quinta-feira, 15 de março de 2018

Um poema sinistro de Alphonsus de Guimaraens, que preferia cantar a morte

Paulo Peres

Site Poemas & Canções

Marcado pela morte prematura de sua amada Constança, o juiz e poeta mineiro Afonso Henriques da Costa Guimaraens (1870-1921), que adotou o nome de Alphonsus de Guimaraens, no soneto “Cantem Outros a Clara Cor Virente”, afirma que somos uma bússola sem norte, em direção à morte. 
CANTEM OUTROS A CLARA COR VIRENTE

Alphonsus de Guimaraens

Cantem outros a clara cor virente

Do bosque em flor e a luz do dia eterno…
Envoltos nos clarões fulvos do oriente,
Cantem a primavera: eu canto o inverno.

Para muitos o imoto céu clemente

É um manto de carinho suave e terno:
Cantam a vida, e nenhum deles sente
Que decantando vai o próprio inferno.

Cantem esta mansão, onde entre prantos

Cada um espera o sepulcral punhado
De úmido pó que há de abafar-lhe os cantos…

Cada um de nós é a bússola sem norte.

Sempre o presente pior do que o passado
Cantem outros a vida: eu canto a morte.


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