quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Compras de dólares pelo BC somam US$ 41,4 bi em 2010, quase o dobro do ano anterior

O Banco Central comprou US$ 41,4 bilhões no mercado de câmbio no ano passado para tentar segurar a alta em 2010. As intervenções superam o valor que entrou no país no período por meio de operações financeiras e comerciais, de US$ 24,3 bilhões. Nesse mesmo período, a taxa cambial passou de R$ 1,74 para R$ 1,66.

A maior parte das compras foi feita em setembro (US$ 10,8 bilhões), mês em que a oferta de ações da Petrobras atraiu muitos investidores estrangeiros.

Em dezembro, o BC comprou US$ 2,1 bilhões, apesar do fluxo negativo de US$ 1,9 bilhão. Oficialmente, as compras de moeda feitas pela autoridade monetário têm objetivo formas as reservas internacionais do país. Na prática, também funcionam como um "freio" informal para o recuo das cotações. Profissionais do setor de câmbio acreditam que, sem o BC na "ponta compradora", os valores da taxa de câmbio seriam ainda mais baixos.

As reservas internacionais do Brasil terminaram o ano de 2010 em US$ 288,6 bilhões. Isso representa um aumento de 20,7% em relação aos US$ 239 bilhões verificados um ano antes. Em relação ao começo do governo Lula, quando as reservas eram de US$ 37,7 bilhões, o aumento foi de 665%.

FLUXO

O Brasil registrou em 2010 um saldo positivo recorde de US$ 26 bilhões no fluxo de dólares destinados a operações financeiras no país, segundo dados do Banco Central. Em 2009, recorde anterior, foram US$ 18,8 bilhões.

O número é a diferença entre os dólares que entraram e saíram do país nesse período. Entram nessa conta, por exemplo, operações de investimento estrangeiro, diretos ou no mercado financeiro, remessas de lucros, gastos com viagens e despesas com serviços no exterior.

Ficam de fora apenas as operações de comércio exterior, importações e exportações, que no ano passado geraram um resultado negativo de US$ 1,65 bilhão. É o primeiro resultado negativo desde 1997. Essa conta inclui também contratos de câmbio e não corresponde aos números divulgados pelo governo sobre a balança comercial.

Na soma das duas contas, a entrada de dólares no país superou a saída em US$ 24,3 bilhões em 2010, abaixo dos US$ 28,7 bilhões verificados em 2009, por conta da piora no saldo comercial.

MANTEGA

Ontem, o ministro Guido Mantega (Fazenda) afirmou que o governo está preocupado com a desvalorização da taxa de câmbio, que pode afetar a balança comercial, mas não adiantou medidas diretas para conter a queda das cotações.

"A desvalorização do dólar merece a nossa atenção, pois prejudica nossas exportações, apesar de termos fechado o ano melhor do que as análises esperavam, com saldo comercial de quase 20 bilhões", afirmou o ministro. A situação de desvalorização do dólar (chamado de "derretimento") acontece também em relação a outras moedas.

O ministro afirmou que "o governo está pronto para tomar medidas para impedir que essa valorização do real prossiga". Entre elas, o já famoso corte nos gastos públicos, principal pressão que Dilma enfrentará no começo de seu governo. Folha Online