos próximos séculos.
Aqui no Brasil tudo é discutido apaixonadamente, menos a questão mais importante, a única que realmente importa – a avassaladora escalada da dívida pública. O assunto vem sendo discutido em pé de página, jamais ocupa as grandes manchetes, não desperta maior interesse.
IRRESPONSABILIDADES – Embora seja um dos países com maior potencial de crescimento, o Brasil continua a ser um gigante adormecido – ou entorpecido. Até o governo Itamar Franco, a situação estava sob controle. O maior problema era a dívida externa, que nem era lá essas coisas, pois os juros eram baixos, e a dívida externa chegava a ser ridícula em comparação ao PIB nacional.
Foi o irresponsável Fernando Henrique Cardoso que inverteu a situação. Sob pretexto de reduzir a dívida, fez privatizações a preço de banana, financiadas pelo BNDES, no fenômeno que depois o jornalista econômico Aloysio Biondi apelidaria de “privataria tucana”. FHC é um farsante, não reduziu nada, apenas transformou a dívida externa em interna e multiplicou-a adoidamente.
Depois, outro irresponsável, o presidente Lula da Silva, seguiu aumentando descontroladamente a dívida pública e incentivou artificialmente o consumo, sem que a importante questão financeira fosse discutida em termos nacionais.
CONTABILIDADE CRIATIVA – Depois entrou em cena a suposta gerentona Dilma Rousseff. Com base em seu falso doutorado em Economia, a governante (ou governanta) permitiu que seu ministro Guido Mantega implantasse a “contabilidade criativa”, que consistia na maquiagem das contas públicas para apresentar resultados sempre positivos, pedalando sem parar.
Com base nesta fraude, Dilma ganhou novo mandato, mas acabaria sendo expulsa do poder. E naquela prolongada batalha do impeachment, discutia-se tudo, menos a escalada da dívida pública.
Agora, na gestão de Michel Temer, com o ex-banqueiro Henrique Meirelles comandando a equipe econômica, o esquema continua o mesmo – debate-se o teto dos gastos etc. e tal, mas a dívida interna e externa, que crescem cada vez mais, continuam em segundo plano.
A MAIS GRAVE CRISE – O fato concreto é que o Brasil vive a maior crise econômica de sua História. Estimulada pelos tucanos e petistas, a farra do boi acabou. Mas a grande mídia ainda minimiza a dívida pública, porque o assunto é vital para os banqueiros e as elites, que se transformaram em “rentistas”. Ao invés de investirem em atividades produtivas, para gerar riquezas e abrir empregos, simplesmente deixam o dinheiro aplicado, auferindo juros sobre juros, o melhor negócio do mundo.
Os banqueiros e investidores decidiram inventar o mais abjeto modelo econômico já criado – o capitalismo sem risco, em que o dinheiro rende por si só. É claro que isso não existe. O capitalismo é um sistema que sempre envolve risco, não há outra alternativa. O genial economista Thomas Piketty precisa escrever agora sobre o capital em versão brasileira. Seria um novo fenômeno editorial.
Bem, é esse assunto que precisamos urgentemente discutir, porque a economia nacional está derretendo. Mas quem se interessa? Temer? Meirelles? Lula? Bolsonaro? Ciro? Caiado? Alckmin? Serra? Aécio? Claro que não. Todos eles são rentistas.
Tribuna da Internet