segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Cientistas relatam avanços para reverter envelhecimento

Cientistas vêm, pouco a pouco, desvendando os segredos do envelhecimento. Alguns deles sugerem que poderão desenvolver, em breve, tratamentos para reduzir a velocidade ou mesmo reverter o processo.

Isso já feito em camundongos em 2010 por uma equipe do Instituto do Câncer Dana-Farber, em Boston (EUA), segundo um estudo divulgado na revista científica "Nature".

Os pesquisadores manipularam cromossomos presentes nos núcleos de todas as células. O alvo principal da ação era a proteção dos telômeros --estruturas presentes nas extremidades dos cromossomos que protegem os cromossomos de possíveis danos, mas também diminuem de tamanho com a idade, até que as células não conseguem mais se reproduzir.

A equipe do professor Ronald DePinho manipulou as enzimas que regulam os telômeros, as telomerases, obtendo resultados significativos. Com o estímulo às enzimas, os camundongos pareciam fazer o relógio biológico "andar pra trás".

"O que esperávamos era uma estabilização do processo de envelhecimento, mas ao contrário, observamos uma reversão dos sinais e sintomas de envelhecimento", disse ele à BBC.

"Os cérebros destes animais cresceram em tamanho, aumentaram sua cognição, suas peles ganharam mais brilho e a fertilidade foi restaurada".

HUMANOS

Obviamente, aplicar estes princípios em humanos será um desafio bem maior --as telomerases já foram ligadas à incidência de câncer.

Muitos acreditam que as mitocôndrias possam desempenhar um papel bem maior no processo de envelhecimento. As mitocôndrias 
--material genético contido na célula, mas fora do núcleo-- são as "usinas de energia" das células, mas também geram produtos químicos que estão ligados ao envelhecimento. Há ainda a participação de radicais livres --moléculas ou átomos altamente reativos que atacam o corpo humano.


Apesar de estarmos apenas começando a compreender como funciona o envelhecimento, alguns cientistas já testam tratamentos em humanos.

O professor David Sinclair é pesquisador de um laboratório especializado em envelhecimento da escola de Medicina da Universidade de Harvard. Ele e seus colegas vêm trabalhando em uma droga sintética chamada STACs (sigla de "Sirtuin Activating Compounds").

Estudos em camundongos obesos indicam que as STACs podem restaurar a saúde e aumentar a expectativa de vida dos animais, e os testes em humanos estão em andamento.

Há também pesquisas sobre o resveratrol, um antioxidante encontrado naturalmente no vinho tinto, que indicam que ele reduz o colesterol.

"[As pesquisas] não são uma desculpa para comer batata frita o dia todo em frente à TV, mas uma forma de aumentar o modo de vida sadio e explorar as potencialidades de um corpo saudável", diz Sinclair.

QUESTÕES ÉTICAS

Mas é correto fazer experiências em algo tão fundamental como envelhecer? Quais são as questões éticas envolvidas?

O professor Tim Spector, do hospital Kings College em Londres, que também faz pesquisas na área, diz que o foco não é aumentar a duração da vida, mas prolongar a saúde.

"Não interessa muito prolongar a vida se isto significa que você terá tanta artrite, por exemplo, que não poderá sair de casa", comenta. "Mas ao entender o processo de envelhecimento, podemos ajudar no combate a artrite, diabetes, doenças cardíacas, todas os males ligados ao envelhecimento".

Já o professor James Goodwin, do programa Age UK de amparo à terceira idade do governo britânico, diz que a questão levantada pelas pesquisas é se seus resultados vão ser acessíveis a todos ou apenas aos mais ricos. "Será que todos vão poder se beneficiar desta tecnologia?", questiona. BBC Brasil