sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Classe média latino-americana progride, mas segue vulnerável, diz OCDE

Apesar de a classe média da América Latina estar crescendo e começar a ser um motor para o desenvolvimento, ela continua sendo economicamente vulnerável se comparada à dos países ricos, afirma a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em relatório divulgado nesta sexta-feira.
“A classe média latino-americana está confrontada com sérios obstáculos em termos de poder de compra, de educação e de estabilidade no emprego. Esse grupo ainda tem um longo caminho a percorrer para ser comparável às classes médias das economias mais ricas”, diz Ángel Gurria, secretário-geral da OCDE.
O estudo Perspectivas Econômicas da América Latina 2011 ressalta que o emprego informal é muito elevado nessa camada da população no continente.
Em todos os países latino-americanos, com exceção do Chile, a classe média possui mais trabalhadores informais do que registrados, segundo a OCDE.
Como a informalidade está ligada a uma baixa proteção social, “menos da metade desses trabalhadores da classe média se beneficiará de uma cobertura adequada de segurança social na velhice ou quando perder o emprego”, afirma o relatório.
“Poucos chefes de família da classe média na América Latina têm diploma universitário, e muitos são trabalhadores informais e correm o risco de cair na pobreza se perderem o emprego ou ficarem doentes”.
No Brasil, 52% dos trabalhadores da classe média não pagam contribuições previdenciárias, segundo números de 2006 divulgados no relatório. No Chile, esse número atinge 39% e, na Bolívia, 95%.
As taxas de cobertura social de trabalhadores informais da classe média “são extremamente limitadas” e se situam abaixo de 15% em países como Brasil, México e Chile.
Proteção social
A OCDE alerta que os governos latino-americanos devem agir para que as classes médias não caiam na precariedade e recomenda três medidas: a ampliação da proteção social, o estímulo da mobilidade social por meio da educação e a melhoria da qualidade de serviços públicos, como a educação e a saúde.
A organização afirma que existe, em princípio, uma relação direta entre uma classe média relativamente grande e próspera e o crescimento econômico a longo prazo, maior igualdade social e redução da pobreza.
“No entanto, o alto nível de emprego informal, a baixa cobertura dos programas de proteção social e os recursos fiscais limitados para melhorar os serviços públicos podem anular esses benefícios potenciais na América Latina”, diz a OCDE.
Para a organização, se a classe média possui renda precária e emprego instável, não será possível contar com o consumo dessa faixa da população para estimular o desenvolvimento econômico, e seu crescimento não pode ser considerado como sinal de progresso social. BBC Brasil