domingo, 7 de fevereiro de 2016

"Não me leve a mal, hoje é Carnaval" (Canção Carnavalesca)

Salvatore D’ Onofrio
Site da ABDIC


Do italiano “carnevale”, termo formado a partir do latim medieval “carnem vale”, que significa “adeus à carne”, o carnaval é uma festa popular bem antiga, cuja origem pode ser encontrada nas festividades para comemorar a colheita da uva, a vindima, em honra do deus grego Dionísio, a mesma divindade cultuada em Roma com o nome de Baco, deus do vinho. As “bacantes” eram as mulheres que participavam dos ritos orgiásticos, chamados “bacanais”.

Na Idade Média, os cristãos passaram a festejar a véspera da quarta-feira de cinzas, quando começava a Quaresma, os 40 dias de penitência antes da Páscoa, durante os quais era proibido comer carne. Na Terça Feira Gorda e no fim de semana que a precedia, os devotos de Cristo se esbaldavam em comer “polpette” (almôndegas), tomar vinho, dançar desenfreadamente, usando máscaras, para que as pessoas não fossem identificadas.

Ao longo da história do Ocidente, o carnaval passou a revestir-se de características próprias, conforme o tempo e o lugar. Na Europa, o melhor carnaval é o de Veneza, famoso pelo desfile e baile das máscaras. No Brasil, sem dúvida, o Rio de Janeiro apresenta a melhor festa carnavalesca, apreciada no mundo inteiro, pelo desfile dos carros alegóricos, ultimamente num espaço fixo e apropriado, o Sambódromo.

FORA DA LEI E DAS REGRAS

Em suas origens, o carnaval era uma forma de espetáculo sincrético, de caráter ritual, onde não havia separação entre atores e espectadores, sendo vivido por todos. Durante a época carnavalesca ocorria uma suspensão das leis sociais, das interdições morais, das regras normais de vida. Anulava-se a diferença de classes e de sexos, a hierarquia, a etiqueta, e se estabelecia uma nova forma de relações inter-humanas, fundada no contato livre e familiar entre todos, sem medo de sanções.

Esse sentido do carnaval ainda persiste na cultura de nações modernas A língua italiana tem uma expressão que define bem essa liberdade: “Nel Carnevale, tutto vale (no carnaval, vale tudo)”, cujo equivalente em português pode ser encontrado nos versos de uma marchinha carnavalesca: “Não me leve a mal, hoje é Carnaval”.

Entre os atos carnavalescos, que legitimam o mundo às avessas, o mais importante é o rito da “entronação” bufonesca do Rei do carnaval. Nas Saturnálias romanas elevava-se ao trono um escravo, que era servido e venerado por seus patrões. O ato ambivalente significava a relatividade de toda estrutura social, a elevação e a queda do ídolo, a profanação do sagrado, a paródia dos valores sociais. Na percepção carnavalesca do mundo são exaltadas contradições e misturas: a conjunção do masculino e do feminino, do sagrado e do profano, do alto e do baixo, do belo e do feio, do sublime e do vulgar.

NO ANONIMATO

A identidade dos contrários e a não-identificação da pessoa são facilitadas pelo uso da máscara ou da pintura do corpo com cores berrantes. Predomina o vermelho, a mesma cor do fogo e do sangue, símbolo universal do princípio da vida e da força. Junto com a cor vermelha, nos folguedos do carnaval é prestigiada a gordura, símbolo da riqueza e da abundância. O rei Momo é geralmente configurado como uma pessoa gorda, de faces rosadas, com um largo sorriso de prazer satisfeito.

Usando termos da psicanálise, nos dias de carnaval, o “id”, a força do instinto de que fala Freud, acaba se sobrepondo ao “superego”, que controla a vida cotidiana, liberando o uso do álcool e de roupas extravagantes, a nudez e a libido. O espírito carnavalesco ou “dionisíaco”, conforme a dicotomia apolíneo/dionisíaco, estabelecida por Nietzsche, está presente em quase todas as formas de arte, especialmente na Literatura.

(artigo enviado por Sergio Caldieri)

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