sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Um poeta que encobria os olhos da amada sob uma discreta folha de parreira

Paulo Peres
Site Poemas & Canções
O dramaturgo, jornalista, contista e poeta maranhense Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo (1855-1908), no soneto “Por Decoro”, sustenta que os olhos do seu amor, quando expostos publicamente, deveriam estar cobertos por uma discreta folha de parreira.
POR DECORO
Artur Azevedo
Quando me esperas, palpitando amores,
e os lábios grossos e úmidos me estendes,
e do teu corpo cálido desprendes
desconhecido olor de estranhas flores;
quando, toda suspiros e fervores,
nesta prisão de músculos te prendes,
e aos meus beijos de sátiro te rendes,
furtando às rosas as purpúreas cores;
os olhos teus, inexpressivamente,
entrefechados, lânguidos, tranquilos,
olham, meu doce amor, de tal maneira,
que, se olhassem assim, publicamente,
deveria, perdoa-me, cobri-los
uma discreta folha de parreira.

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